De pé no chão e sandália na mão: experiências escolares de mulheres agricultoras

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/1984723824542023237

Palavras-chave:

memórias escolares, mulheres agricultoras, infância, abandono escolar, alfabetização

Resumo

Este texto analisa as memórias escolares de mulheres agricultoras participantes do projeto de alfabetização de jovens e adultos, desenvolvido no bairro de Espigão Grande, município de Maracajá, SC, nos anos de 2002 a 2004, com ênfase à participação na escola multisseriada/isolada, ao abandono escolar e ao trabalho na agricultura na infância. Com base nas narrativas das mulheres agricultoras, procurou-se descrever as memórias do ingresso/não ingresso na vida escolar na infância, suas trajetórias escolares e os motivos do abandono escolar em função do trabalho na agricultura.  Utilizou-se da História Oral e da memória para analisar as narrativas dessas mulheres, que destacaram as vivências do período escolar na infância, o trabalho na infância e o sentimento de tristeza ao deixarem de frequentar a instituição de ensino. Tal análise possibilitou identificar que frequentar a escola representava apenas uma fase da infância na qual não era necessário efetuar os trabalhos na roça. Esse período foi rememorado com lembranças das brincadeiras, das dificuldades – como o trajeto feito a pé da residência até a escola –, do aprendizado escolar – como aprender a ler e a escrever –, e também da oportunidade de estar perto de outras crianças e vivenciar as experiências de outro ambiente. E para uma delas, que não frequentou a escola quando criança, as memórias do trabalho na agricultura para ajudar na subsistência familiar e da falta de professora na escola isolada/multisseriada no período do ingresso escolar na infância, aos sete anos de idade, destacaram-se como as mais significativas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AREND, Silvia Fávero. Trabalho, escola e lazer. In: PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria (org.). Nova história das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2018. p. 65-83.

ARTUR, Júlia Benta de Assis. [Entrevista cedida a] Cristiane Sant’Ana. Maracajá, 08 fev. 2019. (Nascida em 24/09/1952)

BEIRITH, Ângela. As escolas Isoladas de Florianópolis no contexto da regulamentação do ensino primário. Revista Linhas, Florianópolis, v. 10, n. 02, p. 156-168, jul./dez. 2009. Disponível em: http://www.periodicos.udesc.br/index.php/linhas/article/view/1415/1473. Acesso em: 17 nov. 2019.

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

BRASIL. Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as diretrizes e bases da educação nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 21 dez. 1961. Disponível em: http://wwwp.fc.unesp.br/~lizanata/LDB%204024-61.pdf. Acesso em: 20 jul. 2020.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 15 nov. 2019.

BRASIL. Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 15 nov. 2019.

BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/529732/lei_de_diretrizes_e_bases_1ed.pdf. Acesso em: 01 set. 2019.

BUTTO, Andrea. Políticas para as mulheres rurais: autonomia e cidadania. In: BUTTO, Andrea; DANTAS, Isolda (org.). Autonomia e cidadania: políticas de organização produtiva para as mulheres no meio rural. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2011. p. 11-34. Disponível em: https://repositorio.iica.int/bitstream/handle/11324/6967/BVE18040146p.pdf;jsessionid=817BFCF910020C9EDEF8A8F70914BD83?sequence=1. Acesso em: 15 jul. 2020.

COMIN, Ivonete Duarte. [Entrevista cedida a] Cristiane Sant’Ana. Maracajá, 08 fev. 2019. (Nascida em 05/07/1957.)

DORREGÃO, Vandreça Vigarani. A participação de mulheres na atividade leiteira: um estudo do município de Orleans/SC. 2018. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Socioeconômico) − Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2018. Disponível em:http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/5971/1/VANDRE%C3%87A%20VIGARANI%20DORREG%C3%83O.pdf. Acesso em: 19 jun. 2020.

FARIA, Nalu. Economia feminista e agenda de luta das mulheres no Brasil. In: DI SABATTO, Maria Rosa Lomb Alberto; MELO, Hildete Pereira de. Estatísticas rurais e a economia feminista. Brasília, DF: MDA, 2009. Disponível em: http://www.sof.org.br/wp-content/uploads/2014/03/Economia-feminista-e-agenda-de-luta-das-mulheres-no-meio-rural-Nalu.pdf. Acesso em: 07 jul. 2020.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 37. ed. São Paulo: Cortez, 1999.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed. São Paulo. Paz e Terra, 2011a.

FREIRE, Paulo. Educação de adultos: algumas reflexões. In: GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José Eustáquio (org.). Educação de jovens e adultos: teoria, prática e proposta. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2011b. p. 21-24.

