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Narrativas pandêmicas: entrevista com
Mônica Augusto e Ivan Bernardelli
Entrevista com Mônica Augusto e Ivan Bernardelli
Concedida à Flávia Brassarola Borsani Marques
Para citar este artigo:
AUGUSTO, Mônica; BERNARDELLI, Ivan; MARQUES, Flávia
Brassarola Borsani. Narrativas pandêmicas: entrevista com
Mônica Augusto e Ivan Bernardelli.
Urdimento -
Revista de
Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v.2, n.51, p.1-24,
jul. 2024.
DOI: 10.5965/1414573102512024e0503
A Urdimento está licenciada com: Licença de Atribuição Creative Commons (CC BY 4.0)
Narrativas pandêmicas: entrevista com Mônica Augusto e Ivan Bernardelli
Entrevista com Mônica Augusto e Ivan Bernardelli concedida à Flávia Brassarola Borsani Marques
Florianópolis, v.2, n.51, p.1-24, jul. 2024
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Narrativas pandêmicas: entrevista com Mônica Augusto e Ivan Bernardelli
Entrevista com Mônica Augusto1 e Ivan Bernardelli2
Concedida a Flávia Brassarola Borsani Marques3
Resumo
A pandemia da covid-19 gerou uma crise global na saúde, impactando profundamente as
atividades artísticas e culturais em todo o mundo, incluindo o Brasil. Como pesquisadora,
senti a necessidade de investigar o impacto desse cenário na produção de dança. Para isso,
entrevistei artistas da cena contemporânea paulistana, incluindo Mônica Augusto e Ivan
Bernardelli, diretores da Cia. Dual, para compreender como enfrentaram os desafios e
redesenharam suas abordagens diante dessa realidade única. Suas narrativas revelam não
apenas a adaptação, mas também a resiliência e a reinvenção necessárias para sobreviver e
resistir nesse novo contexto.
Palavras-chave:
Pandemia. Dança. Cia. Dual. nica Augusto. Ivan Bernardelli.
Pandemic narratives: interview with Mônica Augusto and Ivan Bernardelli
Abstract
The covid-19 pandemic came about a global health crisis, deeply impacting artistic and
cultural activities worldwide, including Brazil. As a researcher, I felt the need to investigate
the repercussions of this scenario on dance production. I conducted interviews with artists
from the contemporary scene in São Paulo, including Mônica Augusto and Ivan Bernardelli,
directors of Cia. Dual, to understand how they faced the challenges and redesigned their
approaches in this unique reality. Their narratives unveil not only adaptation but also the
resilience and reinvention required to survive and resist in this new context.
Keywords:
Pandemic. Dance. Cia. Dual. Mônica Augusto. Ivan Bernardelli.
Narrativas de la pandemia: entrevista a Mônica Augusto y Ivan Bernardelli
Resumen
La pandemia de Covid-19 ha desencadenado una crisis global en la salud, impactando
profundamente las actividades artísticas y culturales en todo el mundo, incluyendo Brasil.
Como investigadora, sentí la necesidad de investigar el impacto de este escenario en la
producción de danza. Por ello, entrevisté a artistas de la escena contemporánea paulistana,
entre ellos Mônica Augusto e Ivan Bernardelli, directores de la Cia. Dual, para comprender
cómo afrontaron los desafíos y rediseñaron sus enfoques ante esta realidad única. Sus
narrativas no solo revelan la adaptación, sino también la resiliencia y la reinvención
necesarias para sobrevivir y resistir en este nuevo contexto.
Palabras-Clave:
Pandemia. Danza. Cia. Dual. nica Augusto. Ivan Bernardelli.
1 Graduada em Comunicação das Artes do Corpo pela Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Formada na Escola de Artes Dramáticas (EAD) da Universidade de São Paulo (USP). Atriz, dançarina, cantora
e educadora. dual.cena@gmail.com
2 Mestrando em Artes da Cena da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Graduado em Arquitetura e
Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP). Diretor, coreógrafo e bailarino da Cia. Dual.
dual.cena@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/6532120105999743 https://orcid.org/0000-0003-0187-4909
3 Pós-doutoranda em Arte pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora em Educação Física
pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mestra em Arte e Educação pela Universidade Estadual
Paulista (Unesp). Especialização em Processos didático-pedagógicos para cursos na modalidade a distância
pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). Graduada em Dança pela Universidade Federal
de Viçosa (UFV). Professora de Arte no Colégio Franciscano Pio XII (São Paulo) e professora da Pós-graduação
em Dança e Consciência Corporal (Universidade Estácio de Sá). flaviaborsani@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/1195053062026963 https://orcid.org/0000-0003-0365-5048
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Entrevista com Mônica Augusto e Ivan Bernardelli concedida à Flávia Brassarola Borsani Marques
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Introdução
Figuras 1 e 2 Mônica Augusto - Foto: Carlos Sales e Ivan Bernardelli.
Foto: Divulgação/Mídia Pente Fino4.
Durante a pandemia da covid-19, um vírus desenhou um cenário imprevisível
de grave crise de saúde pública mundial, o qual não obrigou a população
mundial a adotar medidas de isolamento social e de higiene, mas também afetou
drasticamente a economia de muitos países, dentre os quais, tristemente, cito o
Brasil.
As atividades artísticas e culturais estão entre as primeiras que foram
suspensas e uma das últimas a voltarem à normalidade. Em um primeiro
movimento, a Arte, em sua diversidade de linguagem, fez-se presente nas sacadas,
nas
lives
, em variados espaços e formatos na tentativa de trazer alento e
esperança ou, simplesmente, apresentou-se como passatempo, distração e
entretenimento. Artistas se mobilizaram para realizar apresentações; outros
utilizaram a temática como forma de expressão; outros pararam para entender o
que está/estava acontecendo; e outros partiram ao ser acometidos pela doença.
Os cômodos das casas viraram palcos, ateliês e as plataformas e ferramentas
online passaram a ser conhecidas e mais utilizadas para não deixarem as pessoas
sem espetáculos.
4 Imagens disponíveis em https://eurbanidade.com.br/entrevista-com-monica-augusto-e-ivan-bernardelli-
blog-e-urbanidade/. Acesso em: jun. 2023.
