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Editorial
Dossiê Artes vivas e o Antropoceno/Capitaloceno I
Imagem da Capa
Projeto Gráfico: Marcelo Pires de Araújo
Espetáculo: Interescolar
Atores/Criadores: Júlia Fernandes Lacerda; Túlio Fernandes Silveira
Foto: Graciela Simoni
Para citar este Editorial:
GISLON, Giorgio; BAUMGARTEL, Stephan; GUZZO, Marina; FRAGA,
Marina; DUENHA, Milene; PIRES, Rafaela Blanch. Editorial Dossiê:
Artes vivas e o Antropoceno/Capitaloceno I. UrdimentoRevista de
Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v. 3, n. 56, p. 1-8, dez. 2025.
10.5965/1414573103562025e0901
A Urdimento esta licenciada com: Licença de Atribuição Creative Commons (CC BY 4.0)
Editorial
Dossiê Artes vivas e o Antropoceno/Capitaloceno I
Florianópolis, v.3, n.56, p.1-8, dez. 2025
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Comitê Editorial Este Dossiê Temático é coordenado por: Giorgio
Gislon, Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Stephan
Baumgartel, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC); e
composto por: Marina Guzzo, Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP); Marina Fraga, Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ); Milene Duenha, Universidade Estadual do Paraná
(UNESPAR) e Rafaela Blanch Pires, Universidade Federal de Goiás
(UFG).
Editorial
Dossiê Artes vivas e o Antropoceno/Capitaloceno I
Florianópolis, v.3, n.56, p.1-8, dez. 2025
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Editorial do Dossiê Artes vivas e o Antropoceno/Capitaloceno I
Giorgio Gislon1 | Stephan Baumgartel2 | Marina Guzzo3 |
Marina Fraga4 | Milene Duenha5 | Rafaela Blanch Pires6
As mudanças climáticas produzem desastres ambientais e sociais cada vez
maiores e mais frequentes. Para evidenciar essas mudanças em sua interação com
o ser humano, o nome Antropoceno foi proposto como denominação de uma nova
época geológica definida pelo impacto humano na geofísica do planeta. Esse
conceito ultrapassou as fronteiras dos debates científicos e circula agora nas
discussões das ciências humanas e nas notícias das mídias liberais. o termo
1 Pós-doutorado no Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
Bolsista de pós-doutorado do CNPq. Doutorado em Teatro pela UDESC. Mestrado em Artes Cênicas pela Leiden University,
Holanda. Mestrado em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Graduação em Teatro pela UDESC.
Graduação em Letras Português pela UFSC. Prof. Dr. da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
giorgiogislon@gmail.com http://lattes.cnpq.br/3399458434426385 https://orcid.org/0000-0003-3744-5305
2 Pós-doutorado em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo (USP). Pós-doutorado pela Universidad Nacional de
Colômbia Bogotá (UNAL). Doutorado em Literatura da Língua inglesa pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Mestrado em Letras Inglesa pela Ludwig-Maximilians-Universität München (LMU) Alemanha. Mestrado
profissional em Segundo Staatsexamen Lehramt Gymnasium - Secretaria de Educação do Estado Berlim (SECBERLIM) -
Alemanha. professor titular da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) na área de história do teatro, estética
teatral e dramaturgia. stephao08@yahoo.com.br
http://lattes.cnpq.br/8439378198120294 https://orcid.org/0000-0002-7769-1108
3 Pós-Doutorado pela Freie Universität Berlin, FUB, Alemanha. Pós-Doutorado pela
Universidade de São Paulo (USP). Doutorado e Mestrado em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC/SP). Graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, (PUC-Campinas). Graduação
em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Profa. Associada da Universidade Federal de São
Paulo (UNIFESP). marina.guzzo@unifesp.br
http://lattes.cnpq.br/5559657064845007 https://orcid.org/0000-0001-5523-3037
4 Doutorado e Mestrado em Arte e Cultura Contemporânea pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Graduação em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). Artista, pesquisadora e professora adjunta no Depto. de Artes Visuais Escultura da Escola de Belas
Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Colaboradora no Programa de Pós-graduação em
Artes Visuais da UFRJ, na linha Poéticas Interdisciplinares. marinafraga00@eba.ufrj.br
http://lattes.cnpq.br/2013924313703633 https://orcid.org/0000-0001-9930-2612
5 Doutorado e Mestrado em Teatro pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Licenciada em Artes Visuais
pela Faculdade Claretiano, bacharel em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Londrina (UeL). Especialização em
Artes visuais / Arte educação UeL. Graduação - Licenciatura em Artes Visuais.
