Corpo, escrita e performance na obra de quatro artistas latino-americanas
Francisco de Paulo D'Avila Junior | Taís Chaves Prestes
Florianópolis, v.4, n.53, p.1-27, dez. 2024
1988) dispensou, durante a sua trajetória, o título de artista e questionou
estereótipos relativos ao que se entende acerca de corpo na arte contemporânea.
Com uma extensa obra criada no campo da proposição do experimento, a artista
sugere diferentes textos e interações, suscitando diálogo entre corpo e objeto. É
com
Bichos
(1960-1964) que Clark ganha destaque relevante na cena nacional. A
série incentiva o público ao envolvimento direto com a obra, tornando-se parte
dela. Ao mover os objetos, o espectador se expressa e se descobre criador. A partir
da vivência com os objetos relacionais, uma unidade passa a ser configurada,
ampliando tanto possibilidades interpretativas quanto a própria exploração de si.
No final da década de 1960, a artista categorizou o corpo em cinco
subdivisões, a saber: “o corpo individual, o corpo sexual, o corpo dialógico, o corpo
habitat e o corpo do outro” (Xavier, 2019, p. 148). Os “Distintos Corpos” pertencem
à concepção da série
Nostalgia do Corpo
(1966-1969). Cada uma das subdivisões
contempla um trabalho. Se, na década de 1960, essa construção flertava com a
psicanálise e conjecturava um espaço de cunho terapêutico, em
A Estruturação
do Self
(1980), o último da série, o aspecto terapêutico se fundamenta na obra de
Clark, tornando as dimensões corpo e vida uma unidade. Consciência, corpo,
movimento, eu, outro, objeto, espectador, experimental, sensorial, relação,
sensação, fruição, união, memória e subjetividade passam a ser como palavras-
chave, uma rede textual de ações que tecem seu processo criativo.
Ao longo de toda essa concepção, que vai de 1966 a 1988, há uma progressão
entre o sensorial e os limites do corpo, fazendo com que a noção de corporeidade
fosse ampliada. Assim, teve como um dos objetivos a proliferação do sentir. O
corpo é o fragmento que encabeça suas propostas, como o fermento de bolo que
o faz crescer. Corpo e objeto se fundem e se confundem, formando um só em
busca das memórias, já que o contato com objetos e materiais em diferentes
texturas e formatos conciliavam movimento, matéria, intenção e linguagem,
criando um campo de diálogo a partir desse câmbio. Clark buscou problematizar
a constituição do sujeito, que percebe a si próprio quando em contato com o outro,
em um arranjo recíproco, seja o outro quem fosse – objeto ou pessoa.
Entre experiências intimistas e o exercício de resgate das memórias, que são
também corporais, o toque era compelido à busca e protagonizou a simbologia