A pandemia de Covid-19 e suas implicações na saúde Mental da população negra: um ensaio desde a tríplice-fronteiram

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/19847246242023e0505

Palavras-chave:

fronteira, saúde mental, desigualdades

Resumo

Este artigo se propõe a discutir o impacto psicossocial da pandemia de COVID-19 na tríplice-fronteira (Argentina/Brasil/Paraguai), com especial enfoque o na população negra. É considerando a potencialidade analítica existente na condição de vida em região de fronteira que, neste artigo, encaramos os processos em torno da saúde mental e sofrimentos psíquicos e seus desdobramentos em discursos e práticas transfronteiriças de saúde. O ensaio pretende responder à questão de como o racismo se expressa na saúde mental, e o faz em dois movimentos. Inicialmente, problematiza os indicadores de saúde da população negra no contexto da pandemia e, ao mesmo tempo, reforça que o fato de parte significativa dos indicadores de saúde serem trabalhados sem o recorte de raça/cor não é por mero acaso, mas estratégia necropolítica (Mbembe, 2018) de invisibilizar tramas históricas, sociais e políticas do racismo. A partir deste ponto, discute-se os aspectos relacionados ao sofrimento psíquico e saúde mental durante a pandemia, na tentativa demonstrar como a estratégia de quarentena adotada na tríplice fronteira foi cuidar da branquitude burguesa. O ponto de chegada é uma reflexão em torno da saúde mental vinculada a uma concepção não circunscrita aos saberes psis, ou seja, da psicologia, da psicanálise e da psiquiatria - saberes estes que são hegemônicos no entendimento que construímos historicamente em torno da saúde mental. Por outro lado, apresenta-se uma concepção de saúde mental que parte da totalidade, das contradições e da historicidade das pessoas que vivem nesta região de fronteira.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Anaxsuell Fernando da Silva, Federal University for Latin American Integration

Antropólogo e Psicólogo. Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA.

 

Referências

ARAÚJO, E. M; CALDWELL, K. L. Por que a COVID-19 é mais mortal para a população negra?In: Portal ABRASCO, [s.l.], 2020. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/gtracismoesaude/2020/07/20/por-que-a-covid-19-e-mais-mortal-para-a-populacao-negra-artigo-de-edna-araujo-e-kia-caldwell. Acesso em: 29 ago. 2020

ARRUTI, J. M. et al. O impacto da Covid-19 sobre as comunidades quilombolas. In: INFORMATIVOS DESIGUALDADES RACIAIS E COVID-19, AFRO/CEBRAP: n. 6. Petrópolis: Vozes, 202. p. 1-58.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa e ao Controle Social. Política Nacional de Saúde Integral da População Negra: uma política para o SUS. 3. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2017.

BASILE, G. Repensar y descolonizar las teorías y políticas sobre sistemas de salud en Latinoamérica y Caribe. Cuadernos Pensamiento Crítico Latinoamericano, Buenos Aires: CLACSO, n. 73, p. 1-6, 2020a.

BASILE, G. La triada de cuarentenas, neohigienismo y securitización en el SARS-CoV-2: matriz genética de la doctrina del panamericanismo sanitario. Buenos Aires: Edición Especial Observatorio Social de la Pandemia: CLACSO, 2020b.

BERTOLOZZI, T. B. Majoritariamente negro, o Amapá foi apagado, não esquecido. Nexo Jornal, São Paulo, 29 nov. 2020. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2020/Majoritariamente-negro-o-Amap%C3%A1-foi-apagado-nao-esquecido. Acesso em: 15 fev. 2021.

CARONE, I; BENTO, M. A. S. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: PSICOLOGIA SOCIAL DO RACISMO: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 25-58

COLLINS, P. H. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. São Paulo: Boitempo, 2019.

CRENSHAW, K. Mapping the margins: intersectionality, identity politics, and violence agains women of color. In: FINEMAN, M. A.; MYKITIUK, R. (eds.). The public nature of private violence. New York: Routledge, 1994. p. 93-120.

DAVID, E. C. Relações raciais, uma questão antimanicomial. Revista Da associação Brasileira De Pesquisadores/As Negros/As (ABPN), São Paulo, v. 12, p. 108-137, 2020. Edição especial.

Da SILVA, A. F. Entre el racismo epistémico y el racismo religioso: Perspectivas Revista de Ciencias Sociales, Ciudad de Rosario, v. 6, n 11, p. 118-149, 2021

ENGEL, M. G. As fronteiras da anormalidade: psiquiatria e controle social. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 5, n. 3, p. 547-563, 1999.

FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

FAUSTINO, D. M. Frantz Fanon: um revolucionário, particularmente negro. São Paulo, SP: Ciclo Contínuo, 2018.