Claretiano Rede de Educação, CRE, Brasil. Graduação em Artes Cênicas.
UeL. Profa. Titular no curso de Licenciatura em Dança na Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) - campus Curitiba
II. miduenha@yahoo.com.br http://lattes.cnpq.br/5227467362015897 https://orcid.org/0000-0002-2316-0408
6 Doutorado em Design pela Universidade de São Paulo (USP). Mestrado em Têxtil e Moda pela USP. Graduação em
Bacharelado em Moda e Estilismo pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Graduação em Letras-
Alemão, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Profa. Efetiva do curso de Direção de Arte e Teatro Licenciatura,
bem como, do Programa de Pós Graduação em Artes da Cena da Universidade Federal de Goiás (UFG). Coordena também
o projeto de pesquisa AdaLab: Estudo da Forma e da Interatividade nas Artes da Cena através de Meios Digitais, além do
projeto de extensão "Trama: Caracterização, Figurino, Teatralidade e Performatividades". rafaela.pires@ufg.br
http://lattes.cnpq.br/5634631010017373 https://orcid.org/0000-0002-9260-4033
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Capitaloceno, que ainda não é tão difundido, identifica diretamente o modo de
produção capitalista como o responsável por essa nova época geológica na qual
estamos vivendo. Diante do Capitaloceno, a ação política global urgente para
diminuir o impacto da poluição industrial sobre o planeta depende, todavia, de
acordos políticos negociados lentamente. Acordos que muitas vezes são
sabotados por governantes e corporações multinacionais cujo objetivo de gerar
lucro desmente preocupações com o futuro do planeta, com o futuro da
humanidade e com o futuro dos seres mais-que-humanos.
Nesse ano de 2025, em que é publicado esse dossiê, aconteceu a COP 30
(Conferência das Partes) da ONU (Organização das Nações Unidas) em Belém do
Pará - a primeira COP no Brasil. O evento, que teve muitos debates interessantes
sobre avanços no que seria um possível "mapa do caminho” para a futura
eliminação do uso de combustíveis fósseis no planeta, deixa evidente a
contradição estrutural entre os compromissos climáticos globais e a permanência
do poder político-econômico das grandes empresas. Embora a conferência seja
apresentada como um espaço de negociação multilateral para limitar o
aquecimento global, estudos recentes mostram que o lobby das corporações
petrolíferas têm se intensificado dentro das COPs, moldando agendas, atrasando
regulamentações e promovendo estratégias de transição que preservam seus
interesses. Na COP 28, por exemplo, houve recorde de representantes ligados à
indústria fóssil, e na COP 30 parece que essa também foi uma tendência, dada a
dependência econômica regional da exploração de petróleo e gás na Amazônia e
seu entorno. Essa presença corporativa cria um paradoxo: enquanto os países
discutem caminhos para o fim dos combustíveis fósseis, as próprias empresas
responsáveis pela maior parte das emissões participam ativamente das decisões,
promovendo soluções tecnológicas e mecanismos de compensação que
prolongam sua relevância e adiam o declínio do setor. Por isso, é impossível pensar
em tratar o tema das mudanças climáticas sem olhar para as questões políticas
e econômicas que regem o planeta. Ao propormos como título do dossiê Artes
Vivas diante do Antropoceno/Capitoloceno nós, como pessoas editoras,
gostaríamos de evidenciar essa relação da destruição com o sistema econômico
ligado ao capitalismo.
