Apontamentos para uma composição em dança através do viés do 'teste'
Rebeca Tadiello
Florianópolis, v.4, n.53, p.1-25, dez. 2024
surgiu a partir de um
insight
(e, nesse ponto, já estamos adentrando na análise de
um procedimento lógico). Explica-se:
O
insight
é uma operação dos signos (e do pensamento) que ocorre de
maneira instantânea (Santaella, 2004); as informações se organizam
(dedutivamente) como um
flash
de criatividade, fazendo emergir uma ideia.
Estamos tratando das informações corporais que se organizam em uma ideia
síntese abarcando uma possível correlação entre os signos e os pensamentos do
próprio corpo. Quando tratamos sobre
insights
, portanto, estamos discorrendo
sobre “algo que está para brotar na mente, uma ideia em gestação, na iminência
de emergir, mas ainda não delineada” (Santaella, 2012, p. 124).6
Aqui, cogitamos que o
insight
opera a partir das informações que constituem
o corpo (informações que vão se corpando7 à medida em que o corpo interage
com certos ambientes) - informações que estão, dessa maneira, diretamente
relacionadas ao que o corpo experiencia. O
insight
propõe conexões criativas (e
instantâneas) entre essas informações8, apresentando ao corpo uma ideia, uma
possibilidade de pensamento (e de movimento).
Assim, quando tratamos sobre processos investigativos do mover em dança,
os
insights
estão relacionados, considerando um certo recorte interpretativo, ao
momento em que informações corporais se organizam evidenciando uma síntese
correlacional entre algumas vivências (síntese que acaba sendo percebida e
6 Peirce trata sobre a “Introvisão”, palavra que se refere, segundo alguns dos estudiosos, ao próprio
insight
:
“[...] o homem tem uma certa Introvisão (
Insight
), não suficientemente forte para que ele esteja com mais
frequência certo do que errado, mas forte o suficiente para que esteja, na esmagadora maioria das vezes,
com mais frequência certo do que errado [...]. Denomino-o Introvisão porque é preciso relacioná-la com a
mesma classe geral de operações a que pertencem os Juízos Perceptivos. Esta Faculdade pertence, ao
mesmo tempo, à natureza geral do Instinto, assemelhando-se aos instintos dos animais, na medida em que
estes ultrapassam os poderes gerais de nossa razão pelo fato de nos dirigir como se possuíssemos fatos
situados inteiramente além do alcance de nossos sentidos” (Peirce, 2017, p. 221).
7 De acordo com a Teoria Corpomídia (Katz & Greiner, 2010, 2021), corpo e ambiente estão a todo instante
trocando informações; nisso, tanto o corpo quanto o meio se modificam de maneira co-implicada. Essa
interação é constante, o que nos leva e inferir que tanto um quanto o outro estão a todo momento se
ressignificando: “[...] todo corpo é corpomídia porque troca informações com o ambiente, modificando-se e
modificando o ambiente, e nesse fluxo constante, vai contando (sendo mídia) o que está acontecendo com
ele” (Katz, 2021, p. 21). Assim, para se referir ao que acontece nesse encontro do corpo com a informação,
Helena Katz, professora e pesquisadora de dança, propôs o verbo “corpar”: o corpo está sempre corpando
informações – informações com as quais o corpo se encontra com certa recorrência, gerando modificações
nos modos como essas informações se organizam e operam.
8 Aqui, entendemos as informações como signos, então, quando consideramos as operações das informações
corporais, estamos cogitando as ações dos signos que constituem o corpo (os signos enquanto
materialidade corporal).