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Um barco, um rio, um circo
Rogério Zaim-de-Melo
Luís Bruno de Godoy
Teresa Ontañón Barragán
Para citar este artigo:
MELO, Rogério Zaim-de; GODOY, Luís Bruno de;
BARRAGÁN, Teresa Ontañón. Um barco, um rio, um circo.
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas,
Florianópolis, v. 2, n. 51, jul. 2024.
DOI: 10.5965/1414573102512024e0302
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Rogério Zaim-de-Melo | Luís Bruno de Godoy | Teresa Ontañón Barragán
Florianópolis, v.2, n.51, p.1-20, jul. 2024
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Um barco, um rio, um circo1
Rogério Zaim-de-Melo2
Luís Bruno de Godoy3
Teresa Ontañón Barragán4
Resumo
No mês de outubro de 2023, uma trupe composta por um professor universitário, um professor de
circo e oito acadêmicos subiu o rio Paraguai em direção ao alto Pantanal para apresentar um
espetáculo de circo para crianças que vivem nas regiões alagadas e estudam nas escolas das águas. O
presente relato tem o objetivo de narrar a experiência de proporcionar a alunos(as) de duas escolas
das águas do Pantanal sul-mato-grossense a oportunidade de assistir a um espetáculo circense e, de
maneira sucinta, apontar algumas descrições desse encontro: crianças das águas pantaneiras com o
circo.
Palavras-chave
: Pantanal. Circo. Escolas das águas.
A boat, a river, a circus
Abstract
In October 2023, a troupe made up of a university professor, a circus teacher and eight academics
traveled up the Paraguay River towards the upper Pantanal to present a circus show for children who
live in the flooded regions and study at the “escolas das águas”. The aim of this report is to recount the
experience of giving pupils from two “escola das águas” on the Pantanal in the state of Mato Grosso
the opportunity to watch a circus show and to briefly describe this encounter: children from the
Pantanal waters and the circus.
Keywords
: Pantanal. Circus. Schools of the waters.
Un barco, un río, un circo
Resumen
En octubre de 2023, una compañía formada por un profesor universitario, un profesor de circo y ocho
académicos remontó el río Paraguay hacia el Pantanal superior para presentar un espectáculo de circo
a los niños que viven en las regiones inundadas y estudian en las “escolas das águas”. El objetivo de
este informe es relatar la experiencia de ofrecer a los alumnos de dos “escola das águasdel Pantanal,
en el estado de Mato Grosso, la oportunidad de asistir a un espectáculo de circo y señalar brevemente
algunas descripciones de este encuentro: los niños de las aguas del Pantanal y el circo.
Palabras clave
: Pantanal. Circo. Escuelas de las aguas.
1 Revisão ortográfica e gramatical do artigo realizada por Mirna Juliana Santos Fonseca, licenciada em Letras-
francês pela Universidade Federal do Ceará, Mestra e Doutora em Educação pela PUC-Rio.
2 Doutor em Ciências Humanas, Educação pela PUC-Rio. Mestre em Educação Física pela USP. Licenciado em
Educação Física pela UNESP, Rio Claro. Prof. Adjunto do curso de Educação Física e do Mestrado em Estudos
Fronteiriços da Universidade Federal do Mato Grosso Sul (UFMS) - Campus do Pantanal.
rogeriozmelo@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/1352324187056085 https://orcid.org/0000-0002-0365-6000
3 Doutor em Educação Física e Sociedade pela Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). Mestre em Ciências Humanas e Sociais pelo programa Interdisciplinar em Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas. Bacharel em Ciências do Esporte. Ator e palhaço habilitado pelo Sindicato dos
Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão (SATED). godoy.lb@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/6501810364543985 https://orcid.org/0000-0003-0857-9937
4 Doutora em Educação sica pela Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). Mestrado na mesma Faculdade, na área de Educação Física e Sociedade. Graduação (Licenciatura
e Bacharelado) em Ciências da Atividade Física e do Esporte pela Universidade Politécnica de Madri (Espanha),
com especialidade em Educação Física, Lazer e Recreação. Licenciatura em Pedagogia pela Universidade do
Norte de Paraná. Professora efetiva do curso de Educação Física da Universidade do Estado de Minas Gerais
(UEMG) - Ituiutaba. teresa.barragan@uemg.br
http://lattes.cnpq.br/1091012061567759 https://orcid.org/0000-0002-1858-9218
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Uma imensidão de águas
O Pantanal é a maior planície alagada do mundo, cenário paradisíaco de
novelas e filmes5, conhecido por sua fauna e flora exuberante, consequência do
ciclo das águas, em um loop infinito, com a cheia dos rios e, posteriormente, com
a vazante e a estiagem, sendo impossível saber onde começa e onde termina. O
ritmo da inundação e a estabilização da cheia provocam transformações
significativas nas paisagens e nos modos de vida dos habitantes desse lugar (Da
Silva; Silva, 1995).