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Diante do Antropoceno/Capitaloceno, colocamos na convocatória do dossiê
as seguintes questões: qual seria o papel crítico e criativo das artes vivas? Que
relações têm e podem ter as práticas do corpo e da cena com projetos que dão
visibilidade e sensibilizam sobre o Antropoceno/Capitaloceno? Quais práticas
formais, temáticas e/ou metodológicas de criação artística são realizadas em
diálogo com uma perspectiva ecológica? Quais práticas pedagógicas de artes vivas
ambientalmente implicadas estão sendo realizadas? Como imaginar e inventar
artisticamente outras relações com as vidas animais, vegetais, fúngicas e
humanas? Quais ações no campo das artes germinam outros mundos?
A partir dessas questões, o dossiê recebeu artigos, relatos e dramaturgias de
pessoas artistas, pesquisadoras e professoras. Os textos recebidos e selecionados
são provenientes de diferentes experiências, paisagens e territórios e demonstram
a diversidade e a complexidade das pesquisas nesse campo.
Pela variedade dos textos recebidos, podemos perceber que o campo de
pesquisas sobre as artes vivas e o Antropoceno/Capitaloceno é atravessado por
uma série de questões ontológicas. As pesquisas são caracterizadas por se
interrogarem o que é a crise climática, o que são artes vivas e o que seria o próprio
conceito de Antropoceno ou Capitaloceno. Inclusive, com questionamentos das
lógicas coloniais e propostas de aprofundamento da crítica através de conceitos
como Plantationceno, que implica a monocultura da colonização como fundante
da catástrofe climática, e Negroceno, que implica a lógica escravista como
fundante do desastre ambiental. A partir desses pontos de vista, a questão do
Antropoceno/Capitaloceno não pode ser desvinculada da questão da justiça social.
Refugiados climáticos e racismo ambiental passam a se tornar conceitos de
conhecimento obrigatório para aqueles que querem discutir a questão à altura da
sua relevância histórico-geológica.
Assim, os textos publicados nos dois números de dossiê se caracterizam por
terem temáticas interdisciplinares e por terem uma multiplicidade de modos de
relatar e teorizar práticas de pesquisa implicadas com os mais-que-humanos, com
as culturas não antropocentradas e com os territórios. Nesse primeiro número do
dossiê, temos os seguintes textos:
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O artigo Manguezais modelo para uma cena ecossistêmica, de autoria de
Marcilene Lopes de Moura, se pergunta em que medida os processos criativos
podem se inspirar nas modelagens do campo científico, utilizando-as como
ferramentas transdisciplinares para a criação de cenas que abordem as questões
ecológicas de forma mais sensorial. Desse modo, nos provoca a pensar a relação
entre tecnologia e modelagem sistémicas e natureza no campo das artes para
além de uma dicotomia estanque.
O artigo do pesquisador argentino Maurício Tossi intitulado Intersecciones
ecocríticas en la dramaturgia argentina (1983-2008): mapas regionales, agua y
otredad analisa uma variedade de dramaturgias 'regionais' argentinas que
configuram diferentes funções da água para apresentar as relações complexas
entre mundo humano e natureza. Assim, cada texto teatral problematiza à sua
maneira a construção de uma cultura regional como alteridade supostamente
homogênea frente à lógica cultural hegemônica da metrópole.
Em Watu conta contos: Um processo de criação entre a fotógrafa e a
pernalta, Stela Maris Sanmartin, Sarah Rodrigues Damiani e Paula Barbosa da Silva
apresentam o processo criativo de uma fotoperformance em que as imagens da
pernalta em diálogo com o Rio Watu (localizado em Colatina-ES, popularizado
como Rio Doce) produzem leituras sensíveis sobre o território. As fotografias
revelam as transformações do rio, o apagamento dos povos que ali viviam. Sendo
assim, as autoras destacam a oralidade e as narrativas visuais como formas de
resistência frente ao apagamento cultural.
Em Ecossomática: reflexões e proposições de práticas ecológicas ante os
desafios socioambientais do Antropoceno, Cláudia Regina Garcia Milán propõe a
revisão de currículos, metodologias e espaços de formação para que, por meio da
Educação Somática, seja possível fomentar reflexão, intervenção e a criação de
outros futuros diante das crises do Antropoceno. Entendida como uma prática que
valoriza a percepção interna e a autorregulação do soma, essa abordagem é
direcionada pela autora para uma perspectiva ecocentrada, atenta às diversidades
de corpos, histórias e territórios.
