Famílias operárias mineiras e relações de gênero: a construção do feminino através de cursos populares na região carbonífera catarinense (1950-1960)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180302022010021

Palavras-chave:

relações de gênero, família, biopolítica

Resumo

No auge de sua atividade mineradora, o município de Criciúma atraiu para suas minas de carvão milhares de pessoas que se deslocaram do litoral sul de Santa Catarina em busca de emprego na cidade. Sem experiências concretas com o mundo urbano e do trabalho, regulado pelo tempo e pela produtividade, estes novos habitantes foram apontados pelos empresários e pelas elites locais como responsáveis pela baixa produtividade do setor e pelos problemas médico-sanitários que afetavam cotidianamente a cidade. A fim de reverter esta situação, a Carbonífera Próspera S.A., o SESI-SC e a ordem religiosa das Pequenas Irmãs da Divina Providência, iniciaram um amplo processo de remodelação de suas práticas cotidianas, do qual a família, centrada na figura da mulher (esposa e mãe), foi o alvo principal. O modelo de feminilidade adotado pela ordem religiosa, hegemônico em boa parte da ocidentalidade, era aquele em que a mulher só encontraria realização e felicidade plena dentro do ambiente doméstico. Para dar conta de tal empreitada, foi desenvolvida uma série de cursos populares direcionados ao espaço doméstico, reforçando a imagem da mulher como esposa, dona-de-casa e mãe-de-família.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ismael Gonçalves Alves, Federal University of Paraná

Doutorando em História, Programa de Pós-Graduação em História-UFPR

Referências

ÁLBUM/Relatório das atividades das pequenas Irmãs da Divina Providência. (1955-1957) – SESI – Criciúma/SC.

ALMEIDA, Janes Soares de. Ler asletras: por que educar meninas e mulheres? São Bernardo do Campo: UNIMEP; Campinas: Autores Associados, 2007.

ANTÔNIO Silva: Depoimento [02 de julho de 2008]. Entrevistador Ismael Gonçalves Alves. Criciúma: Acervo pessoal, 2008.

AREND, Silvia Maria Fávero.Relações de gênero e desigualdade em um Programa Social para a infância e juventude pobre (Florianópolis, Brasil década de 1930). In: Revista Otras Miradas. Vol. 7. N° 1. Enero - Junio 2007. Universidad de Los Andes. p. 97-113.

BASSANEZI, Carla. Mulheres dos anos dourados. In: DEL PRIORE, Mary (Org). Históriadas mulheres no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 1996.

BOA NOVA JUNIOR, Francisco de Paula. Problemas médicos–sociais da indústria carbonífera sul catarinense. Boletim no 95. Rio de Janeiro: DNPM, 1953.

CAROLA, Carlos Renato. Dos subterrâneos da História: as trabalhadoras das minas de carvão de Santa Catarina (1937-1964). 1997. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

CARVALHO, Vânia Carneiro de. Gênero e Artefato: o sistema doméstico na perspectiva da cultura material (1870-1920). São Paulo: Editora da USP/FAPESP, 2008.

COBBAN, F; HASSON, L. A; HEALD, G. H; O guia materno em casos de doença e emergência. Santo André: Casa Publicadora Brasileira, s/d.

COSTA, Cléria Botêlho & MACHADO, Maria Salete Kern (Orgs.). Imaginário e História. Brasília: Paralelo 15; São Paulo: Marco Zero, 2000.

COSTA, Jurandir Freire. Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Graal, 1989.

FONSECA, Cláudia. Ser mulher, mãe e pobre. In: PRIORE, Mary Del. História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 1996.

FREIRE, Maria Martha de Luna. ‘Ser mãe é uma ciência’: mulheres, médicos e a construção da maternidade científica na década de 1920. História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro, v.15, supl., jun. 2008. 153-171.

IRMÃ Luiza: Depoimento [05 de outubro de 2007]. Entrevistador Ismael Gonçalves Alves. Criciúma: Acervo pessoal, 2008. (Nome fictício para preservar a imagem da narradora).

LARSEN, Eirinn. Gender and welfare state. Maternalism – a new historical concept? In: http://www.ub.uib.no/elpub/1996/h/506002/eirinn.html.

LOWENTHAL, David. Como conhecemos o passado. Revista Projeto História. n. 17. 1998. p. 63-200.

MADEIRA, Felícia Reicher. Quem mandou nascer mulher? Estudos sobre crianças e adolescentes pobres no Brasil. Rio de Janeiro: Record/Rosa dos Tempos; 1997.

MAGALHÃES, Belmira. As marcas do corpo contando a história: um estudo sobre a violência doméstica. Maceió: EDUFAL, 2005.

MALUF, Marina; MOTT, Maria Lúcia. Recônditos do mundo feminino. In: SEVCENKO, Nicolau (Org). História da vida privada no Brasil: República: da Belle Époque à era do rádio. Volume 3. São Paulo: Companhia das letras, 1998.

MARTINS, Ana Paula Vosne. Políticas da Maternidade: Uma introdução à história comparada de gênero e políticas públicas. Relatório de estágio de pós-doutorado, 2004. [a]

______. Visões do feminino: a medicina da mulher nos séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Editora FioCruz, 2004.[b]

MATOS, Maria Izilda Santos de; MORAIS, Mirtes. Imagens e ações: gênero e família nas campanhas médicas (São Paulo: 1890-1940). In: ArtCultura. Uberlândia, v. 9, n. 14, jan.-jun. 2007. p. 23-37.

MOTT, Maria Lúcia. Maternalismo, políticas públicas e benemerência no Brasil (1930-1945) In: Cadernos Pagu. nº 16, 2001.

NUNES, Maria José F. Rosado. Vida religiosa nos meios populares. Petrópolis: Editora Vozes, 1985.

O SESI em Santa Catarina. In: Revista Paulista de Indústria. Separata no 26, setembro de 1954.

POLLAK, Michel. Memória, esquecimento, silêncio. Revista de Estudos Históricos. Vol 2, nº 1. Rio de Janeiro, 1989. p. 03-15.

RABELO, Giani. Entre o hábito e o carvão: pedagogias missionárias no sul de Santa Catarina na segunda metade do século XX. 2007.Tese (Doutorado em Educação). Universidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

RAGO, Margareth. Do Cabaré ao Lar: a utopia da cidade disciplinar, Brasil 1890-1930. 3. edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

SEGALEN, Martine. A revolução industrial: do proletário ao burguês. In: (Orgs.) BURGUIÈRE, André et al. História da família: o ocidente: industrialização e urbanização. Volume 4. Lisboa: Terramar, 1999.

SILVA, João Luís Máximo da. Cozinha Modelo: O impacto do gás e da eletricidade na casa paulistana (1870-1930). São Paulo: Editora da USP, 2008.

VATICANO. Carta Encíclica Evangelii Praecones, 2 de junho de 1951.

XAVIER, Elódia. O declínio do patriarcado: a família no imaginário feminino. Rio de Janeiro: Record/Rosa dos Tempos, 1998. Recebido em: Agosto/2010 Aprovado em: Novembro/2010

Downloads

Publicado

2010-12-09

Como Citar

ALVES, Ismael Gonçalves. Famílias operárias mineiras e relações de gênero: a construção do feminino através de cursos populares na região carbonífera catarinense (1950-1960). Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 2, n. 2, p. 21–43, 2010. DOI: 10.5965/2175180302022010021. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2061. Acesso em: 21 nov. 2024.