Corumbá, município de Mato Grosso do Sul, abriga 60% do Pantanal brasileiro
e, por isso, leva a alcunha de “capital do Pantanal”, pois aproximadamente 95,6%
dos seus 64.965 km² estão em terras pantaneiras. A área urbana de Corumbá
abrange 39 km², representando apenas 0,06% da extensão total do município
(Zaim-de-Melo et al., 2020).
Nessa conjuntura, a população corumbaense se divide entre os que moram
nas cidades, os que moram no campo e quem mora nas áreas alagadas, nas
regiões ribeirinhas peões de fazendas de gado, pescadores, isqueiros (coletores
de iscas para a pesca, visando a comercialização), agricultores familiares de
subsistência, mineiros e as etnias indígenas Guató, Terena, Kadiwéu, Kinikinau e
Ayoreo (Araújo, 2023). De acordo com a prefeitura de Corumbá, em 2015,
aproximadamente 651 famílias residiam nas áreas alagadas, totalizando 2.066
pessoas (Corumbá, 2015).
A forma de viver dos que habitam as áreas alagadas está intimamente
conectada ao ritmo da natureza e, por meio dessas experiências, formam suas
percepções sobre os lugares onde residem, interagindo com a natureza em seu
entorno, gerando uma compreensão que sentido à sua existência, levando em
consideração a construção e compartilhamento de saberes (Manfrinate; Nora;
Rossetto, 2020).
5 Em 2022 e 2023 foram veiculados, respectivamente, a novela “Pantanal”, de Bruno Luperi, e o filme “Destinos
opostos”, de Walther Neto.
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Morar nas “águas” tem seus benefícios e o principal é conviver com uma
natureza deslumbrante, onde é possível avistar, sem nenhum esforço, tuiuiús,
colhereiros, curicacas, garças, tucanos, ariranhas, jacarés, capivaras, tamanduás e
a temida onça-pintada. O tempo flui de maneira mais tranquila, sem as demandas
da vida na cidade, desprovido das inquietações do dia a dia urbano, seguindo o
ritmo único do Pantanal, ao despertar com os primeiros raios de sol e repousar
algumas horas após o seu ocaso.
Porém, viver nas áreas alagadas tem suas agruras, como a escassez de água
potável ou a falta de energia elétrica, as queimadas ilegais e/ou acidentais as
quais geram problemas para a saúde dos pantaneiros, quanto ao cultivo de
alimentos para a subsistência e as mudanças climáticas, que vêm se
intensificando nos últimos anos (Siqueira, 2015). Outra dificuldade vivida pelos
locais é o acesso a serviços essenciais, como educação, saúde e cultura. Os
serviços das duas primeiras áreas são considerados precários e o acesso a bens
culturais (exposições de arte, concertos musicais, espetáculos circenses) é
considerado inexistente (Zaim-de-Melo et al., 2020).
As políticas públicas para a região são escassas. No que concerne à saúde, a
prefeitura de Corumbá criou, em 2012, o programa Povo das Águas, em parceria
com as Forças Armadas e entidades civis, com o objetivo de levar atendimento
médico e odontológico à população ribeirinha e promover a manutenção da
carteira vacinal das crianças (Corumbá, 2012). As regiões pantaneiras recebem esse
programa de duas a três vezes por ano.
No campo educacional, para atender a essa população, o município de
Corumbá conta com as “escolas das águas”, assim chamadas informalmente
devido à sua localização em áreas remotas, onde são impactadas pelo ciclo
sazonal das águas do Pantanal (Zaim-de-Melo; Duarte; Sambugari, 2020). O total
de unidades de ensino que constituem essas escolas flutua de acordo com as
mudanças nas políticas governamentais, especialmente no que diz respeito às
alterações na Secretaria Municipal de Educação de Corumbá, e às necessidades
das comunidades do Pantanal em busca do acesso à educação (Zaim-de-Melo et
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al., 2022). Em 2023, estavam em funcionamento 10 unidades de ensino, com 5
polos e 5 extensões (Corumbá, 2023).