HAGE, Salomão Mufarrej. Escolas rurais multisseriadas: desafios quanto à afirmação da escola pública do campo de qualidade. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ. Didática e prática de ensino na relação com a sociedade: livro 3. Ceará: UECE, 2014. p. 4039-4050. Disponível em: http://www.uece.br/endipe2014/ebooks/livro3/473%20ESCOLAS%20RURAIS%20MULTISSERIADAS%20DESAFIOS%20QUANTO%20%C3%80%20AFIRMA%C3%87%C3%83O%20DA%20ESCOLA%20P%C3%9ABLICA%20DO%20CAMPO%20DE%20QUALIDADE.pdf. Acesso em: 09 nov. 2019.

HOELLER, Solange Aparecida de Oliveira. Escolarização da infância catarinense: a normatização do ensino público primário (1910-1935). 2009. 210 f. Dissertação (Mestrado em Educação) − Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009. Disponível em: http://www.ppge.ufpr.br/teses/M09_hoeller.pdf. Acesso em: 14 jul. 2020.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades: tabela 1518 - população residente, por situação do domicílio, sexo e grupos de idade. Maracajá: IBGE, 2000. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1518. Acesso em: 17 jan. 2021.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades e estados: Maracajá: IBGE, 2020. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/sc/maracaja.html. Acesso em: 17 jan. 2021.

JANATA, Natacha Eugênia; ANHAIA, Edson Marcos. Escolas/classes multisseriadas do campo: reflexões para a formação docente. Educ. Real., Porto Alegre, v. 40, n. 30, p. 685-704, jul./set. 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/edreal/v40n3/2175-6236-edreal-45783.pdf. Acesso em: 09 nov. 2019.

LOURO, Guacira Lopes. Mulheres na sala de aula. In: DEL PRIORE, Mary (org.). História das mulheres no Brasil. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2018. p. 443-481.

LOWENTAL, David. Como conhecemos o passado. Revista Projeto História - Trabalhos da Memória, São Paulo, v. 17, p. 63-202, nov. 1998.

MARIN, Joel Orlando Bevilaqua. O agronegócio e o problema do trabalho infantil. Rev. Sociol. Polit., Curitiba, v. 18, n. 35, p. 189-206, fev. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsocp/v18n35/v18n35a12.pdf. Acesso em: 16 nov. 2019.

MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de história oral. São Paulo: Loyola, 1996.

NEVES, Lucilia de Almeida. Memória, história e sujeito: substratos da identidade. Revista da Associação Brasileira de História Oral, [S.l.], p. 109-116, 2000.

PEREIRA, Maria Helena Ricardo. [Entrevista cedida a] Cristiane Sant’Ana. Maracajá, 08 fev. 2019. (Nascida em 31/08/1961)

RIZZINI, Irma. Pequenos trabalhadores no Brasil. In: DEL PRIORE, Mary (org.). História das crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2000. p. 376-406.

ROCHA, Maria Bernadete Medeiros. [Entrevista cedida a] Cristiane Sant’Ana. Maracajá, 08-15 fev. 2019. (Nascida em 04/04/1967)

ROMANELLI, Otaiza de Oliveira. História da educação no Brasil. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1986. Disponível em: https://www.portalconservador.com/livros/Otaiza-Oliveira-Romanelli-Historia-da-Educacao-no-Brasil.pdf. Acesso em: 21 abr. 2023.

SANTA CATARINA. Lei Complementar no 281, de 20 de janeiro de 2005. Regulamenta o art. 170, os arts. 46 a 49 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, da Constituição Estadual e estabelece outras providências. Diário Oficial, Florianópolis, 20 jan. 2005. Disponível em:

http://leis.alesc.sc.gov.br/html/2005/281_2005_lei_complementar.html. Acesso em: 15 nov. 2019.

SOUZA, Odécia de Almeida; MORAES, Lúcio Vânio. Maracajá: outras memórias, novas histórias. Florianópolis: Samec Ed., 2009.

STEPHANOU, Maria; BASTOS, Maria Helena Camara. História, memória e história da educação. In: STEPHANOU, Maria; BASTOS, Maria Helena Camara (org.). Histórias e memórias da educação no Brasil 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. v. 3. p. 416-429.

TEIVE, Gladys Mary Guizoni; DALLABRIDA, Norberto. A escola da República: os grupos escolares e a modernização do Ensino primário em Santa Catarina (1911-1918). Campinas, SP: Mercado das Letras, 2011.

Downloads

Publicado

2023-07-25

Como Citar

SANT’ANA, Cristiane; RABELO, Giani. De pé no chão e sandália na mão: experiências escolares de mulheres agricultoras. Revista Linhas, Florianópolis, v. 24, n. 55, p. 237–270, 2023. DOI: 10.5965/1984723824542023237. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/linhas/article/view/20737. Acesso em: 5 nov. 2024.