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Vivenciar essa pandemia e acompanhar artistas, grupos e companhias neste
cenário pandêmico, despertou em mim uma necessidade de investigar esse
contexto. Como pesquisadora, decidi ampliar a escuta para aqueles que
produziram dança nesse período tão diferenciado e desafiador. Para isso, quis ouvir
as narrativas, por meio de entrevistas, dos sujeitos que produziram dança na época
e como eles narraram e significaram sua experiência em relação ao corpo
dançante nessa circunstância. Dentre os artistas que participaram do estudo
intitulado "Narrativas pandêmicas: modos de produção da dança contemporânea
na cena paulistana"”5, estão Mônica Augusto e Ivan Bernardelli, que além de
companheiros, partilham a direção da Cia. Dual, companhia da cena
contemporânea da cidade de São Paulo que realiza espetáculos, ações
pedagógicas e artísticas a partir de mitologias e fenômenos históricos associados
à cultura brasileira.
É importante ressaltar que a delimitação dos participantes da referida
pesquisa de doutorado seguiu o critério de relevância e destaque no cenário
paulistano da dança contemporânea, englobando companhias oficiais e artistas,
grupos, companhias e/ou coletivos independentes6. Dentre os independentes,
foram selecionados aqueles que são reconhecidos pelas suas atuações no cenário
elencado, assim como pela crítica especializada com diversas premiações e
indicações pela APCA7 e pelo Prêmio Denilto Gomes8 nos últimos dez anos,
5 Estudo desenvolvido sob orientação do professor doutor Odilon José Roble no Programa de pós-graduação
em Educação Física da Unicamp. Além da tese, o estudo resultou na criação do documentário "Narrativas
Pandêmicas" em parceria com a artista visual Natalia Pilati e cessão de entrevistas e materiais pelos artistas
participantes e seus coletivos. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KVd34GDkV-o.
6 É necessário ressaltar a importância de ter estes dois tipos de amostra no referido estudo, que as
companhias oficiais diferem das "independentes" em relação à estrutura de trabalho e organização, à forma
como provém a verba para a manutenção, à produção e circulação de suas obras. As companhias
identificadas como oficiais são mantidas pelas gestões estaduais e municipais, com financiamento público
por meio de orçamentos diretos aprovados anualmente. as independentes procuram outras formas de
garantir verbas para criação, circulação de suas obras e manutenção do elenco, tais como editais de
patrocínio e leis de incentivo. Os participantes identificados como independentes selecionados neste estudo,
diferente das companhias oficiais que são subsidiadas com verba pública, possuem em seu histórico
projetos contemplados pela "Lei de Fomento à Dança da Cidade de São Paulo"
e/ou ProAc e/ou outros
editais de patrocínio.
7 Prêmio APCA é um prêmio brasileiro criado em 1956 pela Associação Paulista de Críticos Teatrais
(atual Associação Paulista de Críticos de Arte). Os ganhadores do Prêmio APCA são escolhidos anualmente
entre o final de novembro e o início de dezembro, durante a reunião dos críticos membros da APCA.
8 O Prêmio Denilto Gomes foi criado em 2013 pela Cooperativa Paulista com o propósito de difundir e
reconhecer o trabalho do artista paulista. A premiação anual é submetida à escolha de uma comissão
previamente nomeada.
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contexto em que encontramos os artistas Mônica Augusto e Ivan Bernardelli junto
à Cia. Dual9.
A Dual surgiu no ano de 2011 a partir dos desejos dos dois artistas de
compreender como contar histórias por meio das potencialidades do corpo.
Segundo Augusto (2020), "[...] o encontro com as histórias e mitologias brasileiras
veio a partir do momento em que começamos a nos debruçar e compreender a
necessidade de uma criação que falasse de nós, de nossos corpos e que, acima
de tudo, dialogasse com o público"10
.
A partir de suas experiências com grupos de
culturas, danças tradicionais e de suas diversas formações, eles buscam realizar
trabalhos com base em mitologias e fenômenos históricos da cultura brasileira,
bem como suas bases técnicas, estruturais e seus contextos histórico-culturais.
Figura 3 -
"
Duo para 2 perdidos"
11
.
Foto: Erick Diniz.
9 Anteriormente, a referida companhia era intitulada Dual Cena Contemporânea.
10 Trecho da entrevista concedida por Mônica Augusto e Ivan Bernardelli à Ana Luiza Cardoso em 7 de agosto
de 2020. Disponível em: https://eurbanidade.com.br/entrevista-com-monica-augusto-e-ivan-bernardelli-
blog-e-urbanidade/. Acesso em: jun. 2023.
11 Imagem disponível em: https://ciadual.wordpress.com/espetaculos/duo-para-dois-perdidos/#jp-carousel-88. Acesso
em: jun. 2023.
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De seus interesses e pesquisas, foram criadas as obras
"Duo Para Dois
Perdidos" (2012, Prêmio Brasil Criativo 2016); "Terra Trêmula" (2014, contemplado
pelo ProAC Produção de Espetáculos Inéditos e Temporadas de Dança, da
Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo); "Profetas da Selva" (2016,
contemplado pelo ProAC Produção de Espetáculos Inéditos e Temporadas de
Dança, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo); "Chulos" (2017,
contemplado pela 20º edição do edital de Fomento à Dança da cidade de São
Paulo; indicado como melhor estreia pelo Prêmio APCA e indicado como melhor
espetáculo pelo Prêmio Bravo!).
Figura 4 -
"Chulos"12. Foto: Alicia Peres.
12 Imagem disponível em: https://ciadual.wordpress.com/espetaculos/chulos/. Acesso em: jun. 2023.
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Figura 5 -
Terra trêmula"
13
. Foto: Naava Bassi.
Além das práticas relacionadas à Cia. Dual, os dois artistas desenvolvem
trabalhos artísticos com outros coletivos e atividades de formação: Ivan, natural
de São Bernardo do Campo (SP), é pesquisador e atua como preparador corporal e
coordenador de oficinas, cursos e workshops. a paulistana Mônica Augusto é
atriz, dançarina, cantora e educadora.
A entrevista foi realizada em 4 de novembro de 2021, com os artistas e
13 Imagem disponível em: https://ciadual.wordpress.com/espetaculos/terra-tremula/#jp-carousel-22. Acesso
em: jun. 2023.
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diretores da Cia. Dual14, Ivan Bernardelli e Mônica Augusto, utilizando a ferramenta
Zoom
, que foi gravada, posteriormente transcrita e utilizada para a análise na
referida tese. Optamos por manter a informalidade das falas. Os dados foram
coletados por meio da Entrevista Narrativa, em que foi feito um convite aos
participantes a narrar um episódio, fato ou circunstância da pandemia. Após a
realização das entrevistas, elas foram transcritas e enviadas aos participantes da
pesquisa para verificação, momento em que puderam sugerir alterações (retirar,
mudar ou acrescentar partes em suas narrativas). Somente após essa devolutiva,
os dados foram analisados.