Diante desse contexto, considerando a não existência de projetos culturais
para o povo das águas, e inspirados pelo projeto “Navegando pelo rio dos sonhos”
6 (Zaim-de-Melo et al., 2020), foi desenvolvida, em 2019, uma ação de extensão “o
Circo vai a uma escola das águas” da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
(UFMS), que tinha como um de seus objetivos ampliar o acervo cultural das
crianças das regiões alagadas, estudantes das escolas das águas. Finalizado o
projeto, a ideia era continuar expandindo-o para outras unidades, mas, diante da
pandemia da Covid-19, a ação precisou ser interrompida. Passados quatro anos,
foi possível retomar a experiência de levar a arte circense para as crianças das
águas, esquecidas pelas políticas públicas no que concerne à cultura. Dessa forma,
o presente artigo tem o objetivo7 de narrar a vivência de proporcionar a alunos(as)
de duas escolas das águas do Pantanal sul-mato-grossense a oportunidade de
assistir um espetáculo circense e de descrever o encontro dessas crianças com o
circo, sob o ponto de vista do(a) acadêmico(a) artista e dos(as) professores(as) das
escolas8.
Preparativos
A entrada do circo nas universidades brasileiras é um fenômeno
relativamente recente. Primeiro, houve o interesse do circo como um objeto de
investigação científica (Ontañón; Duprat; Bortoleto, 2012) e de ensino (Miranda;
Bortoleto, 2018), para depois ser visto como possibilidade de experiências
formativas, artísticas e docentes (Miranda; Ayoub, 2017). É no contexto da
formação que se inscrevem os projetos de extensão universitária que promovem
o intercâmbio entre o ensino e a pesquisa com ações que beneficiam a
6 Projeto desenvolvido em parceria da UFMS com uma companhia de teatro Cia Maria Mole e uma companhia
de circo Cia da Lona, entre 2005 e 2008, que, em um barco adaptado para ser um picadeiro de circo, explorou
o rio Paraguai no Pantanal sul-mato-grossense, difundindo a arte circense entre a população ribeirinha.
7 Embora o objetivo principal seja uma narrativa, sob o ponto vista de um dos autores, é preciso esclarecer que
os princípios éticos de pesquisa foram respeitados, e faz parte das ações desenvolvidas a partir de um projeto
de pesquisa devidamente aprovado no Comitê de Ética e Pesquisa da UFMS (CAAE nº 31691320.7.0000.0021).
8 No vídeo https://www.youtube.com/watch?v=aEF3lhlbSIs&t=127s é possível conhecer um pouco mais a
experiência.
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comunidade interna e externa à universidade (Zaim-de-Melo et al., 2021).
Após criado o projeto, nossa ida às escolas das águas foi pautada na poesia
de Manoel de Barros, apoiada na sensibilidade que, segundo o poeta, é o
entendimento do corpo. E assim, com o nosso corpo fizemos poesia, acreditando
que a arte circense foi feita não para ser compreendida, mas para ser incorporada
(Barros, 1990).
Abordamos o circo como uma linguagem artística que se conecta com
diversas expressões estéticas, culturais, técnicas e sociais, que deu origem a
espetáculos que percorreram, e ainda percorrem, desde os menores vilarejos até
os grandes centros urbanos brasileiros (Lopes; Silva, 2014). O circo se configura
como uma forma de arte multifacetada, a partir de uma diversidade de corpos
que se destacam pelas habilidades “extraordinárias” que podem realizar,
explorando limites, indo além das capacidades físicas, sem restrições ou
trajetórias predefinidas. O cerne do seu processo criativo reside em explorar as
capacidades únicas de cada indivíduo com seu corpo, originando uma
performance artística dessas descobertas: “o circo combina desafio e habilidade,
seja no voo ou na aterrissagem segura, na altura ou no equilíbrio preciso, na
propulsão ou em acrobacias complexas” (Tucunduva; Bortoleto, 2019, p. 11).