GRANDA, E. A qué llamamos salud colectiva, hoy. Rev Cubana Salud Pública; Havana, v. 30, n. 2, p. 1-20, 2004.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. Rio de Janeiro: IBGE; 2018.

KHALFA, J. Fanon, psiquiatra revolucionário. In: FANON, F. Alienação e liberdade: escritos psiquiátricos. São Paulo: Ubu, 2020. p. 21-56.

KILOMBA, G. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

KRENAK, A. Colóquio internacional os mil nomes de gaia: do antropoceno à idade da terra. [S. l.: s. n.], 18 abr. 2015. 1 vídeo (26 min.). Publicado pelo canal Os Mil Nomes de Gaia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=k7C4G1jVBMs&t=972s. Acesso em: 20 ago. 2022.

LEVAGGI, A. La condición jurídica del esclavo en la época hispánica. Revista de Historia del Derecho, Buenos Aires, n. 1, p. 83-175, 1973.

LIMA, F. Trauma, colonialidade e a sociogenia em Frantz Fanon: os estudos da subjetividade na encruzilhada. Arquivos Brasileiros de Psicologia, Rio de Janeiro, v. 72, p. 80-93, 2020. Número Especial.

MAZZAROLLO, J. A taipa da injustiça: esbanjamento econômico, drama social e holocausto ecológico em Itaipu. Curitiba; São Paulo: CPT: Loyola, 2003.

MBEMBE, A. Necropolítica. São Paulo: N-1 Edições, 2018.

NASCIMENTO, A. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1978.

NOBLES, W. Sakhu Sheti: retomando e reapropriando um foco psicológico afrocentrado. In: NASCIMENTO, E. L. (ed.). Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica inovadora. São Paulo: Selo Negro, 2009. p. 277-297.

PLA, J. Hermano Negro: la esclavitud en el Paraguay. Madrid: Paraninfo, 1972.

PRANDI, R. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

PRESTES, Clélia R.S. Não sou do eu campo psi? Vozes de Juliano Moreira e outras figuras negras. Revista Da Associação Brasileira De Pesquisadores/As Negros/As (ABPN), São Paulo, n. 12, p. 52-77, 2020. Edição especial.

SANTOS, A. O.; SCHUCMAN, L. V.; MARTINS, H. V. Breve histórico do pensamento psicológico brasileiro sobre relações étnico-raciais. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 32, p. 166-175, 2012. Especial.

SANTOS, H. L. P. C. S et al. Necropolítica e reflexões acerca da população negra no contexto da pandemia da COVID-19 no Brasil: uma revisão bibliográfica. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, n. 25, p. 4211-4224, 2020. Suplemento 2.

SILVA, A. F. African diaspora and its religious heritage: a view from Triple-Border (Brazil/Paraguay/Argentina). Revista del CESLA, Warsaw, v. 26, p. 347-376, 2020.

SILVA, A. Social dynamics, transnational flows and public incidence of religion in the frontier in Latin America. Religions, Basel, v. 9, p. 152, 2018.

SOUZA, N. S. Tornar-se negro: as vicissitudes do negro brasileiro em ascensão social. Rio de Janeiro: Graal, 1983.

TAVARES, J. S. C.; JESUS FILHO, C. A. A.; SANTANA, E. F. Por uma política de saúde mental da população negra no SUS. Revista Da associação Brasileira De Pesquisadores/As Negros/As (ABPN), São Paulo, n. 12, p. 138-151, 2020. Edição especial.

VENTURA, D. F. L. Impacto das crises sanitárias internacionais sobre os direitos dos migrantes. Sur - Revista Internacional de Direitos Humanos, São Paulo, v. 13, n. 23, p. 61- 75, 2005.

VEIGA, L. Clínica do impossível: linhas de fuga e linhas de cura. Rio de Janeiro: Telha, 2021. 122 p.

WATTS, J. Mental health services in crisis are abandoning patients to meet targets. The Guardian, London, p. 45-46, July 14, 2019.

WERNECK, J. Racismo institucional e saúde da população negra. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 25, n. 3, p. 535-549, 2016.

WYNTER, S. Unsettling the coloniality of being/power/truth/freedom: towards the human, after man, its overrepresentation: an argument. The New Centennial Review, Michigan, v. 3, n. 3, p. 257-337, 2003.

Downloads

Publicado

2023-09-15

Como Citar

SILVA, Anaxsuell Fernando da. A pandemia de Covid-19 e suas implicações na saúde Mental da população negra: um ensaio desde a tríplice-fronteiram. PerCursos, Florianópolis, v. 24, p. e0505, 2023. DOI: 10.5965/19847246242023e0505. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/percursos/article/view/22849. Acesso em: 21 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos Demanda Contínua