Neste estudo, optei pelo uso da Entrevista Narrativa, que teve a
sistematização sugerida pelo alemão Fritz Schütze em um manuscrito escrito em
1977; porém, não publicado. Sua ideia básica era reconstruir acontecimentos
sociais a partir da perspectiva dos informantes que foram encorajados e
estimulados a contar a história sobre algum acontecimento importante de sua
vida e do contexto social. Nesse tipo de entrevista, o entrevistador visa encorajar
e estimular o sujeito entrevistado a lhe contar algo de seu interesse, tendo como
base a ideia de reconstruir acontecimentos sociais a partir do diálogo, interação e
colaboração entre eles.
A opção por esse tipo de entrevista é justificada pelo fato de entender que é
por meio das narrativas que podemos "compreender a relação entre indivíduo e
estrutura e o esquema conceitual construído de maneira significativa pelos
sujeitos ao relatarem suas experiências e trajetórias" (Weller; Zardo, 2013, p. 132).
Após a escuta das narrativas, elas foram transcritas por um profissional
contratado que buscou transformar o discurso oral em escrita literal. Foram
necessárias intervenções textuais, tais como corrigir erros ortográficos ou
gramaticais e alguns vícios da linguagem oral a fim de facilitar a leitura, mas
14 No período anterior à pandemia, a Cia. Dual se configurava com sete artistas em cena, um diretor musical,
um dramaturgo, uma produtora, um assistente de produção, um sonoplasta, um iluminador, dois figurinistas,
um cenotécnico, um aderecista, equipe de comunicação e alguns artistas convidados como professores e
orientadores de treinamento corporal. Na época da pandemia, conseguiram trabalhar remotamente até o
início de 2021. Após esse tempo, como dito no decorrer da entrevista, alguns artistas do elenco retornaram
para suas cidades de origem, reconfigurando a companhia com uma equipe reduzida. Atualmente, o núcleo
artístico é composto somente pela Mônica Augusto, Ivan Bernardelli e Hélio Feitosa como artista
colaborador. Hoje, os diretores da Cia. Dual compreendem que têm trabalhado com artistas colaboradores,
sem um formato permanente de elenco. No total, contam com doze profissionais entre elenco, direção,
sonoplastia, produção, iluminação e artistas provocadores.
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sempre em busca de manter a espontaneidade, as ambiguidades e movimentos
do discurso oral.
Cada narrativa pode revelar experiências individuais ou coletivas a partir do
ponto de vista de quem está narrando, revelando singularidades e particularidades
sobre o tema que foi experienciado. Nesse sentido, entendo que a pandemia de
coronavírus desenhou um contexto diferente para a atuação de artistas, grupos e
companhias. Dar voz a eles significará desvelar como passaram por este novo
cenário e redesenharam seus modos de agir e de resistir no mundo.
A entrevista
Flávia Borsani - Vou fazer uma fala disparadora e depois passo para vocês. Eu
gostaria que vocês falassem sobre a produção da Dual um pouco antes da
pandemia e durante esse período. Se vocês quiserem trazer também algumas
sensações e memórias do corpo mesmo para engrandecer a fala, é bem-vindo.
Ivan Bernardelli -
Bom, em 2019 aprovamos um fomento com um projeto
chamado "A invenção do Sertão" e propusemos a circulação do tríptico sertanejo
e a segunda edição do curso "A história prática da dança no Brasil". Que esse curso
abrisse o ano de 2020 foi a decisão mais sábia e poderosa que tivemos. Difícil,
porque tivemos que virar dezembro para janeiro trabalhando para ele acontecer
na Escola de Dança de São Paulo, que na época estava na Praça das Artes, o
Bongiovanni estava lá. Conseguimos fazer em janeiro e foi uma decisão
maravilhosa, porque seria muito diferente ser online. A partir disso, saímos com
uma temporada de "Tríptico sertanejo", fizemos Centro Cultural São Paulo, Sesc
São José dos Campos e tínhamos conquistado, graças à Solange Borelli, produtora
que estava conosco na época, uma temporada de três semanas no teatro Sérgio
Cardoso. Coisa rara!
Mônica Augusto -
Que é difícil para a dança conseguir uma temporada longa.
Ivan Bernardelli -
E casou essa temporada do Sérgio Cardoso, que também
teria um encontro presencial chamado "A invenção do sertão", traríamos o Abreu,
mas depois acabou sendo online. Olha só, eu e Hélio iríamos fazer o duo "Para dois
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perdidos" em um festival no Cairo, no Egito, o D-CAF (
Downtown Contemporary
Arts Festival
). Iríamos no final de março, voltaríamos no começo de abril e
entraríamos em temporada do "Tríptico sertanejo".
Mônica Augusto -
E eram muitas apresentações, vinte…
Ivan Bernardelli -
Não, eram dezoito.
Mônica Augusto -
Eram dezoito, mas era uma boa temporada, porque
anteriormente, quando nós estreamos o "Tríptico", era um ProAC. Então, não foi
uma grande circulação, o trabalho está fresco ainda, morrendo de vontade de
circular. E aí coincidiu que bem na semana que viríamos para o Sérgio Cardoso.
Ivan Bernardelli -
Não, iríamos fazer o Centro Cultural Santo Amaro.
Mônica Augusto -
Ai, fechou tudo, parou tudo, e como todo mundo, achamos
que fosse durar um mês, uma semana e aqui estamos. Estão dizendo que é pós-
pandêmico, mas para mim ainda estamos em pandemia, tentando ser pós-
pandêmico.
Ivan Bernardelli -
Teve algo muito estranho, porque eu fui para o aeroporto
trocar a passagem e era o mundo das máscaras já. A coisa estava muito louca. Eu
consegui trocar as passagens para novembro, porque, afinal de contas, em nossa
cabeça a pandemia iria durar dois meses. Iríamos aproveitar para ler os livros, ficar
mais em casa com as crianças e novembro estaríamos no Cairo.
