Os corpos no rio Guandu: considerações sobre a formação de um imaginário social no terceiro quartel do século XX

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180315402023e0202

Palavras-chave:

Rio Guandu, extermínio, imaginário social, imprensa, cultura barasileira

Resumo

O presente artigo situa e problematiza o imaginário social que vincula o rio Guandu, na Baixada Fluminense, às práticas de extermínio. Diversos veículos da imprensa carioca reafirmam o uso comum desse rio como ponto de desova de cadáveres, permitindo a construção e a perenização de um imaginário social expresso em diversos bens culturais brasileiros, como a poesia, a crônica policial, o cinema, as artes plásticas e a música. Buscando uma compreensão sobre a formação histórica desse imaginário, foi realizado um levantamento de edições de três jornais cariocas no terceiro quartel do século XX junto à Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, compilando a produção de conteúdo com referências diretas a cadáveres no rio Guandu. A sistematização das informações mapeadas evidenciou três regiões de interesse, entre os anos de 1961 e 1964, que mereceram melhor atenção quanto à eventual formação de um imaginário social associando o Guandu às práticas de extermínio: o caso do “Assalto ao trem pagador”, a “Operação mata-mendigos” e caso dos “Vigilantes da Morte”.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Mariana Dias Antonio, Universidade Federal do Paraná

Doutora e mestra em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Rosane Kaminski, Universidade Federal do Paraná

Bolsista de Produtividade CNPq-PQ2. Pós-Doutora em Meios e Processos Audiovisuais (USP) e Doutora em História (UFPR). Professora Associada do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná (PPGHIS-UFPR), Professora Colaboradora do Mestrado em Cinema e Artes do Vídeo (CINEAV) da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). Email: rosanekaminski@gmail.com.

Referências

ALVES, José Cláudio Souza. Dos Barões ao extermínio: uma história da violência na Baixada Fluminense. 2. ed. Rio de Janeiro: Consequência, 2020.

AMANTE de “Nilo Peru” diz que ficou na miséria. Luta Democrática, Rio de Janeiro, p. 5, 07 jul. 1961. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/030678/19715. Acesso em: 29 ago. 2021.

AMARAL, Márcia Franz. Jornalismo popular. São Paulo: Contexto, 2006.

ANTONIO, Mariana Dias. Disparos na cena do crime: o Esquadrão da Morte sob as lentes do Ultima Hora carioca (1968-1969). São Paulo: Intermeios, 2019.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Elegia do Guandu. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 5, 02 nov. 1974. [Caderno B]. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/030015_09/113288. Acesso em: 29 ago. 2021.

ANTONIO, Mariana Dias. A “operação mata-mendigos” na Guanabara: representações e apropriações no jornal Ultima Hora, no Poder Legislativo, no Poder Judiciário, no teatro e no cinema. 2021. 547 p. Tese (Doutorado em História) − Setor de Ciências Humanas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2021.

ASSASSINADO “o 7º homem” do trem-pagador porque esbanjou milhões. Ultima Hora, Rio de Janeiro, p. 9, 24 jun. 1961. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/386030/69724. Acesso em: 29 ago. 2021.

BACZKO, Bronislaw. A imaginação social. In: LEACH, Edmund et al. Anthropos-homem. Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1985. v. 2. p. 298-332.

BARBOSA, Adriano. Esquadrão da morte: um mal necessário? São Paulo: Mandarino, 1971.

BARBOSA, Adriano; MONTEIRO, José. Do Esquadrão ao Mão Branca. Rio de Janeiro: Jaguaribe Gráfica e Editora, 1980.

BARBOSA, Marialva; ENNE, Ana Lúcia. O jornalismo popular, a construção narrativa e o fluxo do sensacional. ECO-PÓS, [s. l.], v. 8, n. 2, p. 67-87, ago./dez. 2005. Disponível em: https://revistaecopos.eco.ufrj.br/eco_pos/article/view/1109. Acesso em: 25 fev. 2022.

BRUNO, Antônio Adolfo Garboccci. Apresentação. In: TUBBS FILHO, Décio; ANTUNES, Julio Cesar Oliveira; VETTORAZZI, Janaina Silva (org.). Bacia hidrográfica dos Rios Guandu, da Guarda e Guandu-Mirim: experiências para a gestão dos recursos hídricos. Rio de Janeiro: INEA, 2012. p. 11-15.

COMPROVADAS as novas denúncias de UH: policiais reeditam chacina no Guandu. Ultima Hora, Rio de Janeiro, p. 8, 24 dez. 1963. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/386030/91987. Acesso em: 29 ago. 2021.

CORPO de menino crivado de balas no rio maldito, Ultima Hora, Rio de Janeiro, p. 8, 03 dez. 1963. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/386030/91605. Acesso em: 29 ago. 2021.

CORPO sem cabeça boiava no Guandu deixando pescadores aterrorizados. O Jornal, Rio de Janeiro, p. 19, 21 nov. 1965. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/110523_06/48124. Acesso em: 29 ago. 2021.

CRIMES insolúveis no misterioso Rio dos Mortos. O Jornal, Rio de Janeiro, p. 1, 20 fev. 1970. [2º Caderno]. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/110523_06/81960. Acesso em: 29 ago. 2021.

DECRETADA a prisão preventiva dos 4 assassinos dos mendigos em Itaguaí. O Jornal, Rio de Janeiro, p. 9, 29 jan. 1963. [2º Caderno]. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/110523_06/27752. Acesso em: 29 ago. 2021.