A partir dessas perspectivas, e da mesma forma como inúmeras instituições
educativas brasileiras encontram um caminho para a inserção do circo por meio
da extensão universitária, foi oferecido na UFMS, um projeto extensão de
atividades circenses “Redescobrindo o circo como recurso pedagógico”, vinculado
ao curso de Educação Física, coordenado pelo professor Rogério Zaim-de-Melo,
que teve como principal objetivo colaborar com a formação de futuros(as)
professores(as), colocando-os(as) no lugar de protagonistas e atores, rompendo
as barreiras da timidez e da insegurança e, ao mesmo tempo, no caso dos(as)
acadêmicos(as) de um curso de formação de professores, oferecendo a
possibilidade de um conhecimento democrático, que aceita todos os padrões
corporais e opções de gênero e sexualidade.
O projeto consiste em dois encontros semanais, com duração de duas horas.
No primeiro semestre, as atividades são organizadas em duas partes. A primeira
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consiste em alongamentos, exercícios de consciência corporal e acrobacias
individuais e em grupo. Na segunda, são apresentadas as diversas modalidades
circenses (malabarismo, equilíbrio – de objetos e sobre objetos, acrobacias aéreas
tecido e lira, antipodismo e acrobacias realizadas com minitrampolim). No
segundo semestre, a organização é semelhante, diferindo na participação de
acadêmicos(as) que praticam as modalidades nas quais adquiriram afinidade,
realizando uma espécie de treinamento mais direcionado (Zaim-de-Melo; Godoy;
Santos Rodrigues, 2021).
Um barco, um rio, um circo
Para a retomada efetiva do projeto, no início do segundo semestre, entramos
em contato com a Secretaria Municipal de Educação (SEMED), explicando nossa
intenção de levar a arte circense para duas das escolas das águas, localizadas no
Alto Pantanal9. Com o apelo: “nos um barco que faremos um circo”, nossa
solicitação foi prontamente aceita, com apenas um senão: a SEMED
disponibilizaria a lancha, o piloteiro, mas não tinha condições de fornecer o
combustível para a nossa viagem. Para solucionar esse problema, fizemos um
crowdfunding
e, em menos de 15 dias, havíamos alcançado o valor necessário.
As escolas escolhidas para a recepção do espetáculo de circo foram: Jatobazinho
e Paraguai Mirim, unidades de ensino que distam 104 km e 140 km,
respectivamente, do Porto Geral (PG) de Corumbá (Figura 1). O trajeto é feito de
lancha, rio acima, e dura 3h30 até a Jatobazinho, e aproximadamente mais 40
minutos que isso até Paraguai Mirim. Por ser mais próxima, além de ser palco de
uma das apresentações, a escola Jatobazinho funcionou, também, como
alojamento dos(as) acadêmicos(as) e como ponto de apoio, camarim e pouso.
9 O Pantanal sul-mato-grossense é dividido em três áreas distintas, cuja referência para distingui-las é a
distância do Porto Geral (PG), localizado na região central do município de Corumbá. São elas: o Alto Pantanal,
situado na divisa com o estado do Mato Grosso, localizado a aproximadamente a 320 km do PG; o Médio
Pantanal, ou Região do Taquari, localizado a aproximadamente 180 km do PG; e, o Baixo Pantanal, localizado
a aproximadamente 280 km do PG.
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Figura 1 Escolas escolhidas - Fotos: Autor
Posteriormente, após a solução do problema do combustível, foram tomadas
algumas decisões sobre o formato do espetáculo, as pessoas que comporiam a
trupe, o figurino, entre outras. Para a definição do tipo de espetáculo, nos
amparamos nas ideias do pesquisador e produtor Rodrigo Matheus (2011), que
discorre sobre os tipos de espetáculos circenses. Os(as) acadêmicos(as) do projeto
de extensão foram consultados(as) sobre o que gostariam de apresentar, como
contar histórias, seguir um tema ou fazer uma montagem com um formato de
espetáculo similar aos circos de lona itinerante, apresentando uma sequência de
números circenses diversos (Lopes; Silva, 2020). Optamos por este último e, assim,
iniciou-se a preparação dos números; quem seriam os(as) artistas, dependia da
sua participação na construção de uma composição cênica, na qual apresentaria
suas ideias e suas habilidades circenses.
Para definição do grupo de acadêmicos(as), utilizou-se como critério de
escolha ter disponibilidade de tempo e ter condições de participar em mais de um
número, sendo indispensável a apresentação de palhaços.