Mônica Augusto -
E não foi isso que aconteceu. Quando falamos que foi
muito bacana ter rolado o curso em janeiro é porque depois, ao longo de 2020, o
encontro que tivemos tinha trinta, quarenta participantes, muita gente veio, ele
nutriu. Estamos no segundo ano de pandemia e perdemos a noção, mas essa
memória de suarmos junto com muitas pessoas foi a que foi nos mantendo, nos
sustentando. Sempre agradecíamos por ter iniciado o ano e ficar com bolhas no
de tanto dançar, de tanto rir junto, de tanto chorar, porque nesse curso sempre
choramos muito, descobrimos muita coisa. Ele nos nutriu muito e acho que, de
encontros com uma galera, foi o último momento que me lembro de estar em
uma sala com trinta, quarenta pessoas. É o último momento que me lembro. Não,
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mentira. Depois teve carnaval, dançamos e pulamos muito, levamos a Sarah em
muitos blocos. Depois, tudo foi bloqueado e entramos nesse movimento de
isolamento total. E estamos abrindo agora, o que é muito estranho. Entrando
nesse momento da pandemia.
Ivan Bernardelli -
Não, ela falou só pré-pandemia.
Mônica Augusto -
Ah, é só pré-pandemia?
Flávia Borsani -
Pré e pandemia.
Ivan Bernardelli -
Então, três horas será pouco.
Mônica Augusto -
E entrando nesse movimento de pandemia, todos
pensando que duraria duas semanas, umas férias. Nós não tínhamos parado, ufa!
que não. Em um primeiro momento, quanta
live
, quanta coisa legal. Logo no
início da pandemia, eu entrei bastante no fluxo online, porque dou umas aulas de
ioga também. Então, abracei também esse movimento de trocar com as pessoas
esse lugar de cuidado, o
Zoom
. Conectar as coisas no virtual foi uma realidade
logo nas primeiras semanas pandêmicas. Logo depois nos vimos tendo que jogar
ensaios para online e, ao mesmo tempo, não ter vontade daquilo, porque aquilo
era fachada. Trabalhamos com profundidade, com dimensão, com presença, então
nós fizemos muitas perguntas e nos permitimos esse tempo. Também com vários
movimentos paralelos da Dual fazendo trabalhos com outras pessoas,
coordenando outros, e havia prazo. Então, começamos a ensaiar online e aprender
como seria tudo aquilo.
Ivan Bernardelli -
Mas acho que nós ficamos dois ou três meses em
depressão, parados, sem conseguir agir. Assim, agindo, mas sem conseguir
acreditar que aquilo, pelo menos no sentido da Dual, poderia ser uma realidade
que envolvesse afeto, que envolvesse perspectivas que somassem na nossa
discussão, no nosso fazer artístico.
Mônica Augusto -
Tanto que tivemos pouquíssimos encontros com a turma
toda que faz parte da companhia. Tivemos algumas conversas, mas ir para o corpo
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no sentido de trazer o movimento, nós não estávamos indo, porque achávamos
aquilo muito esquisito. Então foi o momento que começamos a repensar, os
projetos também começaram a criar outros formatos e constatamos que teríamos
que enfrentar tudo aquilo, mergulhar em tudo aquilo e entender como viabilizar.
Ivan Bernardelli -
Parece que acordamos, virou uma chave.
Mônica Augusto -
É! E começamos a produzir bastante, decidimos brincar,
brincar com o cinema, brincar com a tela.
Ivan Bernardelli -
Fizemos uma série de
lives
no Instagram que era a
"História(s) da(s) dança(s) no(s) Brasil(is)" e chamamos muita gente que não víamos
há muito tempo e queríamos conversar.
Mônica Augusto -
E que estavam em outros estados e sempre queríamos
trazer, mas não tínhamos verba. Então, por que não? Vamos chamar essas
pessoas para uma
live
e colocar essa conversa em dia.
Ivan Bernardelli -
Aí, destravou e entramos na produção digital de Instagram,
entendendo um pouco do que era aquilo, um pouco da dinâmica de
lives
, da
empatia, que eu descobri muito. Mônica me ajudou demais, porque eu era pouco
empático nas
lives
que fomos convidados. Então, fomos descobrindo também
como se manter digitalmente no mesmo sentido afetuoso, que é bem humorado…
Mônica Augusto -
Acho que isso é uma chave para mim. Ficamos nesse
momento de depressão, não sei se depressão, mais uma inércia. Acho que a
depressão para mim veio mais no final do ano, não passava. No começo, eu fiquei
mais empolgada, queria deixar todos bem e eu fui muito para fora, mas, depois, a
coisa se complicou. Seis meses depois, vi que não iria dar certo e pensei em morar
no mato e vender água de coco. A reserva, que era pouca, acabou, e acho que
vivemos uma vida do privado e do público enquanto artistas, que é outra
dimensão, e com essa abrangência da internet mais ainda, então tudo se misturou.
Éramos nós dois, filha, casa, não poder sair, a interação com os outros, querendo
ver a família, nós querendo fazer outro tipo de isolamento, o proprietário pedindo
a casa. Então, tudo isso foi um grande atravessamento e o desafio era como
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transformar isso em ferramenta artística. Acho que o primeiro lugar foi o afeto,
como conseguiríamos estar aqui com afeto. Então, chamamos artistas que
gostávamos muito, pessoas que nos inspiravam e foi um momento de começar a
nos revermos também, um momento de olhar para a própria história e recordar
como éramos fãs das pessoas que agora estávamos chamando, o quanto elas
tinham nos ensinado, porque fomos para outra dimensão de tempo, de olhar
outras coisas. Inclusive, para mim, foi um momento muito importante de ver
tantos artistas produzindo tantas
lives,
porque, às vezes, no trato diário do
trabalho, não conseguimos assistir a tantos colegas ou acompanhar os processos,
nos encontramos, mas nunca temos tempo. Então, poder acompanhar o processo
de outros colegas compartilhando em
live
ou o que quer que fosse foi legal, porque
rolou aproximação de várias pessoas e grupos que gostávamos, mas não tinha
tempo para conversar, poder escutá-los nas
lives
, expandir o nosso pensamento.
Isso também mexeu com muitas estruturas de nos repensarmos, de dar aquela
pausa e perceber que podemos nos reinventar. Acho que enquanto produção, e
pulando um pouco, mas falando desse ano, que fomos para uma nova
produção do "Pavão misterioso" e que fizemos em parceria com o Lucho15 do
México, fazendo direção geral, revisitados e provocados por outres e todos esses
outres que encontramos, vimos e um lugar de se lançar em uma novidade, nem
sei se foi novo, mas foi muito atravessamento esse processo, porque era a nossa
casa. Havíamos acabado de mudar. Às vezes, tínhamos e temos preocupações
estéticas que entravam em nossa vida, porque havíamos acabado de nos mudar
e a casa estava bagunçada.
Ivan Bernardelli -
Eu estava vendo seminário da Unicamp e enchendo uma
caçamba de entulho, porque tivemos que fazer uma reforma. Estávamos no
online, muita loucura.
