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Narrativas pandêmicas: entrevista com
Mônica Augusto e Ivan Bernardelli
Entrevista com Mônica Augusto e Ivan Bernardelli
Concedida à Flávia Brassarola Borsani Marques
Para citar este artigo:
AUGUSTO, Mônica; BERNARDELLI, Ivan; MARQUES, Flávia
Brassarola Borsani. Narrativas pandêmicas: entrevista com
Mônica Augusto e Ivan Bernardelli.
Urdimento -
Revista de
Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v.2, n.51, p.1-24,
jul. 2024.
DOI: 10.5965/1414573102512024e0503
A Urdimento está licenciada com: Licença de Atribuição Creative Commons (CC BY 4.0)
Narrativas pandêmicas: entrevista com Mônica Augusto e Ivan Bernardelli
Entrevista com Mônica Augusto e Ivan Bernardelli concedida à Flávia Brassarola Borsani Marques
Florianópolis, v.2, n.51, p.1-24, jul. 2024
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Narrativas pandêmicas: entrevista com Mônica Augusto e Ivan Bernardelli
Entrevista com Mônica Augusto1 e Ivan Bernardelli2
Concedida a Flávia Brassarola Borsani Marques3
Resumo
A pandemia da covid-19 gerou uma crise global na saúde, impactando profundamente as
atividades artísticas e culturais em todo o mundo, incluindo o Brasil. Como pesquisadora,
senti a necessidade de investigar o impacto desse cenário na produção de dança. Para isso,
entrevistei artistas da cena contemporânea paulistana, incluindo Mônica Augusto e Ivan
Bernardelli, diretores da Cia. Dual, para compreender como enfrentaram os desafios e
redesenharam suas abordagens diante dessa realidade única. Suas narrativas revelam não
apenas a adaptação, mas também a resiliência e a reinvenção necessárias para sobreviver e
resistir nesse novo contexto.
Palavras-chave:
Pandemia. Dança. Cia. Dual. nica Augusto. Ivan Bernardelli.
Pandemic narratives: interview with Mônica Augusto and Ivan Bernardelli
Abstract
The covid-19 pandemic came about a global health crisis, deeply impacting artistic and
cultural activities worldwide, including Brazil. As a researcher, I felt the need to investigate
the repercussions of this scenario on dance production. I conducted interviews with artists
from the contemporary scene in São Paulo, including Mônica Augusto and Ivan Bernardelli,
directors of Cia. Dual, to understand how they faced the challenges and redesigned their
approaches in this unique reality. Their narratives unveil not only adaptation but also the
resilience and reinvention required to survive and resist in this new context.
Keywords:
Pandemic. Dance. Cia. Dual. Mônica Augusto. Ivan Bernardelli.
Narrativas de la pandemia: entrevista a Mônica Augusto y Ivan Bernardelli
Resumen
La pandemia de Covid-19 ha desencadenado una crisis global en la salud, impactando
profundamente las actividades artísticas y culturales en todo el mundo, incluyendo Brasil.
Como investigadora, sentí la necesidad de investigar el impacto de este escenario en la
producción de danza. Por ello, entrevisté a artistas de la escena contemporánea paulistana,
entre ellos Mônica Augusto e Ivan Bernardelli, directores de la Cia. Dual, para comprender
cómo afrontaron los desafíos y rediseñaron sus enfoques ante esta realidad única. Sus
narrativas no solo revelan la adaptación, sino también la resiliencia y la reinvención
necesarias para sobrevivir y resistir en este nuevo contexto.
Palabras-Clave:
Pandemia. Danza. Cia. Dual. nica Augusto. Ivan Bernardelli.
1 Graduada em Comunicação das Artes do Corpo pela Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Formada na Escola de Artes Dramáticas (EAD) da Universidade de São Paulo (USP). Atriz, dançarina, cantora
e educadora. dual.cena@gmail.com
2 Mestrando em Artes da Cena da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Graduado em Arquitetura e
Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP). Diretor, coreógrafo e bailarino da Cia. Dual.
dual.cena@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/6532120105999743 https://orcid.org/0000-0003-0187-4909
3 Pós-doutoranda em Arte pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora em Educação Física
pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mestra em Arte e Educação pela Universidade Estadual
Paulista (Unesp). Especialização em Processos didático-pedagógicos para cursos na modalidade a distância
pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). Graduada em Dança pela Universidade Federal
de Viçosa (UFV). Professora de Arte no Colégio Franciscano Pio XII (São Paulo) e professora da Pós-graduação
em Dança e Consciência Corporal (Universidade Estácio de Sá). flaviaborsani@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/1195053062026963 https://orcid.org/0000-0003-0365-5048
Narrativas pandêmicas: entrevista com Mônica Augusto e Ivan Bernardelli
Entrevista com Mônica Augusto e Ivan Bernardelli concedida à Flávia Brassarola Borsani Marques
Florianópolis, v.2, n.51, p.1-24, jul. 2024
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Introdução
Figuras 1 e 2 Mônica Augusto - Foto: Carlos Sales e Ivan Bernardelli.
