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Diversidade, Inclusão e Interseccionalidade na moda (V. 18 N. 44)



Recentemente, as políticas voltadas para D&I (Diversidade e Inclusão) ganharam destaque no mundo dos negócios como um todo, com a criação de departamentos específicos para gerenciar essas ações nas organizações. A indústria da moda, notoriamente, tomou a dianteira neste processo, com a promoção e intensificação de debates acadêmicos e mercadológicos sobre Diversidade e Inclusão. Partimos do entendimento de que diversidade significa representatividade no que diz respeito, por exemplo, à raça, gênero, cor, classe social, faixa etária, entre outros marcadores identitários, enquanto inclusão se refere a um conceito mais amplo, que sugere a construção de um ambiente em que diversos indivíduos estão juntos para formar o coletivo. Conforme reflexão em relatório sobre Diversidade e Inclusão na Indústria da Moda na América do Norte (CFDA & PVH, 2019) “Se a diversidade é a linha, então a inclusão é a agulha”.
               Identificamos, nos últimos anos, várias ações de marketing voltadas para atender públicos diversos, os quais se encontravam até então à margem do consumo massivo (AIRES, 2019). Entre eles, pessoas na terceira idade, LGBTQIAPN+, transexuais, deficientes físicos, gordos, pretos etc. Chamamos atenção também para uma perspectiva importante a ser considerada, a interseccionalidade, conceito que surge para “especificar as formas distintivas de opressão experimentadas por aqueles que intersectam identidades” (CARBADO, 2013, p. 813, tradução nossa).
               Neste sentido, vêm sendo veiculadas campanhas publicitárias de marcas de moda que apresentam modelos com estéticas corporais distintas do que é considerado padrão nas sociedades Ocidentais – o corpo branco, jovem, magro e caucasiano, recorrentemente presente na esfera midiática nas últimas décadas. Assim, “na tentativa de chamar a atenção de público consumidor ávido por representações mais acuradas da realidade social, marcas constroem discursos publicitários repletos do signo da diversidade” (CARREIRA & TORQUATO, 2020, p.86). Além disso, algumas marcas têm comercializado artigos com design ergonômico, pensados especialmente para atender a uma necessidade específica, por exemplo roupas adaptadas para pessoas paraplégicas.
          Entretanto, devemos ter muita cautela ao comemorar uma possível transformação no cenário fashion internacionalmente. A maior parte das marcas não consegue realizar ações amplas e integradas, abrangendo seu público interno e externo, voltadas para inclusão de fato, pois isso só́ seria possível com a adoção de medidas abrangentes, que perpassassem todos os departamentos da empresa, indo desde a contratação de pessoal identificado como pertencente a grupos da diversidade e a instalação de banheiros agênero, dentre outras.
          Portanto, para ser considerada verdadeiramente inclusiva uma organização deve adotar uma série de medidas para o desenvolvimento de uma cultura inclusiva, o que sugere trabalhar com a Diversidade como um valor. No entanto, as atuais políticas praticadas para Diversidade e Inclusão (D&I) na Indústria da Moda em âmbito global, parecem estar focadas em trazer visibilidade para a diversidade corporal (especialmente no que diz respeito à raça, tamanho e gênero, ou em perspectiva interseccional), nas capas de revistas, nos anúncios das marcas e nos palcos dos desfiles, o que é um inegável avanço, mas a inclusão efetiva nos âmbitos social, cultural e mercadológico fica em segundo plano, como mostra o resultado de alguns relatórios importantes sobre o estado das políticas de D&I na Indústria da Moda. 
              Em 2019 e 2021, a CFDA (Council of fashion designer of America) uniu-se à PVH (Conglomerado Phillips Van Heusen), proprietário de marcas como Calvin Klein e Tommy Hilfiger, para produzir uma pesquisa com o objetivo de explorar o tema da diversidade e inclusão no setor da moda na América do Norte, divulgando o resultado em dois relatórios. No primeiro (2019), abordou idade, sexo, raça, etnia e orientação sexual dos trabalhadores da indústria da moda, chamando atenção para a falta de representatividade das minorias nos cargos de alto escalão.
               No segundo relatório, divulgado em 2021, foram entrevistados cerca de 1.000 empregados da indústria da moda na América do Norte. Quase 60% deles afirmam que a empresa onde trabalham adotou medidas internas ou externas voltadas a fomentar Diversidade e Inclusão, e quatro a cada cinco acreditam que essas medidas partem de um interesse autêntico. No entanto, 50% dos entrevistados negros, latinos e asiáticos afirmam que uma carreira na indústria da moda não é igualmente acessível a todos, assinalando dificuldades que enfrentam para se manter profissionalmente na indústria e um em cada quatro questionam a meritocracia das oportunidades.
             A McKinsey & Company (2020) realizou amplo estudo sobre o estado da diversidade corporativa em diversos setores na América Latina. De acordo com Castilho (2020), o estudo apontou que empresas que adotam a diversidade tendem a superar outras em práticas-chave de negócios como inovação e colaboração, o que se traduz tanto em uma saúde organizacional mais sólida quanto em resultados, pois elas têm uma probabilidade significativamente maior de alcançar uma performance financeira superior à de seus pares que não o fazem. Porém, os grupos minoritários continuam significativamente sub-representados no âmbito corporativo na América Latina, onde apenas 11% dos executivos são mulheres – e mais da metade de todas as empresas na região não têm mulheres em suas equipes executivas (CASTILHO, 2020).
         O resultado de tais relatórios mostra o quão complexa e ambígua é a discussão sobre políticas voltadas para D&I (Diversidade e Inclusão) na indústria da moda, e evidencia, principalmente, o quanto devemos avançar nestes estudos, que são de fundamental importância para um direcionamento mais democrático e inclusivo da indústria da Moda. Assim, buscamos artigos que apresentem estudos e abordagens interdisciplinares, mobilizando saberes de diferentes campos, tais como Sociologia, Antropologia, Psicologia, Comunicação, Mídia, Moda e Consumo, contemplando, mas não se limitando, aos seguintes tópicos:

