História e inteligência artificial: metodologia, semântica das máquinas e atitude decolonial

Auteurs

DOI :

https://doi.org/10.5965/2175180317452025e0107

Mots-clés :

história digital, Inteligência Artificial, semântica das máquinas, decolonialidade, ética digital

Résumé

Este artigo analisa parte das transformações da historiografia diante da inteligência artificial e da sociedade digital. Inicialmente, discute-se a possível reconfiguração da consciência histórica e os desafios metodológicos impostos pelo advento das tecnologias digitais, questionando se a historicidade das máquinas pode equiparar-se em certa medida à experiência humana. Em seguida, explora-se a semântica das máquinas por meio da metáfora do “náufrago” (empregada por Rodrigo Bonaldo), que ilustra a constante falibilidade implicada no trabalho de historiadores programadores e daqueles que incursionam pelo digital. Por fim, o artigo aborda a decolonialidade e a ética na sociedade digital, criticando os modelos eurocêntricos presentes na escrita da história e na programação algorítmica. Defende, ainda, a integração de perspectivas decoloniais para uma historiografia crítica. O estudo, assim, convida a uma reflexão sobre como as novas tecnologias podem reconfigurar o entendimento do tempo, da memória e da decolonialidade na disciplina histórica.

 

Téléchargements

Les données relatives au téléchargement ne sont pas encore disponibles.

Biographie de l'auteur

Leandro Seawright, Universidade de São Paulo

Professor do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo FFLCH/USP. Docente do Programa de Pós-graduação em História Social - PPGHS/USP, atuando em duas linhas de pesquisa: História, Cultura e Poder e História da Cultura. Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo FFLCH/USP. Graduou-se em História e em Teologia. É coordenador do Núcleo de Estudos em História Oral - NEHO/USP. Foi Professor Adjunto da Universidade Federal da Grande Dourados - FCH/UFGD.

Références

AIROLDI, Massimo. Machine habitus: towards a sociology of algorithms. Cambridge: Polity, 2022.

ALBAINE, Marcella. Ensino de história e historiografia escolar digital. 2019. 232 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.

ASIMOV, Isaac. Robot. New York: Doubleday, 1950.

ASSUNÇÃO, Marcello Felisberto Morais de; TRAPP, Rafael Petry. É possível indisciplinar o cânone da história da historiografia brasileira? Pensamento afrodiaspórico e (re)escrita da história em Beatriz Nascimento e Clóvis Moura. Revista Brasileira de História, [São Paulo], v. 41, n. 88, p. 229-252, 2021.

BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, [Brasília, DF], n. 11, p. 89-117, 2013.

BARROS, José D’Assunção Barros. Revolução digital, sociedade digital e História. In: BARROS, José D’Assunção. História digital: a historiografia diante dos recursos e demandas de um novo tempo. Petrópolis: Vozes, 2022. p. 11 – 100.

BELIEIRO, Thiago Granja. Jamais fomos decoloniais: a crítica à história eurocêntrica na historiografia do ensino de História a partir das apropriações e interlocuções com as teorias pós-coloniais e o pensamento decolonial (2015-2024). Revista de Teoria da História, [Goiânia], v. 27, n. 2, p. 41-47, 2024.

BLOCH, Marc. Apologie pour l’histoire ou métier d’historien. Paris: Armand Colin, 1952.

BONALDO, Rodrigo Bragio. História mais do que humana: descrevendo o futuro como atualização repetidora da inteligência artificial. História (São Paulo), São Paulo, v. 42, e2023037, 2023. Disponível em: https://www.scielo.br/j/his/a/WbLs9ZhxbKKvD69smKVQ3Vh/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 2 abr. 2025.

BONALDO, Rodrigo Bragio. As palavras e os tokens: projeção vetorial aplicada ao estudo da semântica dos tempos históricos. Revista de Teoria da História, [Goiânia], v. 27, n. 1, p. 7-50, 2024a.

BONALDO, Rodrigo Bragio. Três vivas ao naufrágio: sobre a ascensão e queda das humanidades digitais. In: SESQUIM, Ilda Renata Andreata; PEREIRA, Luisa Rauter; RANGEL, Marcelo de Mello; RODRIGUES, Thamara de Oliveira; ARAUJO, Valdei Lopes de. Hoje, Teoria da História. Belo Horizonte: Fino Traço, 2024b. p. 139 – 152.