15 Coreógrafo e encenador mexicano, Luis Rubio nasceu na cidade de Mazatlán (Sinaloa, México). Iniciou seus
estudos de Dança no Centro Nacional de Danza Contemporánea, na cidade de Santiago de Querétaro
(México) e concluiu sua formação na Escuela Professional de Danza de Mazatlán (2010). Trabalha como
coreógrafo, diretor, dramaturgo, bailarino e educador. Foi codiretor do filme "Pavão misterioso" da Cia. Dual.
Em 2014, fundou o coletivo enNingúnlugar plataforma de criação e investigação cênica através do qual
desenvolveu projetos como "MOV- Foro de Arte y cultura para repensar la migración", "La Trinchera
Plataforma Multidisciplinaria para estudiar el cuerpo y la escena" e "CASA VERDE Centro Cultural
Alternativo". Em 2018, realizou turnê pela América Latina com o projeto "Latino America en Ningún lugar",
financiado pelo FONCA, realizando apresentações de espetáculos e workshops no Paraguai, Brasil, Equador,
Chile, Colômbia, Uruguai e Argentina.
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14
Mônica Augusto -
É, aquele caos, e como revelávamos isso. Começou a ficar
cansativo esse lugar desse quadradinho e a vida acontecendo aqui. Estamos
conversando aqui e agora está tranquilo, mas a criança, às vezes, brincando lá,
como se expor também e acho que esse trabalho falou um pouco disso. Mas
voltando para o ano de 2020, fizemos o "Bruta mirada" que seria o "Tríptico
sertanejo" e constatamos que não daria para circular.
Ivan Bernardelli -
Esse registro [do espetáculo "Tríptico"] não teria o mesmo
impacto de teatralidade na sala de cênica, mesmo com todas as câmeras, se fosse
transmitido ao vivo. Então, fizemos o ciclo de encontros. Convidamos cinco
pessoas para abordar o sertão de maneiras distintas e foi algo de muito
aprendizado. Foi uma maneira de fazer um curso online com várias pessoas e com
dinâmicas diferentes, porque tinha receita, conversa, choro, canto, festa.
Mônica Augusto -
Flávia, você não fez?
Flávia Borsani - Não, eu tinha descoberto que estava grávida; então, fiquei
parada, literalmente parei.
Ivan Bernardelli -
E para mergulharmos na invenção do sertão, reinventamos
o trabalho do "Tríptico sertanejo" a partir dos lugares, porque Kleber foi para
Juazeiro, Diogo voltou para São José dos Campos, Flávia estava se mudando
também.
Mônica Augusto -
É, porque na nossa companhia todos moram em São
Paulo, mas têm suas famílias em outras regiões. Nesse momento, todos foram se
recolher em família e muitos tiveram que sair de casa, porque não tinham dinheiro,
então houve uma dissipação. E junto com a Alicia Peres que fez a direção em
Dublin, na Irlanda, tinha ido para fazer mestrado e não poderia voltar.
Ivan Bernardelli -
Então chamei a Alicia, que é uma parceira desde sempre,
para fazer a direção do "Bruta mirada". Roteirizamos tudo online, com filmagens
de celular e fomos entender a produção, o que podemos com câmeras, com
lentes, com celulares e sempre na perspectiva da criação, não exatamente tendo
Narrativas pandêmicas: entrevista com Mônica Augusto e Ivan Bernardelli
Entrevista com Mônica Augusto e Ivan Bernardelli concedida à Flávia Brassarola Borsani Marques
Florianópolis, v.2, n.51, p.1-24, jul. 2024
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um ferramental maravilhoso, porque cada um filmava com seu celular e, às vezes,
a qualidade ruim dava até uma perspectiva interessante para a imagem filmada.
Mônica Augusto -
Acho que foi o início desse mergulho nas pessoalidades,
nas biografias, porque de certo modo eu analiso o nosso trabalho artístico sempre
nos atravessando muito pessoalmente. Nos afeta política e esteticamente, mas
também temos um compromisso com uma estética e com um fazer que esteja
para além de nós no sentido de não estamos comprometidos, mas olhamos para
a história na construção das nossas narrativas e ela explode a nossa pessoalidade.
Mas, de certo modo, a pandemia também nos convidou a fazer o movimento
inverso, porque depois de toda essa explosão, como voltar para toda essa
historicidade, para esse corpo que está confinado e não pode encontrar os seus,
que se organiza na relação e no contato ao vivo, presencial com outro? E como é
desnudar-se um pouco? Porque foi um processo de desnudar-se. No "Bruta
mirada" mesmo vieram à tona várias memórias muito afetivas e singulares de cada
um dos artistas para falar dos seus sertões, do seu sertão pessoal, onde estava o
nosso sertão. Não que não tivéssemos em alguma dimensão falando disso no
trabalho, quando era o tríptico, estava, mas em uma dimensão mais ampla que se
fechou em uma telinha e nos rasgou, nos envolveu e mexeu muito conosco. Olhar
não mais aquele recorte, porque por vezes ficamos inseridos em um meio,
estamos nos fazeres, trabalhando e protegido por esse meio e, de repente, não.
Estavam todos usando aquela ferramenta e lançando suas coisas nessa rede para
tentar se comunicar, para tentar estar junto, tentar se acompanhar.
Ivan Bernardelli -
Acho que por um lado Mônica fala sobre essa lupa, essa
lente que o zoom nas biografias e nas histórias de pessoas que são únicas, mas
também são muitas. Em "Bruta mirada", quando nos olhamos, percebemos que
precisávamos nos olhar e olhar para os outros com a ajuda de todos. Então,
chamamos pessoas para colaborar em áudio, gente que estava em vários lugares
do país e isso foi maravilhoso.
Mônica Augusto -
Acho que a coisa mais maravilhosa foi reconhecer, e não
sei se a tempo, um processo de "ensimesmamento", eu daria esse nome. Esse ano
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estamos comemorando dez anos de Dual, sem contar alguns anos antes que
estávamos em umas brincadeiras juntos, mas é natural que o processo se
fortalecendo, que construamos caminhos e que engessemos algumas coisas.
