Famílias operárias mineiras e relações de gênero: a construção do feminino através de cursos populares na região carbonífera catarinense (1950-1960)
DOI:
https://doi.org/10.5965/2175180302022010021Palavras-chave:
relações de gênero, família, biopolíticaResumo
No auge de sua atividade mineradora, o município de Criciúma atraiu para suas minas de carvão milhares de pessoas que se deslocaram do litoral sul de Santa Catarina em busca de emprego na cidade. Sem experiências concretas com o mundo urbano e do trabalho, regulado pelo tempo e pela produtividade, estes novos habitantes foram apontados pelos empresários e pelas elites locais como responsáveis pela baixa produtividade do setor e pelos problemas médico-sanitários que afetavam cotidianamente a cidade. A fim de reverter esta situação, a Carbonífera Próspera S.A., o SESI-SC e a ordem religiosa das Pequenas Irmãs da Divina Providência, iniciaram um amplo processo de remodelação de suas práticas cotidianas, do qual a família, centrada na figura da mulher (esposa e mãe), foi o alvo principal. O modelo de feminilidade adotado pela ordem religiosa, hegemônico em boa parte da ocidentalidade, era aquele em que a mulher só encontraria realização e felicidade plena dentro do ambiente doméstico. Para dar conta de tal empreitada, foi desenvolvida uma série de cursos populares direcionados ao espaço doméstico, reforçando a imagem da mulher como esposa, dona-de-casa e mãe-de-família.
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