BONALDO, Rodrigo Bragio; PEREIRA, Ana Carolina Barbosa. Potential history: reading artificial intelligence from indigenous knowledges. History and Theory, [s. l.], v. 62, n. 1, p. 3-29, 2023.

BRASIL, Eric. pyHDB: ferramenta heurística para Hemeroteca Digital Brasileira. História da Historiografia, [Mariana], v. 15, n. 40, p. 186-217, 2022.

BRAUDEL, Fernand. História e ciências sociais: a longa duração. Revista de História, [São Paulo], v. 30, n. 62, p. 261-294, 1965.

CASTELLS, Manuel. The internet galaxy: reflections on the internet, business, and society. New York: Oxford University Press, 2001.

CASTELLS, Manuel. La nascita della società in rete. Milano: Università Bocconi, 2002.

CERRI, Luiz Fernando. Ensino de história e consciência histórica. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2011.

CERTEAU, Michel de. L’écriture de l’histoire. Paris: Gallimard, 1975.

CHAKRABARTY, Dipesh. The climate of history: four theses. Critical Inquiry, [s. l.], v. 35, n. 2, p. 197-222, 2009.

CHAKRABARTY, Dipesh. História e políticas de reconhecimento. Revista de Teoria da História, [Goiânia], v. 27, n. 2, p. 259-269, 2024.

CHALMERS, David J. Minds, machines, and mathematics: a review of Shadows of the Mind by Roger Penrose. Psyche, [s. l.], v. 2, n. 9, p. 11-20, 1995.

CHAUNU, Pierre. Histoire quantitative, histoire sérielle. Paris: Armand Colin, 1978.

CHUN, Wendy Hui Kyong. The enduring ephemeral, or the future is a memory. Critical Inquiry, [s. l.], v. 35, n. 1, p. 148-171, 2008.

CUNHA, Manuela Carneiro da. Introdução a uma história indígena. In: CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). Legislação indigenista no século XIX. São Paulo: Edusp, 1992. p. 9-24.

DELACROIX, Christian. As correntes históricas na França: séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2012.

DILTHEY, Wilhelm. Introduction to the human sciences. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1989.

DOMÁNSKA, Ewa. A história para além do humano. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2024.

FAUSTINO, Deivison; LIPPOLD, Walter. Colonialismo digital: por uma crítica hacker-fanoniana. São Paulo: Boitempo, 2023.

FEBVRE, Lucien. O homem do século XVI. Revista de História, [São Paulo], v. 1, n. 1, p. 3-17, 1950.

FLORIDI, Luciano. The 4th revolution: how the infosphere is reshaping human reality. Oxford: Oxford University Press, 2014.

FRISCH, Michael. A shared authority: essays on the craft and meaning of oral and public history. Albany, NY: State University of New York Press, 1990.

GIL, Tiago Luís. Sobre big data e neopositivismo digital na pesquisa em história. Almanack, [Guarulhos], n. 36, ep00124, 2024. Disponível em: https://www.scielo.br/j/alm/a/vbZwHsRnVdLBD7PWW9Qcjts/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 22 maio 2025.

GULDI, Jo. The dangerous art of text mining: a methodology for digital history. Cambridge: University Press, 2023.

HARTMAN, Saidiya. Vênus em dois atos. Revista Eco-Pós, [Rio de Janeiro], v. 23, n. 3, p. 12-33, 2020.

HARTOG, François. Tempo e patrimônio. Varia Historia, [Belo Horizonte], v. 22, n. 36, p. 261-273, 2006.

HARTOG, François. Regimes of historicity: presentism and experiences of time. New York: Columbia University Press, 2015.

HAYLES, N. Katherine. Approximating algorithms: from discriminating data to talking to an AI. History and Theory, [s. l.], v. 61, n. 4, p. 152-165, 2022.

HUI, Yuk. On the existence of digital objects. Minneapolis, MN: University of Minnesota Press, 2016.

KANSTEINER, Wulf. Digital doping for historians: can history, memory, and historical theory be rendered artificially intelligent? History and Theory, [s. l.], v. 61, n. 4, p. 119-133, 2022.