Então, foi um momento muito importante para ampliar o olhar em relação a outros
que poderiam estar e pensar uma coisa que sempre foi muito presente, que é a
nossa ideia de partilhar e construir redes, porque sempre gostamos e acreditamos
muito nisso politicamente. Mas o tempo também nos engole e, muitas vezes,
víamos que estávamos somente com redes viciadas e não estávamos olhando
para os lados por ausência de tempo. Então, esse tempo de medo e de
insegurança nos permitiu nos conectar ou fazer reconexões que trouxeram várias
memórias e vários desejos que a vida, às vezes, leva e eles puderam voltar. Então,
isso foi muito rico. Inclusive, outra coisa que observo e que percebi nesse período
de pandemia é como que, de certo modo, outras pessoas também se conectaram
conosco. Foi uma ampliação de pessoas que tinham vontade de se aproximar e
não tinham como. Então, por incrível que pareça, na pandemia foi quando
trabalhamos mais, talvez, por outras redes que apareceram. Trabalhei com o
pessoal de Natal, trabalhei com gente de tantos lugares e nos perguntamos por
que nunca pensamos nisso, mas porque havia a resistência de ter que ser somente
na presença, de querer ir para o território. É uma possibilidade também, mas ainda
fico com a presença. Gosto bem mais de pegar um avião e ir para Natal vivenciar
o território, mas também enquanto troca de conhecimento e saberes funciona,
agrega e vamos descobrindo até como ter qualidade de presença nessa rede, que
é algo possível desde que não trabalhemos doze horas por dia, porque é exaustivo.
Enfim, falei bastante. Quer falar mais alguma coisa?
Ivan Bernardelli -
Acho que por nós temos uma série de ações que
podemos descrever um pouco melhor e as ações que desenvolvemos se
descrevem por si. Então, outra coisa interessante foi entender como documentar
a história nas mídias digitais, porque isso passou a ser muito importante, se iria
ficar gravado ou se seria uma experiência única e, se vai ficar gravado, o que vale
daquela experiência que vai para a rede como arquivo, mas que é instrumento
substituível da presença. Inclusive em relação a direitos autorais de imagem, de
uso de imagem, som, voz, música, pessoas que concordaram em participar de um
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curso gratuito, mas que viraram uma
playlist
no
Youtube
. Então, perceber a
qualidade do documento e a falibilidade do documento, o quanto ele também é
uma falência de uma coisa que vale como arquivo documental, porque, se pode
voltar, é um dinheiro público com o qual fomos contemplados para que
pudéssemos fazer o curso, vale a pena voltar porque é um documento histórico,
perspectivas muito poderosas de convidades que trouxemos. Mas enquanto
arquivo, ele é um registro que de cara tem uma falha na perspectiva de que ele
aconteceu ao vivo. Enfim, acho que é quase uma reprise, tem um documento
reprise de uma coisa que foi muito potente e que o seu documento talvez não
carregue a mesma potência, diferente das coisas que começamos a pensar para
o audiovisual em imersão, imersivo no
Youtube
, no
Instagram
.
Mônica Augusto -
Sim, no
Instagram
e mesmo em
live
, porque chegou um
momento em que começamos a nos perguntar para que e por que postar.
Começamos a olhar para a ferramenta mesmo, que está saturada, tem muita
coisa, é natural esse tempo de tela, porque também nos afobamos com esse
mundo e queríamos ver todas as
lives
e encontrar todo mundo. Entrava na
live
de
madrugada dos amigos tocando que, na verdade, era entrar na
live
para sentir que
não se estava só, e quantas
lives
gostosas, amigos abrindo e dizendo para
conversarmos. Então, isso segurou a vida durante um tempo, que depois
cansou. Mas começamos a estudar também essa ferramenta e a pensar o que
faria sentido postar, o que eu deixaria de legado mesmo e como divulgaria para
que essa informação chegasse para esses, como esses convidados que chamamos
para a
live
, ou o curso mesmo, porque nós demos um curso pela Lei Aldir Blanc e
foi muito bacana. Então, muitas pessoas que queriam vir para São Paulo fazer o
"História prática da dança no Brasil", um curso que demos duas vezes, e não
passou ou não conseguiu vir, poderia estar conosco de algum modo. Então, como
isso amplia a nossa abrangência e nossa troca com todes. E agora em agosto
pegamos um ProAC, estamos executando. Era um projeto que estava na
incubadora há alguns anos e tinha que nascer, porque já estávamos segurando
um tempo. Quando entrou a pandemia, teria que nascer, senão iria passar.
Mandamos e deixamos para o segundo semestre nessa ideia de que as coisas
poderiam estar melhores, porque esse trabalho tinha que ser ao vivo. Nós não
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queríamos fazer esse trabalho no online, porque teríamos que mudar tudo. Aí,
retomamos com todos os protocolos, vendo que as coisas estavam um pouco
mais tranquilas em agosto, mas ainda sem saber se estrearíamos ao vivo. Então,
toparíamos filmar o espetáculo e ter esse registro, mas não vamos fazer pensando
no vídeo, porque é um trabalho que precisa da rua, precisa do outro e,
particularmente, foi um momento muito sensível de reencontrar outros corpos,
dois corpos a mais no trabalho, dois mundos corporais a mais que vieram integrar
esse trabalho. Começamos ensaiando aqui no quintal de casa e retomar tudo, o
toque, essa memória. Era de chorar. Alguém está me tocando. Era como fazer uma
aula de dança, uma aula de artes pela primeira vez e, também, nos reconhecer
enquanto artistas. Cada artista teve uma experiência, mas um movimento de
conexão e desconexão do corpo, porque talvez em um primeiro momento, mesmo
com os medos, houve uma conexão por conta de um tempo e depois começou a
ser um tanto quanto exaustivo quando tivemos que organizar tudo. Então, retomar
esse movimento de tocar e ser tocado, de dançar junto e encontrar outras águas
suando com você na mesma sala foi um bálsamo, sentir como é boa a presença,
porque tínhamos esquecido como era encontrar o outro. E é isso. Semana passada
estreamos e parece que foi a estreia doze anos, quando comecei a fazer teatro,
o público, euforia junto com medo, mas muito bom.
Ivan Bernardelli -
Reencontrar o corpo, o corpo não, porque ele sempre
esteve aqui, mas reencontrar o desejo de si no corpo, porque acho que nos
períodos mais e você falou sobre memórias e sentidos —, nos períodos mais
pesados do distanciamento e dos protocolos, tivemos aqui em São Paulo uma
abertura no final do ano passado e depois tudo fechou novamente. Então, nos
momentos mais duros da pandemia, eu ficava pensando que não tínhamos o
desejo de dançar, aquela coisa de trabalhar movimentos, suar, estudar, perceber
coisas não existia mais. Pensei se não dançaria mais, porque aquele desejo que
nos move e discutimos na Dual: para quem? É necessário um outro para que nos
movamos? É necessário um encontro com o outro para que movamos? Por que
eu me movo? É necessário um espaço determinado, um tempo determinado, uma
agenda determinada? Por que muita gente estava na salinha e dançava e fazia a
aula como podia, e eu não tinha esse desejo? Não conseguia fazer aula aqui em
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casa, nem estudar aulas e nem o próprio corpo.