No relato reflexivo Emaranhada: cenas com lixo e manguezal no estado do
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Rio de Janeiro, Ricardo Cabral Pereira questiona a separabilidade moderna para
impulsionar ações integradas. Nele se expõe uma experiência que reuniu
profissionais de diversas áreas como as artes, a reciclagem, a biologia e a pesca
em torno de conhecimentos situados advindos das relações com os ambientes
ocupados pelo projeto. A proposta problematiza a ideia de estética relacional e se
pauta na partilha de ações interinstitucionais de Eleonora Fabião e na ideia de
poética da proliferação de André Lepecki para fundamentar o pensamento de uma
estético-política relacional.
Em Sonhos como territórios de aprendizagem: experiências a partir do povo
Nasa e do contexto do Cauca, Paola Zamariola e Elisa de Oliveira Ribeiro
apresentam uma discussão sobre a importância dos sonhos nas culturas de povos
indígenas como os Nasa, reconhecendo-os como um elemento de resistência
presente no cotidiano, nos processos de cuidado e no desenvolvimento de
sistemas próprios de educação.
Em Da fratura ao religare: Técnica Silvestre e ecopoéticas do corpo diante da
crise ecológica-colonial, Ana Beatriz Coutinho Rezende discorre sobre a Técnica
Silvestre elaborada por Rosângela Silvestre nas últimas quatro décadas. A autora
destaca a cosmopercepção com influências das visões de mundo afrodiaspóricas
e indígenas como elemento central da técnica que não se pretende uma sequência
de movimentos, mas uma ecopoética de relação com a Terra.
Andrea Tedesco Canales Rocha, em Lebres, coiotes, carvalhos e pombos à
luz da crise antropocêntrica, comenta a performance Operação CGE do coletivo
Animalia. A performance, conceituada como um hackeamento, se tratou de entrar
em relação com os pombos da Avenida Paulista através de uma série de
dispositivos. Para fundamentar a prática do coletivo, a autora se baseia na
genealogia da prática performativa de Joseph Beuys, notadamente nas obras:
Como Explicar Quadros Para Uma Lebre Morta (1965); Eu Gosto da América e a
América Gosta de Mim (1974); e 7.000 Carvalhos (1982).
Em Conversar com árvores: a criação como prática cosmopolítica, Christiane
Lopes da Cunha parte de uma genealogia sobre o animismo na antropologia e de
uma genealogia sobre a importância do ritmo em culturas não ocidentais. A partir
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dessas genealogias ricamente fundamentadas e da concepção de conversa para
além de uma mera concepção de comunicação, ela comenta sua prática de
conversa com mais-que-humanos.
Daniela Cassinelli, em Vegetar o pensamento e a sensibilidade por
plantropocenos possíveis, propõe a reabilitação das práticas de “vegetar”. Faz essa
proposição a partir de experimentos de artes vivas e também a partir de
comentários a textos de várias teóricas e teóricos que têm se dedicado a pensar
as plantas. Dentre as relações criativas estabelecidas pela autora, tem destaque a
relação entre a potência dos vegetais e a teoria da bolsa-ficção de Ursula Le Guin.
O número inclui também a dramaturgia Semente crioula que foi desenvolvida
a partir de um diário de viagem referente a um Estágio Interdisciplinar de Vivência
junto a Movimentos Sociais da Via Campesina, no oeste de Santa Catarina, em
2025. A escrita de Lia Cancilier Ferronato explicita a relação com a dinâmica local,
as questões políticas e sociais do conflito pela terra e traz como referência o livro
Água Viva, de Clarice Lispector. O texto apresenta o personagem Doralice, uma
figura híbrida entre humano e animal, cuja saga acompanha mudanças nos modos
de vida coletivos moldados pela relação entre campo e cidade. Com uma
consistência poética propositiva, o trabalho se ocupa da produção de um
imaginário que encontra na ligação fantasmagórica entre realidade e ficção seu
território de investigação dramatúrgica.
Recebido em: 12/12/2025
Aprovado em: 12/12/2025
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Teatro
PPGT
Centro de Arte CEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
Urdimento.ceart@udesc.br