Meninas “da Vida”: a Funabem e as “artes de governar” as crianças e adolescentes em situação de rua

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180314362022e0204

Palabras clave:

menina, rua, Funabem, movimentos sociais

Resumen

No final da década de 1980, a Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor - Funabem publicava o relatório Meninas da Vida, que objetivava debater o atendimento às meninas em situação de rua. Partindo de uma lógica prescritiva, com o objetivo de circular nacionalmente, o documento trazia recomendações aos chamados educadores sociais que, para a autoria do relatório, eram os agentes responsáveis pelo atendimento sociopedagógicos dessas meninas. Nesse contexto, este artigo tem a finalidade de analisar o discurso das estratégias apresentadas para o atendimento às meninas nesse relatório, problematizando o conceito de “meninas da vida” e das “artes de governar” as crianças e adolescentes em situação de rua. Destaca-se que esse período foi marcado pela efervescência da redemocratização, do qual emergia o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, que questionava as legislações e políticas baseadas na lógica “bem-estar do menor”, trazendo uma proposta pedagógica de reconhecimento dessas meninas como protagonistas de suas histórias. Desse modo, pretende-se colocar em tela como as relações entre a Funabem e o Movimento foram criadas, destacando para além das fissuras, como a questão da menina/mulher passou a ser reconhecida como um problema de política social, haja vista que até o final da década de 1970 a maioria das políticas produzidas pelo Estado foram marcadas pelo “apagamento” da condição da menina-mulher, classificando-as genericamente como “menores”.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Humberto da Silva Miranda, Universidade Federal Rural de Pernambuco

Doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professor do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Rural de Pernambuco (PPGH/UFRPE).

Citas

AREND, Silvia Maria Fávero. Trabalho, escola e lazer. In: PINSKY, C.; PEDRO, Joana Maria. Nova História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2012, p. 63-83.

BRITO, Eleonora. Justiça e Gênero: uma história da Justiça de Menores em Brasília (1960-1990). Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2007.

BUTLER, Judith. Corpos em aliança e política de ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

BUTLER, Judith. Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

DAMINELLI, Camila Serafim. Uma Fundação para o Brasil jovem: Funabem, Menoridade e Políticas Sociais para infância e juventude no Brasil (1964-1979). 2019. 348 f. Tese (Doutorado em História)– Centro de Ciências Humanas e da Educação, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2019. Disponível em: < https://www.udesc.br/arquivos/faed/id_cpmenu/2551/Camila_Serafim_Daminelli_final_15833439835848_2551.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2021.

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

FRONTANA, Isabel. Crianças e adolescentes nas ruas de São Paulo. São Paulo: Edições Loyola, 1999.

FUNABEM – Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor. Meninas da Vida. Rio de Janeiro: Funabem, 1989.

GRACIANI, Maria Stela. Pedagogia Social de Rua. São Paulo: Cortez, 2009.

GREGORI, Maria Filomena. Viração: experiências de meninos de rua. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

LAVINAS, Lena. Gênero, cidadania e adolescência. In: MADEIRA, Felícia Reicher (org.). Quem mandou nascer mulher? Rio de Janeiro: Record; Rosa dos Tempos, 1997.

LEITE, Gabriela Silva. Eu, mulher da vida. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992.

MADEIRA, Felícia Reicher. Quem mandou nascer mulher? Rio de Janeiro: Record; Rosa dos Tempos, 1997.

MIRANDA, Humberto da Silva. Nos tempos das Febems: memórias de infâncias perdidas (Pernambuco/1964–1985). 2014. 348 f. Tese. (Doutorado em História)– Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2014. Disponível em: < https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/12383>. Acesso em: 12 nov. 2021.

PINSK, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria. Igualdade e especificidade. In: PINSK, Carla Bassanezi; PINSK, Jaime. História da cidadania. Rio de Janeiro: Contexto, 2003.

QUADRAT, Samantha Viz. Apresentação. In: QUADRAT, Samantha Viz. Não foi o tempo perdido: os anos 80 em debate. Rio de Janeiro: 7Letras, 2014.

SANTOS, Marco Antonio Cabral dos. Criança e criminalidade no início do século. In: DEL PRIORI, Mary (org.). História das Crianças no Brasil. 6 ed. São Paulo: Contexto, 2009, p. 210-230.

SILVEIRA, Diego Soares. Governamentalidades, saberes e políticas públicas na área de Direitos Humanos da criança e do adolescente. In: RESENDE, Haroldo. Michel Foucault: o governo da infância. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015, p. 57-83

SOIHET, Rachel. Mulheres pobres e violência no Brasil urbano. In: DEL PRIORE, Mary. História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2011. P. 362-400

VIANNA, Adriana de Resende. O mal que se adivinha: polícia e menoridade no Rio de Janeiro, 1910-1920. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1999.

Publicado

2022-06-24

Cómo citar

MIRANDA, Humberto da Silva. Meninas “da Vida”: a Funabem e as “artes de governar” as crianças e adolescentes em situação de rua. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 14, n. 36, p. e0204, 2022. DOI: 10.5965/2175180314362022e0204. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180314362022e0204. Acesso em: 21 nov. 2024.

Número

Sección

Infâncias e Juventudes: Perspectivas Transnacionais e Interseccionais