Foto: Divulgação/Mídia Pente Fino4.
Durante a pandemia da covid-19, um vírus desenhou um cenário imprevisível
de grave crise de saúde pública mundial, o qual não obrigou a população
mundial a adotar medidas de isolamento social e de higiene, mas também afetou
drasticamente a economia de muitos países, dentre os quais, tristemente, cito o
Brasil.
As atividades artísticas e culturais estão entre as primeiras que foram
suspensas e uma das últimas a voltarem à normalidade. Em um primeiro
movimento, a Arte, em sua diversidade de linguagem, fez-se presente nas sacadas,
nas
lives
, em variados espaços e formatos na tentativa de trazer alento e
esperança ou, simplesmente, apresentou-se como passatempo, distração e
entretenimento. Artistas se mobilizaram para realizar apresentações; outros
utilizaram a temática como forma de expressão; outros pararam para entender o
que está/estava acontecendo; e outros partiram ao ser acometidos pela doença.
Os cômodos das casas viraram palcos, ateliês e as plataformas e ferramentas
online passaram a ser conhecidas e mais utilizadas para não deixarem as pessoas
sem espetáculos.
4 Imagens disponíveis em https://eurbanidade.com.br/entrevista-com-monica-augusto-e-ivan-bernardelli-
blog-e-urbanidade/. Acesso em: jun. 2023.
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Entrevista com Mônica Augusto e Ivan Bernardelli concedida à Flávia Brassarola Borsani Marques
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Vivenciar essa pandemia e acompanhar artistas, grupos e companhias neste
cenário pandêmico, despertou em mim uma necessidade de investigar esse
contexto. Como pesquisadora, decidi ampliar a escuta para aqueles que
produziram dança nesse período tão diferenciado e desafiador. Para isso, quis ouvir
as narrativas, por meio de entrevistas, dos sujeitos que produziram dança na época
e como eles narraram e significaram sua experiência em relação ao corpo
dançante nessa circunstância. Dentre os artistas que participaram do estudo
intitulado "Narrativas pandêmicas: modos de produção da dança contemporânea
na cena paulistana"”5, estão Mônica Augusto e Ivan Bernardelli, que além de
companheiros, partilham a direção da Cia. Dual, companhia da cena
contemporânea da cidade de São Paulo que realiza espetáculos, ações
pedagógicas e artísticas a partir de mitologias e fenômenos históricos associados
à cultura brasileira.
É importante ressaltar que a delimitação dos participantes da referida
pesquisa de doutorado seguiu o critério de relevância e destaque no cenário
paulistano da dança contemporânea, englobando companhias oficiais e artistas,
grupos, companhias e/ou coletivos independentes6. Dentre os independentes,
foram selecionados aqueles que são reconhecidos pelas suas atuações no cenário
elencado, assim como pela crítica especializada com diversas premiações e
indicações pela APCA7 e pelo Prêmio Denilto Gomes8 nos últimos dez anos,
5 Estudo desenvolvido sob orientação do professor doutor Odilon José Roble no Programa de pós-graduação
em Educação Física da Unicamp. Além da tese, o estudo resultou na criação do documentário "Narrativas
Pandêmicas" em parceria com a artista visual Natalia Pilati e cessão de entrevistas e materiais pelos artistas
participantes e seus coletivos. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KVd34GDkV-o.
6 É necessário ressaltar a importância de ter estes dois tipos de amostra no referido estudo, que as
companhias oficiais diferem das "independentes" em relação à estrutura de trabalho e organização, à forma
como provém a verba para a manutenção, à produção e circulação de suas obras. As companhias
identificadas como oficiais são mantidas pelas gestões estaduais e municipais, com financiamento público
por meio de orçamentos diretos aprovados anualmente. as independentes procuram outras formas de
garantir verbas para criação, circulação de suas obras e manutenção do elenco, tais como editais de
patrocínio e leis de incentivo. Os participantes identificados como independentes selecionados neste estudo,
diferente das companhias oficiais que são subsidiadas com verba pública, possuem em seu histórico
projetos contemplados pela "Lei de Fomento à Dança da Cidade de São Paulo"
e/ou ProAc e/ou outros
editais de patrocínio.
7 Prêmio APCA é um prêmio brasileiro criado em 1956 pela Associação Paulista de Críticos Teatrais
(atual Associação Paulista de Críticos de Arte). Os ganhadores do Prêmio APCA são escolhidos anualmente
entre o final de novembro e o início de dezembro, durante a reunião dos críticos membros da APCA.
8 O Prêmio Denilto Gomes foi criado em 2013 pela Cooperativa Paulista com o propósito de difundir e
reconhecer o trabalho do artista paulista. A premiação anual é submetida à escolha de uma comissão
previamente nomeada.