O ensino de escrita e o tempo escolar em livros didáticos de português (1930-1984)
DOI:
https://doi.org/10.5965/1984723823522022324Palavras-chave:
cultura escolar, tempo escolar, ensino de escrita, livros didáticosResumo
O objetivo deste artigo é verificar como os livros didáticos, em sua forma linguística, repõem e constituem os tempos reservados à escrita escolar. Para tanto, investigo a relação entre livros de português, ensino de escrita e cultura escolar. Como arcabouço teórico, nos estudos da linguagem, adoto uma abordagem discursiva, na qual a língua conserva a sociedade e a história, conforme defendem Pêcheux (2010) e Volóchinov (2019). Orientando-me pela noção de tempo escolar, faço uma análise linguístico-discursiva de um prefácio e de um conjunto de exercícios de escrita presentes em livros publicados entre 1930 e 1984, destinados ao primeiro ciclo do secundário (atual ensino fundamental anos finais). Os resultados obtidos mostram que a materialização, pelo livro didático, do tempo escolar relativo à escrita variou em função das relações entre livros, professores e alunos, mediadas pelas condições de trabalho docente. Entre 1930 e 1960, consideradas as melhores condições de trabalho dos professores, o estabelecimento das temporalidades da escrita escolar ocorria através da relação entre professor e alunos. Ao livro cabia apenas o papel de sugerir o momento de realização dos exercícios, que, em sua forma, não apresentavam indicações temporais, pois elas eram estabelecidas pelo professor. A partir dos anos 1970, com o processo de proletarização docente, livros de português e professores se tornaram concorrentes no estabelecimento das temporalidades da escrita escolar. Direcionados pela relação entre alunos e livros, os exercícios passaram a incluir marcadores temporais, como “antes e “depois”, para instaurar e ordenar temporalidades da escrita escolar.
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