Problematizando “o perigo de uma história única” na formação universitária: contribuições das intelectualidades negras
DOI:
https://doi.org/10.5965/19847246252024e0116Palabras clave:
intelectuais negras, universidade, formação de professores/as, decolonialidade, currículoResumen
No Brasil, a população negra representa um dos grupos mais atingidos pela vulnerabilidade socioeconômica e por diversas formas de violência perpetradas institucional e culturalmente, muitas das quais com conivência do Estado. Parte desse contexto, a inclusão-excludente e a exclusão educacionais que atingem milhões de negros/as brasileiros/as são processos que precisam ser mais bem compreendidos e combatidos. No presente artigo, entende-se que as intelectualidades negras podem contribuir nesse sentido de diferentes maneiras. O enfoque analítico aqui privilegiado volta-se à problematização das possíveis causas e efeitos da ausência/presença, no currículo das disciplinas de graduação e pós-graduação das universidades brasileiras, de produções de intelectuais negras como Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez, bell hooks, Conceição Evaristo, Nilma Lino Gomes, Chimamanda Adichie, entre tantas outras. O estudo descrito alicerçou sua fundamentação teórica principalmente na epistemologia feminista negra, tendo sido utilizadas, como parte do desenho metodológico, estratégias de natureza etnográfica (observação participante e registro de narrativas orais produzidas por estudantes no contexto de sala de aula), além de pesquisa bibliográfica. Foi possível constatar a importância de a universidade assumir, no presente e no futuro, um papel ativo no combate aos mecanismos que, em seu interior e na sociedade mais ampla, deslegitimam os/as negros/as como sujeitos de conhecimento.
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