- Abordagens acerca de nichos de mercado específicos: moda evangélica, plus size, afro, indígena, agênero, étnica, LGBTQIAPN+, entre outras.
- Estudos que explorem em perspectiva interseccional os marcadores identitários (exemplo: intersecções entre raça, classe e tamanho) na indústria da moda.
- Formação de estereótipos na e pela moda.
- Aspectos históricos sobre corpos diversos e como se vestiam em contextos culturais distintos.
-  Estudos e perspectivas decoloniais na educação de moda: novas práticas, experiências e metodologias.
- Discussões sobre inclusão performática, apropriação cultural e diversity washing em ações de comunicação voltadas para D&I na esfera da moda.
- A marginalização de corpos diversos e padronização corporal na literatura relacionada à moda em âmbito global.
- Dimensão política da moda na abordagem à diversidade e inclusão.
- Movimento body positive e ativismos online e offline.
- Representações e discursos acerca do corpo diverso na esfera midiática da moda.
- Políticas de D&I (Diversidade & Inclusão) nos ambientes interno e externo de organizações de moda e avaliação de seus resultados.
- Pluridiversidade em iniciativas voltadas para inclusão na Indústria da Moda na América Latina.
- História de marcas de moda (Ocidentais ou não), que abordem diversidade e inclusão.
- Design ergonômico e desenvolvimento de métodos voltados para produzir vestuário adaptado a grupos de consumidores com necessidades específicas.
- Comportamento de grupos de consumidores diversos (terceira idade, LGBTQIAPN+, transexuais, deficientes físicos, gordos, negros etc.) no que diz respeito ao consumo de moda.
-  Experiência de consumo inclusiva no espaço físico das lojas e/ou feiras de moda.

Referências

AIRES, Aliana. De gorda a plus size: a produção biopolítica do corpo nas culturas do consumo - entre Brasil e EUA. Tese (Doutorado em Comunicação e Práticas de Consumo) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo, Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), São Paulo, 2019.

CARRERA, F.; TORQUATO, C. Diversitywashing: as marcas e suas (in)coerências expressivas. Comunicação Mídia e Consumo, [S. l.], v. 17, n. 48, p. 84–107, 2020. Disponível em: https://revistacmc.espm.br/revistacmc/article/view/2069. Acesso em: 3 jul. 2023.