A elaboração dos números circenses não seguiu uma ordem específica. Em
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geral, os(as) acadêmicos(as) que desejavam integrar o grupo de artistas que se
apresentaria nas escolas das águas se encontravam em horários distintos do
projeto de extensão, dedicando-se à criação de seus números em momentos
separados. Posteriormente, com os números criados, eles se apresentavam para
o restante do grupo. Essa exposição foi crucial, pois marcou um período de
aprimoramento, com sugestões e possíveis recriações sendo discutidas.
Alguns(mas) acadêmicos(as) quiseram levar números de modalidades aéreas,
como tecido ou lira, porém, devido a questões técnicas e de segurança não foi
possível incluí-las no roteiro, pois não teríamos tempo para instalar os
equipamentos, tampouco conhecíamos as estruturas para a instalação de maneira
segura.
Paulatinamente, o espetáculo foi ganhando forma e contamos com uma
participação especial, a do professor de circo, Mauro Shiroma, um ex-participante
do projeto de extensão que, após sua graduação em educação física, fundou a
Vivart espaço de ensino de atividades circenses em 2016. Assim, o coletivo
circense Los Pantaneiros10 se preparava para mais uma apresentação.
O espetáculo teve duração de 45min e contou com 10 números. Os números
do espetáculo foram: abertura do circo (com todos os participantes); duo
acrobático (realizado com duas duplas); valsa dos palhaços (ao som de uma valsa
vienense, os palhaços fazem uma paródia com o balé); malabarismo com
swing
flag
(número com vários tipos de
flag
– triplo
big rainbow
, quadrado e triangular);
número cômico “A domadora e o leão”; equilibrismo em rola-rola; malabarismo
com lenços e bolinhas; pratos de equilíbrio; abelha, abelhinha11; bambolês
dançantes (desafio entre a plateia e os artistas); e o
grand finale
. Os figurinos
utilizados foram doados pelas escolas de samba Vila Mamona e A Pesada,
elaborados com tecidos, como lamê, tafetá e aplicações em rendas e paetês.
Esse processo de construção do espetáculo levou em torno de 45 dias. Nesse
processo, pautados em Aguiar e Carrieri (2016), buscou-se dos(as) acadêmicos(as)
dedicação intensa, trabalho árduo e um comprometimento profundo, tanto físico
10 Este é o nome utilizado pelo grupo de acadêmicos, quando realizam apresentações circenses.
11 Reprise clássica em apresentações de palhaços, extraída do livro “Palhaços” (Bolognesi, 2003).
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quanto emocional.
No dia 31 de outubro de 2023, às 6h da manhã, embarcaram em um dos
barcos de apoio às escolas das águas da SEMED, de Corumbá (Figura 2), no Porto
Geral, os(as) acadêmicos(as) artistas circenses, o professor Mauro e o professor
Rogério, coordenador do projeto, carregados com 12 tatames, 2 bambolês, uma
mala de figurinos e a certeza de que estavam prestes a viver uma experiência
única e inesquecível, levando a arte circense para as crianças das águas, tão
carentes de ações culturais.
Figura 2 Embarque - Foto: Autor
Após 3h35 de viagem, atracamos na escola Jatobazinho, quando se iniciou o
encantamento dos(as) acadêmicos(as), que até então não tinham a dimensão real
de como era uma escola das águas, sua proximidade do rio, de como seria a
acolhida dos professores e demais agentes educacionais que trabalham naqueles
espaços.
Em um primeiro momento, estava decidido que utilizaríamos o alojamento
da escola como camarim e, devidamente vestidos, seguiríamos para a escola
Paraguai Mirim, mas um problema na embarcação que busca e leva as crianças
para escola não permitiu a nossa ida, pois a instituição estava sem alunos naquele
dia. Mais uma lição para todos nós. Mesmo que o planejamento seja feito com
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todo o cuidado, quando se trata das águas pantaneiras, imprevistos acontecem.
Foi necessário recalcular a rota, e a primeira apresentação aconteceria na Escola
Jatobazinho. Em conversa com a coordenadora da escola, decidimos que a
apresentação seria realizada no final do dia letivo, e que nós, artistas, faríamos um
cortejo pela escola, chamando os alunos para assistir ao espetáculo, como era
realizado nas cidades brasileiras no século XX, levando o encantamento e a magia
do circo, quebrando a rotina dos citadinos brasileiros (Rocha, 2012), no nosso caso,
dos(as) alunos(as) da escola.
