Reflexões em torno dos tecidos africanos como instrumentos da luta antirracista

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/1808312915252020e0040

Palavras-chave:

Moda e arte, Tecidos-África, Pano da costa, Pano adinkra, Relações étnicas, Antirracismo

Resumo

O presente artigo objetiva compreender o modo como os tecidos africanos podem ser instrumentos das lutas antirracistas na sociedade brasileira. De modo específico, as reflexões conduzidas ao longo do artigo foram calcadas no Ofi/Pano da costa, no Adinkra e no Wax, três tecidos que remetem à África e que possuem significativa importância no Brasil enquanto repertório simbólico e identitário das pessoas negras. Como subterfúgio metodológico, vale dizer que a pesquisa possui uma abordagem qualitativa, na qual foram conduzidas três entrevistas em profundidade com sujeitos africanos, atualmente residentes no Brasil, que conhecem os tecidos e envolvem-se ativamente na difusão desses itens no Brasil. De um modo geral, os resultados do artigo apontam para o rico repertório simbólico, identitário e cultural que circundam os tecidos africanos, numa dinâmica em que os usos desses tecidos (re)conectam os sujeitos negros da diáspora às filosofias ancestrais e tradições culturais do povo africano. Portanto, os significados e usos dos tecidos representam importantes ferramentas para práticas decoloniais e antirracistas, (re)valorizando os múltiplos legados dos povos africanos.

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Biografia do Autor

Julia Vidal, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ)

Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Étnico-Raciais (PPRER) do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ), no Rio de Janeiro/RJ. É designer de moda e professora do Instituto Europeu de Design (IED), no Rio de Janeiro/RJ. Possui experiência e interesse nas seguintes temáticas: moda afro-brasileira e indígena; cultura; estudos étnico-raciais.

Dyego de Oliveira Arruda, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ)

Doutor em Administração de Organizações pela Universidade de São Paulo (USP). Realizou estágio de pós-doutorado, na área de Administração, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Atualmente é professor do quadro permanente do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ), lecionando em cursos de graduação e no Programa de Pós-Graduação (nível mestrado acadêmico) em Relações Étnico-Raciais (PPRER) da instituição. Possui experiência e interesse nas seguintes temáticas: políticas públicas e ações afirmativas; cultura de consumo; estudos étnico-raciais.

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Publicado

2021-04-19

Como Citar

VIDAL, Julia; ARRUDA, Dyego de Oliveira. Reflexões em torno dos tecidos africanos como instrumentos da luta antirracista. DAPesquisa, Florianópolis, v. 16, p. 01–21, 2021. DOI: 10.5965/1808312915252020e0040. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/dapesquisa/article/view/17644. Acesso em: 20 dez. 2024.