Deixando cair as máscaras: uma conversa entre amigas/mulheres-artistas
Entrevista com Patricia dos Santos concedida à Maria de Fátima S. Moretti (Sassá Moretti)
Florianópolis, v.2, n. 51, p.1-25, jul. 2024
Donato Sartori, Paola e Sarah. Eram como uma grande família de mascareiras
italianas. Todas muito habilidosas, amorosas e simpáticas.
Elas chegaram (como ajudantes de uma parteira), se sentaram e colocaram
um tecido sobre as pernas, a matriz da madeira esculpida, e iam nos ensinando, a
cada artista, individualmente, como deveríamos fazer o laborioso e complexo
ofício da confecção da máscara. Colocar o couro banhado, aderir a superfície na
escultura de madeira e martelar os preguinhos metálicos de cobre na máscara.
Isso me recordou a cena da peça “Yerma”, de Garcia Lorca, sobre a tragédia
da esterilidade e o desejo maternal frustrado de ter um filho. Na peça do
dramaturgo espanhol a cena se passava entre as mulheres lavando roupa no sul
da Espanha; no laboratório, na pequena cidade de Abano Terme, eram mulheres
com um pano no joelho construindo máscaras, dando vida a um objeto inanimado.
Na obra de Lorca existia falta de amor, no laboratório sobrava, pois as mulheres
falavam do amor por Donato Sartori, que tinha partido, infelizmente, fazia um ano.
A dor e a falta do maestro, do pai, do esposo e do amigo, ainda eram sentidas no
ar. Era amor ao ofício das “mascareiras” ao sagrado que habita em todas as
mulheres. Eram senhoras, divertidas, cúmplices num ato de amor e lembrança ao
maestro. Paola, Sarah, Tereza, Lidia, Ornella... todas mulheres fazedoras de
máscaras que tinham a força de continuar a tradição, o conhecimento da arte e o
ofício da máscara nas mãos e no coração.
As máscaras expostas pelo ateliê eram histórias de árduo esforço, estudo,
sabedoria, técnica e amor. De uma tradição ressuscitada por Amleto como regalo
aos homens de teatro, que vinha sendo perdida/esquecida e que foi recuperada
por esse artista da máscara. Donato, filho de Amleto, ampliou as suas pesquisas,
e a partir de 2016, com a sua partida repentina, essas mulheres guerreiras –
mascareiras – deram bravamente continuidade a essa tradição.
Depois de estar a máscara seca, foi tirada da matriz e começou o trabalho
de acabamento. Tinha que furar as laterais, passar o verniz e, por último – a minha
etapa favorita –, passar para a sala de ensaio no centro da Abano Terme com o
ator do teatro Piccolo de Milano Giorgio Bongiovanni.
Por fim, a máscara estava pronta, tinha nascido Bonifácia, lá estava ela, mais
engraçada do que eu havia imaginado, mais tonta do que eu havia pensado. Não
era uma beleza de perfeição acadêmica, tampouco retórica – que seria o fim para