As ideias da coordenadora foram repassadas para os(as) acadêmicos(as) e,
em conjunto, escolhemos a música que utilizaríamos: “Piruetas”, de Chico Buarque.
Iniciamos a “transformação” de acadêmicos(as) em circenses, fazendo
maquiagem, vestindo os figurinos e nos preparando para iniciar as apresentações.
Às 16h30, ao som de “Piruetas”, iniciamos o nosso cortejo. Passamos pelo
ateliê de artes, onde as crianças estavam em atividade. Então, abrimos a porta
para convidá-las para o espetáculo. Em um primeiro momento, observamos. Os
olhares de espanto e a desconfiança rapidamente se transformaram em alegria e
curiosidade. Após esse primeiro convite, seguimos, artistas e crianças (Figura 3),
em direção às salas de aula.
Figura 4 Cortejo circense - Foto: Autor
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Finalizado o cortejo, os alunos tomaram seus lugares na plateia e o
espetáculo foi iniciado. O mestre de cerimônia iniciou com a clássica saudação:
“Respeitável público, o espetáculo vai começar! Mas antes, eu preciso perguntar:
vocês foram a um circo?” A resposta foi um sonoro “Nããããooo!” exceto seis
crianças que responderam afirmativamente. Então, o mestre de cerimônia
perguntou: “Onde?” E uma menina respondeu: “Ué, aqui, quando vocês vieram da
outra vez!”12 O espetáculo aconteceu como o esperado, muitas risadas e aplausos,
tendo na reprise “abelha, abelhinha”, o momento de maior êxtase.
Terminada a apresentação, os integrantes do grupo ficaram no local por mais
um momento, para registros fotográficos com as crianças, e se retiraram para o
alojamento, onde realizaram uma roda de conversa com o intuito de avaliar o que
havia sido feito, buscar soluções para os erros que aconteceram e externar as
sensações despertadas, pois, para todos(as) os(as) acadêmicos(as) presentes
tratou-se da estreia oficial em um “picadeiro”. “O posicionamento cênico” foi o
principal tema, pois nos números cômicos, em alguns momentos, os “artistas”
ficaram de costas para o público; outro tópico levantado referia-se ao mestre de
cerimônia, ao qual foi solicitado que tentasse interagir ainda mais com a plateia,
guiando o espetáculo, pois, como era a primeira vez que muitos dos espectadores
assistiam a um espetáculo circense, às vezes, não sabiam a hora certa de aplaudir,
ou mostravam-se tímidos durante as apresentações. Após a roda de conversa,
ficou acordado que na apresentação seguinte o coletivo prestaria mais atenção
nas questões levantadas.
Como a escola Jatobazinho13 serviu de base para a nossa aventura, tivemos
a oportunidade de conversar com alguns alunos durante o jantar. Perguntamos a
eles: “Do que vocês mais gostaram?” As respostas foram variadas: “De todos!”,
“Dos palhaços!”, “Das irmãs!” (número de duo acrobático que foi apresentado como
se as meninas que se apresentavam fossem irmãs). Mas uma resposta chamou a
nossa atenção: “Gostei de tudo! Nunca vi nada tão lindo! Todo mundo chique! Tudo
12 Em 2019, foi realizado o projeto de extensão O circo vai a uma Escola das Águas, com atividades e
apresentações circenses nessa escola.
13 A escola Jatobazinho funciona em regime de alternância, um internato semanal no qual as crianças chegam
segunda-feira, permanecem na escola até sábado, quando retornam a suas casas.
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brilhoso! Não consigo escolher um!”14 Todas essas frases vieram juntas com um
brilho no olhar e com um sorriso que chegava direto ao coração de quem via e
escutava.