KOSELLECK, Reinhart. Kritik und krise: eine Studie zur pathogenese der bürgerlichen welt. Freiburg im Breisgau: Karl Alber, 1959.

KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2006a.

KOSSELLECK, Reinhart. Begriffsgeschichten: zur geschichte der denkformen. 2. ed. Hamburg: Felix Meiner, 2006b.

KOSELLECK, Reinhart. Introduction and prefaces to the geschichtliche grundbegriffe. Contributions to the History of Concepts, [s. l.], v. 6, n. 1, p. 1-37, 2011.

KOSELLECK, Reinhart. Estratos do tempo: estudos sobre história. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.

LACAPRA, Dominick. Understanding others: peoples, animals, pasts. Ithaca, NY: Cornell University Press, 2018.

LADURIE, Emmanuel Le Roy. Le territoire de l’historien. Paris: Gallimard, 1973. v. 1.

LANDSBERG, Alison. Prosthetic memory: the transformation of American remembrance in the age of mass culture. New York: Columbia University Press, 2004.

LÉVY, Pierre. O que é o ciberespaço? São Paulo: Ed. 34, 1995.

LUCCHESI, Anita. Conversas na ante-sala da Academia: o presente, a oralidade e a História Pública Digital. História Oral, [s. l.], v. 17, n. 1, p. 39-69, 2014.

MANOVICH, Lev. The language of new media. Cambridge, MA: The MIT Press, 2001.

MARINO, Taynna M. How should historians empathize? History and Theory, [s. l.], v. 63, n. 4, p. 43-64, 2024.

MAYNARD, Dilton Cândido Santos. Passado eletrônico: notas sobre história digital. Acervo, [Rio de Janeiro], v. 29, n. 2, p. 103-116, 2016.

MONTEIRO, John Manuel. O desafio da história indígena no Brasil. In: SILVA, Aracy Lopes; GRUPIONI, Luís Donizete Benzi (org.). A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília, DF: UNESCO, 1995. p. 221-236.

MUDROVCIC, María Inés. La trampa de las 'temporalidades múltiples': ¿se puede escribir sin cronología? Esboços, [Florianópolis], v. 30, n. 55, p. 358-368, 2023.

MUDROVCIC, María Inés. Conceptualizing the history of the present time. Cambridge: Cambridge University Press, 2024.

NASCIMENTO, Beatriz. Beatriz Nascimento, quilombola e intelectual: possibilidade nos dias da destruição. São Paulo: Filhos da África, 2018.

NICODEMO, Thiago Lima; CARDOSO, Oldimar. Metahistory for (ro)bots: historical knowledge in the artificial intelligence era. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, [s. l.], v. 12, n. 29, p. 17-52, 2019.

NICODEMO, Thiago Lima; ROTA, Alesson Ramon; MARINO, Ian Kisil. Introdução: das humanidades digitais à história digital. In: NICODEMO, Thiago Lima; ROTA, Alesson Ramon; MARINO, Ian Kisil. Caminhos da história digital no Brasil. Vitória: Milfontes, 2022. p. 5 – 29.

NOIRET, Serge. História pública digital. Liinc em Revista, [Brasília, DF], v. 11, n. 1, p. 28-51, 2015.

OLIVEIRA, Maria da Glória de. Quando será o decolonial? Colonialidade, reparação histórica e politização do tempo. Caminhos da História, [Montes Claros], v. 27, n. 2, p. 58-78, 2022.

PAUL, Herman. Weak historicism: on hierarchies of intellectual virtues and goods. Journal of the Philosophy of History, [s. l.], v. 6, n. 3, p. 369-388, 2012.

PAUL, Herman. A virtue ethics for historians: prospects and limitations. History and Theory, [s. l.], v. 63, n. 4, p. 3-22, 2024.

PEREIRA, Mateus Henrique de Faria; ARAUJO, Valdei Lopes de. Reconfigurações do tempo histórico: presentismo, atualismo e solidão na modernidade digital. Revista UFMG, [Belo Horizonte], v. 23, n. 1-2, p. 270-297, 2016.

PEREIRA, Mateus Henrique de Faria; ARAUJO, Valdei Lopes de. Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI. 2. ed. Vitória: Milfontes, 2019.