CARBADO, Devon W. Colorblind intersectionality. Signs: Journal of Women in Culture and Society, Chicago, v. 38, n. 4, p. 811-845, 2013. Acesso em: 3 jul. 2023.

Relatórios online

PVH & CFDA. “Insider/Outsider”: Inclusion & Diversity in the American Fashion Industry. EUA, 2019. Relatório disponível em: https://www.pvh.com/-/media/Files/pvh/responsibility/CFDA-PVH-2019-ID-Briefing.pdf. Acesso em 20/03/23.

PVH & CFDA. State of Diversity, Equity, and Inclusion in Fashion. EUA, 2021. Relatório disponível em: https://www.pvh.com/-/media/Files/pvh/news/PVH-CFDA-State-of-Diversity-Equity-and-Inclusion-in-Fashion.pdf. Acesso em 20/03/23.

CASTILHO, Paula. Diversity Matters: América Latina. McKinsey, 2020. Relatório disponível em: https://www.mckinsey.com/br/our-insights/diversity-matters-america-latina. Acesso em 20/03/23.

Organizadores:
Drª. Aliana Barbosa Aires (Universidade Federal do Piauí) 

Professora efetiva no curso de Design de Moda da UFPI. Doutora e Mestre pelo Programa de pós-graduação stricto sensu em Comunicação e Práticas de Consumo na ESPM - SP.Foi bolsista CAPES/PROSUP no Mestrado e Doutorado. Atua como pesquisadora no Grupo de Pesquisa em Comunicação, Discursos e Biopolíticas do Consumo da ESPM. Fez Doutorado-Sanduíche na NEW SCHOOL PARSONS em Nova York, pelo período de 9 meses, com bolsa CAPES-PDSE, onde atou como visiting scholar e investigou a Moda Plus SizeFoi coordenadora da pós-graduação latu sensu em Moda, Varejo e Comportamento do Consumidor desde outubro de 2020 e professora no Curso de Design de Interiores e Arquitetura do Instituto Camillo Filho (ICF). Ministrou disciplinas em Pós- Graduações Latu Sensu em São Paulo no Senac Lapa Faustolo (Gestão de Moda e Produção, Styling e Imagem), no IED (Fashion Marketing) e na Belas Artes (Consultoria de Imagem), e no Piauí na Uninovafapi (Gestão e Styling de Moda ) e na FAR (Moda, Cultura e Mercado).

Drª. Josenilde S. Souza (Belas Artes)

Doutora (2023) e mestre (2011) em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi professora e coordenadora da pós-graduação do Centro Universitário Senac ( 2013-2023) e coordenou o curso de extensão em coolhunting (2012-2018), foi professora da Escola Panamericana -SP (2010-2018), FMU ( 2007-2012), IED, Santa Marcelina ( convidada), Anhembi ( convidada) e FAAP ( convidada) dentre outras. Desde 2011, atua no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo onde é professora e coordenadora da Pós-graduação de Consultoria de Imagem, Pós Graduação em Moda e Mercado, Pós Graduação em Artes Cênicas ( EAD)e da Pos em Produção de Moda e Styling ( EAD) além de leciona nas graduações: Publicidade, Cinema, Relações Públicas, Teatro e Jornalismo e nos cursos de Mídias Sociais e Fotografia. No Centro Universitário Belas Artes-SP, participo da Iniciação Cientifica, orientações,cursos livres, extensões e da agência Cápsula. Acumula experiências nacionais e internacionais nas áreas de cultura: artes, cinema e teatro (1994-2006) e atuar no campo de pesquisa nos seguintes temas: cultura, moda, styling, beleza,fotografia, imagens, criatividade, performance, cinema, diversidade, criatividade, comunicação, espaço, cidade, beleza, corpo e estética. Foi consultora do pprojeto Moda Periférica para a Fábrica de Cultura -SP. Proprietária da Galeria do Conhecimento @galeriadoconhecimento onde atua como Consultora de Imagem e Estilo e mentora.

Submissão: 12/01/2024 a 31/07/2024 
Publicação: janeiro de 2025