Para a apresentação na escola Paraguai Mirim (Figura 4), todos precisaram
despertar mais cedo para maquiagem, pequenos concertos no figurino e para
iniciar o processo de concentração. Às 8h30 do dia de novembro, devidamente
vestidos e maquiados, embarcamos para a nova “praça”, mais carente e
desfavorecida. A realidade dessa escola evidenciava, mais uma vez, a disparidade
entre as instituições escolares. Enquanto a escola Jatobazinho é gerida por uma
parceria público-privada, entre a prefeitura e a organização social privada “Instituto
Acaia” com salas de aula, biblioteca, ateliê de arte, piscina, refeitório, alojamentos
para alunos, professores e visitantes –, a Paraguai Mirim é gerida apenas com os
recursos da prefeitura e representa a realidade das escolas das águas, com salas
multisseriadas, total dependência do poder público, entre outros. Mesmo assim, a
escola que nos recebeu de braços abertos.
na nossa chegada, tomamos o primeiro choque de realidade, para que
desembarcássemos do barco foi utilizada uma rampa feita com uma tábua, muito
semelhante a uma pinguela15, descemos a aproximadamente 30 metros da escola,
em uma parte da área alagável que estava seca. Já no terreno da escola, fizemos
a montagem dos tatames, onde seria nosso picadeiro. Ao contrário do que ocorreu
no primeiro espetáculo, no qual o convite para as crianças foi feito na forma de
um cortejo, na escola Paraguai Mirim, após a montagem do picadeiro, todos os
circenses foram para a biblioteca. As crianças vieram das suas salas, as maiores e
as professoras trouxeram suas cadeiras e as menores sentaram-se no chão.
Depois de todos acomodados, ao som de
Entry of gladiators
”,
de Julius Fucik, sob
a sombra de uma frondosa mangueira, tendo o rio Paraguai como cenário, foi
iniciado o espetáculo para comunidade escolar.
14 Segundo o professor B (EJ): “No outro dia, as crianças ficaram falando como a roupa deles era linda”.
15 Tronco ou viga que se atravessa sobre um riacho para servir de ponte.
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Figura 5 Mosaico escola Paraguai Mirim - Foto: Autor
No início do espetáculo, o mestre de cerimônia saudou a plateia e perguntou
para as crianças se elas tinham ido a um circo, a resposta também foi um sonoro
“não”. Escolas diferentes, reações muito semelhantes da audiência. O show foi
apresentado e aplaudido por todos(as), com olhares curiosos das crianças
encantadas, que não sabiam se sorriam, se aplaudiam ou se ficavam com a “boca
aberta”. Uma professora chegou às lágrimas de tanto sorrir. Almoçamos com a
escola e quando estávamos nos preparando para embarcar, um aluno de mais ou
menos 8 anos falou: “Promete que vocês vão voltar?”
Subimos no barco com a sensação de dever cumprido, mas com o desejo de
poder oferecer mais. No retorno, paramos na Jatobazinho para recolher nossa
bagagem e fomos surpreendidos com 49 desenhos que cada criança da escola
tinha elaborado, pensando no que mais tinha gostado da apresentação. Nesses
desenhos, todos os circenses foram contemplados. Alguns representavam o
momento da inspiração (Figura 5), outros remetiam aos números apresentados e
a personagens trabalhadas no espetáculo. E assim, com o coração repleto de
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alegria e a mala cheia de desenhos, retornamos para Corumbá.
Figura 6 Mosaico artistas e desenhos - Foto: Autor
Se a ida para as escolas das águas foi repleta de expectativas, o retorno para
o Porto Geral foi guiado pela satisfação. Os(as) acadêmicos(as) entraram em um
estado de calmaria, contemplando a paisagem, num silêncio apaziguador.
A experiência sob a ótica dos acadêmicos-artistas16
Como a experiência de ir às escolas das águas afetou os(as) acadêmicos?
Entendemos a experiência como algo que se conecta ao sujeito, deixando
16 Unimos os vocábulos acadêmico e artista, por considerar que durante a realização do projeto, esse acadêmico
momentaneamente ocupou um lugar sob os “holofotes”, embora entendamos que para ser um artista de
circo, são necessários anos de estudos e treinamentos.
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impressões duradouras, em contraste com simples informações adquiridas. Talvez
seja essa a grande distinção entre experienciar e vivenciar. A experiência é o que
afeta e deixa marcas no sujeito, provocando deslocamentos e alterações sutis,
algo que ganha eficácia mais pela intensidade do que pela frequência (Larrosa,
2016).
Para capturar esses afetos e narrar a experiência de proporcionar a alunos(as)
das escolas das águas a oportunidade de assistir a um espetáculo circense e para
descrever o encontro dessas crianças com o circo, sob o ponto de vista do(a)
acadêmico(a) artista)17, foi realizada, em Corumbá, uma roda de conversa com
todos os participantes da expedição. O tema central foi a importância da sua
participação do projeto “O circo vai à escola”.