Mônica Augusto -
Não dava vontade de treinar. Quando a vontade foi
retomando, era um desejo de estar consigo, retomar aquele lugar essencial
mesmo, não era o treino. No começo, fomos treinar, fizemos calistenia,
musculação, pegávamos botijão de gás, subindo nos muros, fazer pintar a casa,
nos primeiros três meses queríamos tudo, e daqui a pouco "Chega! Eu quero ir
para rua, eu quero trabalhar!" e foi um movimento não nosso, mas da
companhia, Flavinha, Kleber. E quando conversávamos, falávamos que não
estávamos sentindo vontade e a nossa discussão era por que vamos nos mover?
E todos entraram em crise. Nossa, eu me movo por conta do outro?
Ivan Bernardelli -
Isso até apareceu no "Pavão misterioso", essa necessidade
de animação. Tínhamos uma proposta de adequação e revisão do projeto que
precisávamos finalizar no fomento e era uma coisa que precisávamos seduzir, no
bom sentido do termo, precisávamos conversar com as pessoas e encorajá-las a
se moverem para produzirem coisas e materiais para o "Bruta mirada".
Mônica Augusto -
Porque, enquanto artista, todo mundo está tentando
promover futuros e, muitas vezes, perdendo os nossos próprios, porque não
sabíamos nem de nós. O que eu estou dizendo para o outro? Eu estou dizendo
para o outro dançar, e será que meu corpo está com vontade de dançar ou ele
está tendo que dançar porque esse é o trabalho? Então, como tudo ficou dentro
de casa, eu acho que misturou demais.
Ivan Bernardelli -
O que é bom também, esse não desejar dançar e entender
o que move e como move, se essa produção é para o outro agora, porque isso não
fica sempre, era aquele momento. Agora, talvez, eu esteja precisando, estou
voltando diariamente a treinar sozinho, voltando a me concentrar na produção de
movimento, uma coisa que quero fazer.
Mônica Augusto -
Foi esse recolhimento, mas acho que é isso, eu gostei, deu
para processar várias sensações.
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Flávia Borsani - Como a fala de vocês se une. Vocês têm uma conexão até no
momento de fala, isso é muito legal! E como vocês são poéticos, bonito isso.
uma questão aqui, o "Pavão" foi feito durante a pandemia, foi totalmente
online?
Mônica Augusto -
Totalmente. Os ensaios junto com o Lucho [Luis Rubio],
esse parceiro que o Ivan tinha, tudo online. Fomos entendendo e ele estava
trabalhando bastante com o online, e tinha uma destreza. Ele trouxe uma destreza
no sentido de uma objetividade que foi muito bacana.
Ivan Bernardelli -
Fotografamos todas as cores, roteirizamos tudo em cor e
luz e conseguimos filmar tudo em duas diárias.
Mônica Augusto -
Duas diárias, mas o processo foi de três ou quatro meses,
quatro meses de processo. E o que era muito legal é que nós dois estávamos
dirigindo e todos conversavam, fizemos leituras de vários livros, literaturas muito
existencialistas. Então, foi um mergulho que mexeu com tudo.
Ivan Bernardelli -
Flávia conhece bem, ela estuda filosofia.
Mônica Augusto -
Como ler várias questões que mexeram conosco, é isso.
Trabalhamos juntos, somos um casal na pandemia olhando todos os dias para a
cara um do outro, com filho, tudo atravessando. Tínhamos acabado de mudar de
casa e o Lucho pedia umas tarefas, trazia umas provocações bem distintas até
enquanto procedimentos de coisas com as quais estávamos acostumados ou
coisas que tínhamos abandonado. Então tinha um frescor nisso, frescor de coisas
que você fazia e vem o outro te provoca naquilo.
Ivan Bernardelli -
Mônica, cadê aquele seu salto?
Mônica Augusto -
Ele fez o Ivan fazer dublagem, muitas coisas legais; então,
foi um processo de vida. Nós três construímos a dramaturgia juntos e fomos
filmando conforme o trabalho foi ficando pronto, e fazendo isso que o Ivan falava.
Por exemplo, precisávamos de luz à noite, então roteirizamos o filme com luz, com
tudo, antes de fazer a gravação no celular e depois contratamos a Fuzuê para dar
um acabamento bacana e ter outro olhar profissional nesse sentido, porque se
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fosse para o audiovisual, queríamos fazer algo profissional e compartilhar as
verbas, que acho que era o mais importante da lei naquele momento, porque
estava ruim para todos. Então, um pouco para cada um ajudaria. Fomos assistir
muito cinema, descobrimos coisas que sabíamos e já não imaginávamos.
Ivan Bernardelli -
O André [Mello, bonequeiro] estava em Rio de Contas, na
Bahia, e mandou o pavão pelo correio, que chegou em uma caixa de cadeira de
escritório, e eu falei "moço, não era aqui essa cadeira de escritório, não".
Mônica Augusto -
E lembra que teve greve? Teve greve dos Correios e não
iria chegar. Mas era isso, um no México, outro na Bahia, cada um em um lugar, nós
vivenciando esse processo de discutir mil coisas que o "Pavão" trouxe à tona, essa
preocupação com as estéticas e, de repente, o Lucho nos aconselhou a parar e
fazer em nossa casa, do jeito que estava, e eu concordei. A coisa era velha, suja,
do jeito que estava, porque, às vezes, entramos em uma estética da limpeza e da
perfeição e não estava tudo perfeito. Estava tudo torto. Então, de novo as
máscaras caindo, nós vendo nossas máscaras no chão e tendo que refazer. E
depois cada produção, cada encontro que fizemos de
live
passou a ser uma
necessidade de vida, de vida no sentido de nos mantermos em movimento. Esse
lugar das conversas, e que tivemos muitas, fizemos muitas
lives
e muitos
encontros, nos alimentaram demais e foram movimento também, foi uma
organização. Dar nome para as coisas, trazer palavra, olhar para o nosso percurso,
olhar para o percurso de outros. Porque tem isso, eu te conheço e quanto
tempo não nos vemos, mas eu olho para você, Flávia, e relação de tempo que
tenho é a mesma, com algumas pessoas criamos um afeto, um carinho, uma
conexão que continua. Às vezes, em nossas andanças da vida, perdemos parte da
vida dos colegas, como perde das nossas. Então, foi um momento de se preocupar
com o outro, perguntar como o outro estava, fazer parcerias para trabalhar juntos,
que nunca aconteceram, e perceber que as companhias têm tudo a ver.