DOZE despojos humanos recolhidos no cemitério da polícia carioca! Ultima Hora, Rio de Janeiro, p. 12, 09 jan. 1963. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/386030/86226. Acesso em: 29 ago. 2021.

ENNE, Ana Lúcia. Imprensa e Baixada Fluminense: múltiplas representações. C-Legenda, [s. l.], n. 14, 2004. Disponível em: https://periodicos.uff.br/ciberlegenda/article/view/36726/21303. Acesso em: 25 out. 2021.

GOMES, Hélio. Medicina legal. 19. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1978.

GOMES, Márcia Valéria Alves. Do fato à notícia e ao filme: o assalto ao trem pagador. 2010. 144 p. Dissertação (Mestrado em Comunicação) − Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Bauru, 2010.

GOMES, Rogério Santos Daflon. Ribeirinhos urbanos: uma vida à margem do direito à moradia. 2016. 107p. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional) − Instituto de Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.

GUANDU transformado em cemitério de bandidos. Luta Democrática, Rio de Janeiro, p. 1, 26 jan. 1962a. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/030678/21159. Acesso em: 29 ago. 2021.

GUANDU - “Rio da Morte”: Encontrado 10.º Cadáver. Ultima Hora, Rio de Janeiro, p. 1, 06 jun. 1962b. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/386030/82821. Acesso em: 29 ago. 2021.

GUANDU, cemitério de bandidos: delegado diz que está cansado de levar culpa e prenderá matadores. O Jornal, Rio de Janeiro, p. 7, 04 jun. 1966. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/110523_06/124871. Acesso em: 29 ago. 2021.

GUNN, Alan. Essential forensic biology. 2. ed. West Sussex: Wiley-Blackwell, 2009.

KALIFA, Dominique. Os lugares do crime: topografia criminal e imaginário social em Paris no século XIX. Topoi, Rio de Janeiro, v. 15, n. 28, p. 287-307. 2014. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/2237-101X015028012. Acesso em: 09 fev. 2022.

KAMINSKI, Rosane. Arte e imprensa: cenas da violência no Brasil. In: KAMINSKI, Rosane; HONESKO, Vinícius; SEREZA, Luiz Carlos (org.). Artes & violências. São Paulo: Intermeios, 2020. p. 53-84.

LOUZEIRO, José. Assim marcha a família. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1965.

MELLO NETO, David Maciel. “Esquadrão da Morte”: genealogia de uma categoria da violência urbana no Rio de Janeiro (1957 – 1987). 2014. 175 p. Dissertação (Mestrado em Sociologia e Antropologia) − Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

MULHER de outra vítima confirma: depois dos mendigos a polícia continuou com a chacina. Ultima Hora, Rio de Janeiro, p. 8, 27 dez. 1963. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/386030/92017. Acesso em: 29 ago. 2021.

NILO Peru... Luta Democrática, Rio de Janeiro, ed. 2264, p. 2, 23 jun. 1961. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/030678/19608. Acesso em: 29 ago. 2021.

O GUANDU, rio da vida e da morte. O Jornal, Rio de Janeiro, p. 1, 23 ago. 1973. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/110523_06/114330. Acesso em: 29 ago. 2021.

O TESOURO do rio maldito. Luta Democrática, Rio de Janeiro, p. 8, 15-16 ago. 1965. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/030678/30955. Acesso em: 29 ago. 2021.

OLIVEIRA, Frederico Cícero Pereira de. Uma História do “Esquadrão da Morte”: Mitos, Símbolos, Indícios e Violência no Rio de Janeiro (1957- 1969). 2016. 173 p. Dissertação (Mestrado em História) − Faculdade de Formação de Professores, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, São Gonçalo, 2016.

OLIVEIRA, José Carlos de. Os mortos do rio Guandu. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 2, 29 mar. 1969. [Caderno B]. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/030015_08/131479. Acesso em: 29 ago. 2021.

PATARO, Oswaldo. Medicina legal e prática forense. São Paulo: Saraiva, 1976.

RIBEIRO, Amado; PINHEIRO JÚNIOR, José Alves. Esquadrão da Morte. Brasília: Editôra de Brasília, 1969.

RIBEIRO, Octávio. Barra pesada. São Paulo: Círculo do Livro, 1983.

RIBEIRO, Octávio. Algemas de carne. São Paulo: Círculo do Livro, 1986.

SOUZA, Percival de. A maior violência do mundo (Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil). São Paulo: Traço Editora, 1980.

SUMIDOUROS de vidas humanas continuam a vomitar cadáveres. Luta Democrática, Rio de Janeiro, p. 2, 30 ago. 1966. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/030678/33952. Acesso em: 29 ago. 2021.

TREM-PAGADOR: polícia exausta interrompe caça ao “Nortista”. Ultima Hora, Rio de Janeiro, p. 2, 1 jul. 1961. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/386030/69817. Acesso em: 29 ago. 2021.

Downloads

Publicado

2023-12-12

Como Citar

ANTONIO, Mariana Dias; KAMINSKI, Rosane. Os corpos no rio Guandu: considerações sobre a formação de um imaginário social no terceiro quartel do século XX. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 15, n. 40, p. e0202, 2023. DOI: 10.5965/2175180315402023e0202. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180315402023e0202. Acesso em: 24 nov. 2024.