Aspectos formativos do
PANOS – Palcos novos palavras novas
: um olhar estrangeiro, inicial e tateante
Heloise Baurich Vidor | Isabel Gonçalves Bezelga
Florianópolis, v.3, n.48, p.1-25, set. 2023
resistência, observada principalmente na fala dos(as) estudantes, mas é um
princípio instigante em termos formativos. Talvez, a preocupação do projeto
quando coloca essas regras seja mais a de “respeitar o(a) autor(a)”, já que se trata
de um texto inédito encomendado especialmente para ser estreado neste
contexto. Contudo, a fala a seguir, do coordenador do projeto mostra que, de
alguma maneira, estas questões estão implicadas:
Permitam-me que vos fale do Miguel. É só uma pessoa. É um entre os
milhares que já viveram esta experiência, mas representa o real poder
transformador deste projeto. Conheci o Miguel quando ele tinha 13 anos.
Tímido, inseguro, com claras dificuldades de socialização. Nunca tinha
entrado sequer num teatro. O Miguel teve a oportunidade de participar
em várias edições dos
PANOS
e, tal como os seus colegas de grupo,
através dos desafios propostos, foi obrigado a pensar, a discutir, a
argumentar, a questionar, a experimentar, a imaginar, a agir. Ao fazê-lo,
cresceu nas competências pedagógicas, motoras, sociais e artísticas.
Hoje, o Miguel está no terceiro ano da Escola Superior de Teatro e Cinema.
Confidenciou-me recentemente que irá estrear-se profissionalmente na
peça de um encenador de renome internacional. Não é que isto seja o
mais importante. Mesmo que o Miguel não se tivesse tornado ator (não é
esse o objetivo), a passagem pelos
PANOS
aumentou-lhe o mundo,
esticou-lhe horizontes, abriu-lhe portas e janelas. Apetrechou-o de
sentido crítico e deu-lhe a oportunidade de
calçar os sapatos do outro
.
Sei que é só uma história. É só o Miguel. Mas é isto que é este projeto:
uma rede de fios, aparentemente invisíveis, que se vão cruzando e
entrecruzando e tecendo efeitos difíceis de prever. Acredito que haverá
mais, muitos mais a aproveitarem esta oportunidade. Nas mais diversas
áreas” (Junqueira, 2019, p. 12-13).
A ideia de não só “calçar os sapatos do outro”, mas efetivamente dizer as
suas palavras é o que estamos querendo ressaltar como ponto altamente
impactante do
PANOS
em termos formativos. A ação de levar os(as) jovens – e
também os(as) adultos(as) envolvidos(as) - a conhecerem e discutirem ideias e
pontos de vista que o texto traz, que são do outro (do autor/ da autora), fazendo
com que eles(as) consigam dar corpo às palavras e colocá-las na cena para fruição
- não sem se inquietarem, revoltarem-se ou se desestabilizarem com isso – é um
dos elementos que ancoram e sustentam o processo de convívio e criação e
evocam um outro aspecto que é lidar com uma Literatura (com L maiúsculo).
A Literatura (com L maiúsculo) a qual nos referimos são os textos criados
para o projeto e levados à cena pelos(as) jovens, que provocam aquilo que Sara
Bertrand (2021) diz, a partir de Roberto Bolaño, como sendo “a aposta literária”, ou