Sobre teatros e métodos
Sílvia Fernandes
Florianópolis, v.2, n.51, p.1-26, jul. 2024
precedem a apresentação de um espetáculo teatral. O acompanhamento, a
observação e o estudo do processo, a compreensão do percurso do encenador,
dos atores e da equipe de criação, a investigação dos rastros da feitura artística
da obra por meio do estudo detalhado de cadernos de direção, anotações de
atores e esboços de cenografia passaram a constituir procedimentos
imprescindíveis ao esclarecimento daquilo que se apresentava no palco ou fora
dele. Foi nessa etapa dos estudos teatrais que o trabalho em processo, inacabado,
começou a ser levado em conta no mesmo nível das questões ligadas à
representação.
A verdade é que a crítica genética aplicada ao teatro se firmava, nos anos
1990, depois de uma longa pré-história de edições comentadas de textos
dramáticos, que em geral reproduziam e analisavam os esboços sucessivos das
versões das peças teatrais. Mas os procedimentos que mais se aproximam da
abordagem específica da cena ganham força apenas no final do século XX, com
os estudos pioneiros de Almuth Grésillon e os seminários internacionais
organizados para a discussão dos procedimentos genéticos, que divulgam a
metodologia (Grésillon, Mervant-Roux, Budor, 2010). Nessa trilha, destacam-se os
estudos de Féral já mencionados, as edições comentadas de cadernos de direção
de encenadores e os vários volumes da série
Voies de la création théâtrale
,
editados pelo CNRS, com reconstituição de espetáculos e processos criativos de
encenadores da importância de Peter Brook, Giorgio Strehler, Tadeusz Kantor,
Robert Wilson, Patrice Chéreau e Claude Régy, entre outros.
Durante os vinte anos em que editei a revista
Sala Preta
com Luiz Fernando
Ramos, com algumas interrupções, incluímos em todos os números do periódico
uma seção intitulada “dossiê espetáculo”, cujo intuito era investigar não apenas a
formalização final dos trabalhos teatrais, mas especialmente os processos
criativos que, em alguns casos, ultrapassavam as temporadas em importância e
duração. Para recuperar esses longos períodos de investigação realizamos
entrevistas com diversos artistas, como Antunes Filho sobre
A pedra do reino
(n.
6, 2006), Antonio Araújo sobre
Bom Retiro 958 metros
(v. 12, n.2, 2012), Alexandre
Dal Farra e Janaína Leite sobre
Branco
(v. 17, n. 2, 2017), entre outros. Como
editores, encerramos a primeira fase da
Sala Preta
em 2021, com um dossiê sobre