
Acervo Sábato Magaldi, muito além da memória
Elen de Medeiros | Ana Clara P. C. Marques
Florianópolis, v.1, n.50, p.1-20, abr. 2024
pesquisa no arquivo da biblioteca Mário de Andrade para presentear o crítico com
a publicação única de críticas nos jornais paulistas, até mesmo a edição de
Amor
ao teatro
seria impossibilitada, uma vez que:
Sábato, pelo acúmulo de funções, durante um período, além de professor
na ECA era procurador do INSS, assistia aos espetáculos para fazer a
crítica quase diária no JT [Jornal da Tarde], não tinha a menor ordem nos
assuntos pessoais [...]. Ele vivia rodeado de papéis e, às vezes,
enlouquecia atrás de um documento ou de um livro [...]. E quando
precisava consultar o arquivo que eu lhe dera, para escrever artigos
longos, na pressa, ele se servia das críticas e jamais as devolvia ao arquivo
(Van Steen, 2017, p.14).
Essa pluralidade de funções e grande dedicação à produção artística, crítica
e acadêmica, apontada pela escritora e companheira do crítico, está bem
representada no extenso e diverso arquivo de Magaldi. Como observamos
anteriormente,
o acervo é composto pela biblioteca do crítico, manuscritos de críticas e
de livros de sua autoria, manuscritos de peças originais enviados para
apreciação, correspondência (passiva em sua maioria), fotografias de
espetáculos e particulares, programas, anotações diversas, quadros,
homenagens recebidas, escrivaninha, cadeira, fardão e a espada da
Academia Brasileira de Letras (ABL) (Medeiros, 2017, p. 280).
Não bastasse o volume do seu acervo, observamos um ordenamento
documental irregular, apresentando muitos documentos com temas relacionados,
agrupados ou não, folhas soltas, rasuradas e, infelizmente, algumas em estado de
deterioração avançado. Sendo assim, ao passo que o contato com o acervo de
Magaldi se revela uma enorme oportunidade, o trabalho para seu tratamento e
inventariação representa um grande desafio.
Seguindo a proposição de Campos (2011), o primeiro passo para o trabalho
com um acervo pessoal é o estudo da trajetória e das obras do titular, bem como
do universo que o circunda e que ele aborda. Para além do estudo sobre a vida de
Sábato Magaldi, tornou-se fundamental o contato com algumas de suas
publicações e a retomada do contexto histórico, em especial aquele do teatro
brasileiro e da crítica moderna, já que, em grande medida, suas atividades estão
relacionadas a este universo. Muito embora suas atividades críticas e de docência
estejam estreitadas com a historiografia teatral, há de se observar que Magaldi