Espreitando a emergência da Modelagem Matemática na Educação Matemática
DOI:
https://doi.org/10.5965/2357724X08172020017Palavras-chave:
Modelagem Matemática, Currículo, Aprendizagem, Ensino, EmergênciaResumo
O presente artigo tem por objetivo analisar quais foram as condições de possibilidade para que o discurso da Modelagem Matemática emergisse na Educação Matemática brasileira. Para isso, lançou-se mão de aportes teórico-metodológicos vinculados às teorizações do filósofo Michel Foucault. O material analítico abrange teses e dissertações defendidas no Brasil no período entre os anos de 1976 e 1999, as quais tematizaram a Modelagem Matemática na Educação Matemática. A análise desses estudos evidenciou que a emergência do discurso da Modelagem ocorre em meio a uma crise no ensino de Matemática. Essa crise foi problematizada, no presente artigo, a partir do seguinte enunciado: “Os alunos têm dificuldade na aprendizagem da Matemática”. A dificuldade na aprendizagem de Matemática é justificada pelo argumento de que os alunos não teriam base, uma vez que não aprenderam os conteúdos ensinados nos anos anteriores. Tal asserção evidencia as noções de norma, ordem, sequência e hierarquia dos conteúdos matemáticos. Sendo assim, a emergência do discurso da Modelagem operaria um deslocamento na maquinaria curricular. Ou seja, as práticas seriam guiadas pela contingência, pelo caos em detrimento da ordem, da hierarquia, da sequência e da norma. Porém, ela não criaria fissuras ou trincas no discurso curricular; pelo contrário, legitimaria a busca por táticas efetivas que incidam positivamente no processo de ensino e aprendizagem. Desta forma, a Modelagem funcionaria como uma engrenagem na busca pelo melhor funcionamento daquilo que está posto em termos de Educação Matemática no país.
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