RANGEL, Marcelo de Mello; ARAUJO, Valdei Lopes de. Apresentação: teoria e história da historiografia – do giro linguístico ao giro ético-político. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, [s. l.], v. 8, n. 17, p. 318-332, 2015.

RICOEUR, Paul. Temps et récit. le temps raconté. Paris: Seuil, 1985. t. 3.

ROSENZWEIG, Roy. Clio wired: the future of the past in the digital age. New York: Columbia University Press, 2011.

ROTA, Alesson. Uso de la minería de datos como heurística para la teoría de la historia y la historia de la historiografía. Amoxtli, [s. l.], n. 7, p. 1-17, 2022.

RÜSEN, Jörn. Razão histórica. Teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Brasília, DF: Ed. UnB, 2001.

RÜSEN, Jörn. Geschichtskultur, bildung und identität: über grundlagen der geschichtsdidaktik. Berlin: Peter Lang Verlag, 2020.

SADDI, Rafael. Didática da história como sub-disciplina da ciência histórica. História & Ensino, [s. l.], v. 16, n. 1, p. 61-80, 2010.

SALOMON, Marlon. Heterocronias. In: SALOMON, Marlon. Heterocronias: estudos sobre a multiplicidade dos tempos históricos. Goiânia: Ricochete, 2018. p. 9-38.

SANTOS, Silmária Reis dos. Uma decolonialidade à brasileira: perspectivas decoloniais entre historiadores(as) no Brasil. 2024. 196 f. Tese (Doutorado em História Social) –Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2024.

SCOTT, Joan W. Border patrol. French Historical Studies, [s. l.], v. 21, n. 3, p. 383-397, 1998.

SHOPES, Linda. A evolução do relacionamento entre história oral e história pública. In: MAUAD, Ana Maria; ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; SANTHIAGO, Ricardo (org.). História pública no Brasil: sentidos e itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016. p. 71-84.

SILVA, Tarcízio. Racismo algorítmico: inteligência artificial e discriminação nas redes digitais. São Paulo: Ed. SESC, 2022.

SIMON, Zoltán Boldizsár. Posthuman history. In: SIMON, Zoltán Boldizsár. Bloomsbury History: theory and method. London: Bloomsbury, 2021. p. 1 – 28.

SIMONI, Alessandra Traldi; GUIMARÃES, Bruno Nogueira; SANTOS, Ricardo Ventura. “Nunca mais o Brasil sem nós”: povos indígenas no Censo Demográfico 2022. Caderno de Saúde Pública, [Rio de Janeiro], v. 40, n. 4, p. 1-5, 2024.

TANAKA, Stefan. History without chronology. Ann Arbor, MI: Lever Press, 2019.

TELLES DA SILVEIRA, Pedro. O que é uma ferramenta historiográfica? História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, [s. l.], v. 15, n. 40, p. 219-231, 2022.

TELLES DA SILVEIRA, Pedro. The counted time: technical temporalities and their challenges to history. History and Theory, [s. l.], v. 62, n. 3, p. 403-426, 2023.

TROUILLOT, Michel-Ralph. Silenciando o passado: o poder e produção da história. Curitiba: Huya, 2016.

VARELLA, Flávia Florentino. História pública na Wikipédia: estratégias do projeto Mais Teoria da História na Wiki. In: CASTRO, Rafael Dias de; RODRIGUES, Thamara de Oliveira (org.). História pública e teoria da história. São Paulo: Letra e Voz, 2024. p. 119-136.

VARELLA, Flávia Florentino; BONALDO, Rodrigo Bragio. Practices of popular science and digital curation in theory of history on the Portuguese edition of Wikipedia. In: BEVERNAGE, Berber; RAPHAEL, Lutz (org.). Professional historians in public. Berlin: De Gruyter, 2023. p. 271-295.

WILD ON COLLECTIVE. Theses on theory and history, [s. l.], 2018. Disponível em: http://theoryrevolt.com/. Acesso em: 11 mar. 2025.

Téléchargements

Publiée

2025-11-30

Comment citer

SEAWRIGHT, Leandro. História e inteligência artificial: metodologia, semântica das máquinas e atitude decolonial. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 17, n. 45, p. e0107, 2025. DOI: 10.5965/2175180317452025e0107. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180317452025e0107. Acesso em: 5 déc. 2025.