Do silenciamento ao artivismo: a presença indígena nos museus de história
DOI:
https://doi.org/10.5965/2175180316422024e0102Palavras-chave:
museu de história, Museu Histórico Nacional, Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro, arte indígena contemporânea, Denilson BaniwaResumo
Este artigo propõe uma reflexão sobre a presença indígena nos museus de história no tempo presente, analisando especialmente as exposições sobre indígenas no Brasil, inauguradas e inseridas no circuito de longa duração de dois museus na cidade do Rio de Janeiro: o Museu Histórico Nacional e o Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro, em 2023 e 2022, respectivamente. As duas experiências contaram com a curadoria compartilhada do artista indígena Denilson Baniwa. O foco nos museus de história tomou como referência a concepção de Ulpiano Bezerra de Meneses, para quem os objetos de museu devem ser tomados como documentos históricos, e o museu compreendido como parte constituinte da vida social. O artigo contextualiza os dois museus para, em seguida, analisar aspectos das referidas exposições, interrogando sobre uma possível virada decolonial nessas experiências, que se confrontam com a história dessas instituições, bem como com a narrativa hegemônica do restante das suas exposições de longa duração.
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