Editorial - Sem receitas ou definições: apontamentos iniciais sobre dramaturgia da dança
Paloma Bianchi
Florianópolis, v.1, n.46, p.1-7, abr. 2023
área da dança e das artes cênicas para refletir sobre e com dramaturgia da dança
de maneira múltipla. O texto de Sandra Parra, que abre esse dossiê, procura situar
historicamente o termo dramaturgia, fazendo um apanhado conceitual desde
Aristóteles até Ana Pais, para concluir que dramaturgia é um modo de estruturação
de sentido, que considera tanto as percepções das(es/os) artistas em cena, como
as das pessoas do público.
Usando termos como
pausar, aterrar, aquilombar, outrar, deslocar
protagonistas, encantar, rebolar e partilhar
, Marina Guzzo faz um convite para
coreografarmos a crise da atual urgência climática. Dança e dramaturgia, no texto
de Guzzo, diz respeito à necessidade de reconhecermos, antes de tudo, que o
sistema capitalista funda um mundo com incontáveis e extremas desigualdades.
Diante disso, a autora nos convoca a pisar o chão e, seguindo os passos de Beatriz
Nascimento, nos convida a buscar refúgio em posição de resistência, para
compreendermos que a prática de dança pode não ser apenas uma prática de
dança, mas uma ação que move mundo a partir da construção de alianças, do
exercício de alteridade e do encantamento.
As dramaturgistas Ana Krein e Paloma Bianchi apostaram na prática da
dramaturgia da dança para refletir sobre a própria prática de dramaturgia da
dança.
O que diz respeito ao pinheiro, aprenda do pinheiro; o que diz respeito ao
bambu, aprenda do bambu
se propõe a documentar e refletir sobre um processo
no qual elas foram artistas e dramaturgistas uma da outra para poder evidenciar
os modos como praticam este ofício ainda obscuro para muitas pessoas. Durante
o processo, as dramaturgistas desenvolveram algumas ferramentas e
procedimentos dramatúrgicos que compartilham em seu texto.
Em seu artigo
Dramaturgia e audiodescrição de mãos dadas nos processos
de criação em dança
, Thiago Cerejeira traz contribuições urgentes para o campo
da dança e sua relação com acessibilidade. Cerejeira conta de a necessidade de
artistas da dança considerarem a tradução em audiodescrição de seus trabalhos
desde o processo de criação, pois ela irá dançar junto com a performance na
intenção de traduzir a obra poética e esteticamente e, assim, mover a imaginação
das pessoas cegas ou com baixa visão. O autor ainda posiciona a audiodescrição
como construtora da dramaturgia dos trabalhos e sugere que o encontro entre as