Ivan Bernardelli -
E de fazer repensar produção no século XXI, produção de
dança, as curadorias, as programações de dança.
Mônica Augusto -
Mas é isso, falamos bastante.
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Flávia Borsani - E para finalizar, eu vou fazer uma provocação. O que ficará
para a Dual desta pandemia, deste período?
Ivan Bernardelli -
Veremos.
Mônica Augusto -
Veremos, não, a vida. Tudo se ressignificou no sentido de
como é bom, como é bom estar vivo, como é bom se mover, e as cobranças
ficaram mais leves. Eu tenho muitas cobranças como artista, tenho os meus
lugares estéticos, tenho meus lugares de ultrapassar meus próprios limites e acho
que qualquer um que busca um trabalho, e falávamos muito de uma palavra e
ainda falamos, ser impecável nas coisas, e não é que eu não queria mais ser
impecável, mas há outras sutilezas.
Ivan Bernardelli -
outros impecáveis que interessam mais. Eu acho que
fica a ideia de que muita coisa ficará para trás, um pouco nisso, nesse sentido que
Mônica disse. Talvez isso seja amadurecer, talvez isso seja passar dos dez anos de
companhia. Essencialmente, aprendemos muito e aprendemos que é necessário
dizer que não sabe para podermos compreender novos processos. E eu me lembro
que no curso desses dois anos, 2020 e 2021, não nesses dois anos, mas no curso
que eles vêm trazendo de dez, quinze anos atrás, nós finalmente abrimos agenda
para discussões que não estavam sendo postas em pauta e que as mídias digitais
e redes sociais escancararam. Aprender a debater e dialogar é uma coisa que
sempre prezamos e quisemos, e acho que estamos aprendendo cada vez mais
abrir espaço para isso.
Mônica Augusto -
E para estar ao lado de quem preserva a vida no sentido
de que a pandemia foi um grande momento onde o corpo político se posicionou,
não no sentido de quem fez isolamento total ou não, porque sabemos em que
condições nós vivemos, sabemos que não tem essa romantização e essa poesia
toda de ficar em casa quem pode, pois muitas pessoas não puderam, muitas
pessoas partiram, muitos amigos, mas essa sutileza de rever o próprio trabalho
artístico em um lugar em que são muitas as verdades. De certo modo, sempre
buscamos e refletimos sobre isso, mas, às vezes, caímos nas armadilhas de nós
mesmos, de achar que estamos muito efetivos, e não tem efetivo nenhum quando
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não parceiros, quando não saúde. Então, isso me moveu muito para olhar
com uma generosidade mais humana, e quando eu digo mais humana é em uma
crítica que agrega até aquilo que enquanto discurso está, mas de olhar com outra
poesia para o olho de quem está se expressando em sua arte, repensar o lugar de
glória, de reconhecimento, porque para nós, como artistas, foi o momento de ver
como estamos em tantos lugares, acessamos tantas pessoas, mas as pessoas
estão. Olha quantos amigos e quantas coisas nos inspiram, ou o quanto se
inspiram em nós, então isso é bom.
Ivan Bernardelli -
E acho que, por fim, mas não, enfim, não deu para não
mergulhar e não sair completamente transtornado e transformado, arrancando
capas e colocando outras questões à baila. As coisas pareciam tão fáceis, um vídeo
de um pavão andando no telhado, um existencialismo alemão, sul-coreano,
brasileiro, um cordel que vira um romance policial, "Bruta mirada" que vira a ideia
de um sertão que é revisitado a partir de suas próprias marcas e que o sertão não
é aquela terra rachada e seca, é dentro. Então, vamos ter que olhar dentro. E
tivemos mortos e pessoas que seus corpos físicos não conseguimos mais abraçar.
As
lives
que gostaríamos de fazer com algumas pessoas não serão mais possíveis
nesse plano e como não ser…
Mônica Augusto -
Como processar daqui para frente esses imaginários, de
tantos amigos que abrimos um
Instagram
e soubemos que morreu, como
processar essa imaterialidade. Eu não sei ainda, eu falo que não deu tempo de
chorar, porque são outros tempos. Perdemos o costume de ligar, de falar, e
passamos tanto tempo falando tanto, e agora silêncio.
Ivan Bernardelli -
Logo no começo da pandemia, perdemos o maestro Martin
Lutero, não tem nem como nominar.
Mônica Augusto -
Foi muita gente: Penha Pietra, Ismael, familiares e, em
alguns momentos, eu esqueço, porque não parece ser verdade. Então, agora será
a peregrinação também, que é sobre história novamente, não deixar a memória
enterrada. Por isso a memória tem que permanecer viva, de fazer a peregrinação
e pisar nessas terras para onde nossos amigos e tantas pessoas foram e não
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pudemos nem nos despedir. Plantá-los.
Ivan Bernardelli -
Plantá-los.
Mônica Augusto -
Eu pensei mais duas coisas que ficaram para mim da
pandemia. O risco, e isso vem para minha arte, e o cuidado. Risco e cuidado. Eu
aprendi bastante sobre isso com a pandemia: a me arriscar mais, porque a vida é
muito sutil, e a cuidar de mim e do outro.
Referências
AUGUSTO, Mônica.
Entrevista concedida a Ana Luiza Cardoso em 7 de agosto de
2020.
Disponível em: https://eurbanidade.com.br/entrevista-com-monica-
augusto-e-ivan-bernardelli-blog-e-urbanidade/. Acesso em: jun. 2023.
MARQUES, Flávia Brassarola Borsani.
Narrativas pandêmicas:
modos de produção
da dança contemporânea na cena paulistana. Tese (Doutorado em Educação
Física) Universidade Estadual de Campinas, 2023. Disponível em:
https://www.repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/1267026?guid=1686080347363&returnUrl=%2fresultado%
2flistar%3fguid%3d1686080347363%26quantidadePaginas%3d1%26codigoRegistro%3d1267026%231267026&i=1
Acesso em: jun.2023.
WELLER, W.; ZARDO, S. Entrevista narrativa com especialistas: aportes
metodológicos e exemplificação.
Educação e Contemporaneidade
, v. 22, n. 40, p.
131-143, 2013.
Recebido em: 12/12/2023
Aprovado em: 28/02/2024
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Teatro
PPGT
Centro de Arte CEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
Urdimento.ceart@udesc.br