Os documentos da iluminação cênica e a pesquisa em história do espetáculo: o
Vestido de noiva
de 1943
Berilo Luigi Deiró Nosella
Florianópolis, v.4, n.49, p.1-28, dez. 2023
impacto que ela gerou, está na relação entre o ritmo cênico, intensamente
dinâmico, proposto pelos diálogos e trocas espaciais (cenários) do texto de Nelson
Rodrigues, e o modo como tal dinâmica foi transposta para o palco por Ziembinski,
numa encenação que causou profundo impacto. Segundo Niuxa Dias Drago (2014),
a questão da troca dinâmica de ações pelo espaço do palco em diversos cenários
era uma questão já pensada e experimentada por Santa Rosa – cenógrafo do grupo
–, em trabalhos anteriores nos quais, influenciado pelo artista e encenador italiano
Anton Giulio Bragaglia (1890-1960), utilizou carrinhos sobre trilhos. Niuxa, porém,
afirma que, no caso de
Vestido de noiva
, a experiência de Ziembinski com o teatro
expressionista na Polônia trouxe a inspiração para realização da iluminação do
palco por zonas específicas, possibilitando, no acender e apagar dessas zonas,
uma mudança ainda mais ágil.
É diante da obra de Nelson Rodrigues que, pela primeira vez, Santa Rosa
vislumbra a solução para uma cenografia simples e que permitisse as
rápidas trocas de cena. A solução dos carrinhos sobre trilho, “ao estilo
Bragaglia”, havia sido suficiente em experiências anteriores, mas não era
suficiente para a velocidade da dramaturgia de Nelson Rodrigues.
Ziembinski sabia que a solução estava na iluminação cênica, e foi Santa
Rosa quem criou o suporte preciso para o funcionamento da nova
iluminação (Drago, 2014, p. 135).
Reiterando, não localizamos, entretanto, textos que busquem empreender
um relato específico quanto ao fazer, ou seja, o que foi essa experiência com a
prática da iluminação da cena e, consequentemente, quanto ao porquê ela foi tão
revolucionária; ainda somando, há lacuna de compreensão do que ela legou aos/às
artistas e técnicos/as brasileiros/as ao longo do século XX quanto ao trabalho com
a iluminação no palco. Nas duas bibliografias de Ziembinski publicadas entre nós
– Michalski, 1995 e Pluta, 2016 –, bem como na importante conferência “Aspectos
da iluminação no teatro – eixo Rio-São Paulo”, ministrada por Edelcio Mostaço6
(2007), destaca-se o fato de que significativa fonte a alicerçar a afirmação da
contundência da iluminação da montagem de 1943 se constitui dos depoimentos
6 Conferência proferida em 19 de junho de 2001, no âmbito do projeto Luz em Cena.
Vestido de noiva
e a
Modernidade no Teatro, realizado pelo Itaú Cultural. Mesmo nesse que foi um importante evento sobre a
questão da iluminação na cena em
Vestido de noiva
muito pouco se tratou, em termos de perspectiva, de
um debate da iluminação na cena dessa icônica primeira montagem, empreendendo sobre a questão um
olhar direcionado aos potenciais presentes da luz na cena dessa instigante dramaturgia. Destaca-se o
trabalho de reconstrução virtual da maquete do cenário da peça, que infelizmente não está mais disponível
na página do Itaú Cultural.