Duas falas dos acadêmicos merecem destaque, pois relatam sentimentos,
como a ansiedade, misturada com a insegurança de explorar águas que ainda não
foram navegadas, como nos apresenta um dos nossos acrobatas:
Primeiro eu estava ansioso, com frio na barriga. Quando eu vi a primeira
escola, fui me acalmando [...]. Após as apresentações, a alegria tomou conta de
mim, pois tudo ocorreu conforme nós planejamos [...] agora eu entendi o que o
professor Pardal sempre fala, o que você faz é importante. Foi a primeira vez que
percebi verdadeiramente a importância do que eu fazia refletida nos rostos das
crianças. (Acrobata).
O olhar encantado das crianças me tocou, eu vi surpresa, vi risada, vi
felicidade, o mais legal foi que, embora o espetáculo foi para elas, elas deixaram
de ser o “respeitável público” para fazer parte do show. (Equilibrista).
A apresentação foi experimentada através do olhar da criança, como vimos
na fala dos(as) acadêmicos(as) que perceberam a potencialidade das suas ações,
nas quais seus corpos foram a ferramenta propulsora desse processo, pois com
eles fizeram “a transgressão do possível e a realização do impossível” (Bolognesi,
2003, p. 187).
17 Todos(as) os(as) participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorizando
a sua participação neste relato. O termo também foi enviado aos responsáveis pelas crianças, antes da ida a
escola.
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Diante da conversa com os acadêmicos é possível apontar que as crianças
das duas escolas foram afetadas pela estética apresentada, pelo fascínio do corpo
circense que, como afirma Bolognesi (2001, p. 103), “deixa de lado a roupa cotidiana
que o esconde para se mostrar em sua grandeza contraditória [...],
espetacularmente ele se desnuda para revelar toda a sua potencialidade”, e por
ter visto, mesmo que temporariamente, a magia do seu quintal transformado em
picadeiro.
Assim como foi na experiência anterior (Zaim-de-Melo
et al.,
2021), os
espetáculos tornaram-se momentos verdadeiramente extraordinários tanto para
as crianças quanto para os(as) acadêmicos(as), com sorrisos, gargalhadas,
surpresas, transe e a sensação de “perda de fôlego”.
Dessa forma, mais uma vez, destaca-se a riqueza dessas experiências
extensionistas que tocam não somente os(as) acadêmicos(as) e a universidade
como um todo, mas também a comunidade, que se enriquece com experiências
diversas. E assim, graças a esse tipo de ação, promovida por pessoas convencidas
da potência da arte circense, vamos contribuindo, como destacam Miranda e
Ayoub (2017) ou Ontañón e Oliveira (2023), a legitimar essa arte nos diversos
âmbitos educativos e, principalmente, a fortalecer e estreitar a necessária relação
entre sociedade e universidade.
Considerando afetos
Estar em uma escola das águas é uma experiência extraordinária. A beleza
do Pantanal, por si só, valeria a viagem, mas encontrar crianças tão carentes de
ações culturais, que quando viram o nosso circo brilharam os olhos e nos
convidaram para voltar, é algo quase impossível de se mensurar, mostrando um
caminho de como é possível mudar a realidade dessas crianças. Não importa o
grau de dificuldade da acrobacia que você realiza, e sim a intensão do motivo pelo
qual você a executa. Acadêmicos(as) se transformaram em circenses, palhaços,
malabaristas, equilibristas, domadores, e se doaram para que os(as) alunos(as)
tivessem uma experiência inesquecível, como um dia aconteceu com eles
mesmos, quando crianças, com o circo.
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Nesse cenário, afirmamos que jamais se emerge de uma experiência desse
tipo sem passar por mudanças. Essa foi uma das metas do projeto: levá-los a se
apresentar em um picadeiro, envolver a plateia e a si mesmos em um lugar no
qual as emoções os conduziriam a se distanciar de suas individualidades. Assim,
algo se alterou, seja na superfície, nas profundezas ou ao redor. O cerne do ser
ascendeu à superfície, e tudo sofreu uma metamorfose, estávamos retornando
após uma grande odisseia, e mesmo que nada tivesse mudado, os(as)
acadêmicos(as) já eram outros e as crianças das águas também.
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Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Teatro
PPGT
Centro de Arte CEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
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