Corpo, escrita e performance: a Educação performativa na formação inicial de professores de Arte
Jair Mario Gabardo Junior | Sheurily Santos da Costa
Florianópolis, v.4, n.53, p.1-25, dez. 2024
É importante sinalizar que, na perspectiva de Taylor, não há uma dicotomia
radical entre as noções de arquivo e repertório, ou seja, entre as formas escritas e
o corpo. Ao contrário, estaríamos tratando da necessidade de análise das
narrativas culturais capaz de superar a primazia em torno dos registros do tipo
escrito em detrimento das produções do conhecimento que escapam às noções
ocidentalizadas. Esta última, pautada pela experiência da performance como meio
de elaboração e complexidade epistêmica, especialmente “quando a escrita
funciona como evidência arquival, como prova da presença” (Taylor, 2013, p. 69).
Outra perspectiva que busca desestabilizar e relativizar o lugar cristalizado e
hierárquico do arquivo, e, necessariamente interessante para a nossa
compreensão das relações entre o corpo, a escrita e a performance, é atravessada
pelas lentes derridianas. Derrida (2001) problematiza o caráter de poder irredutível
e ontologicamente absoluto depositados sobre o arquivo por meio da
desconstrução
como método e teoria. O autor questiona o poder e a verdade
presentes no arquivo, sobretudo aqueles encontrados nos discursos positivistas
da história e da historiografia ocidental, revisitados por ele a partir da psicanálise
–
impressão freudiana
–, a saber: o inconsciente, a memória e a pulsão de morte.
Para Birman (2008), a ousadia teórica de Derrida localiza-se “justamente na
colocação em questão que realizou do
suporte
, que não apenas registra os nossos
enunciados, mas também os ordena hierarquicamente nas suas várias séries
discursivas, isto é, o arquivo” (2008, p. 108, ênfase do autor).
Nessa direção, a empreitada de lidar com a noção de arquivo a partir de uma
mirada desconstrutivista supõe sobre ele – o arquivo – novas e futuras aberturas
para interpretações. O arquivo passa a ser assumido não como algo fixo e
temporal, mas como registro, no qual o passado estaria constantemente operando
por temporalidades presentes em favor de interpretações futuras.
O
mal de arquivo
presente no pensamento derridiano ofereceu aos registros
a virtualidade, fazendo-os lacunar e sintomáticos. Para Derrida, o arquivo envolve
temporalidades outras, ou seja, pensado em seu presente passado, presente atual
e presente futuro. Ou, nas palavras do autor, um
vir-a-ser
. Quer dizer, um contínuo
processo de repetição que desafia conceder aos registros sua finitude, mas, ao
contrário, tornando-os passíveis de revisitação e, continuamente, de produção da