Urgente
(2016), um teatro de grupos
Entrevista com Cláudio Dias | Marcelo Sousa e Silva | Zé Walter Albinati
Concedida a Marco Antonio Pedra da Silva
Florianópolis, v.3, n.48, p.1-24, set. 2023
Cláudio Dias
- Em 2016, este foi um dia de votações na câmara sobre o processo
de impeachment. Nós estreamos no CCBB, e, na frente da praça em que
aconteceram as apresentações, haviam muitos apoiadores do golpe reunidos
assistindo a votação. Então eram muitas sobreposições de camadas de tempo-
espaço.
Vocês comentaram que fizeram um intensivo para a criação da peça
Urgente
que aconteciam em manhãs e tardes aqui na Estação Lunar. Como foi
viabilizada a estadia do Areas Coletivo, um grupo carioca, em Belo Horizonte?
Marcelo Sousa e Silva
- No início do processo, os encontros com as diretoras
eram mais pontuais. Elas vinham e nos deixavam algumas tarefas, não para
ensaiarmos juntos sem elas, porque isso elas não queriam, mas desenvolvendo
alguns dispositivos. Por exemplo, ampliar e aprofundar as figuras criadas em sala
de ensaio, criar registros do cotidiano que se relacionassem com cada figura,
observar o mundo, etc.… Depois de uma pausa no trabalho, no final do ano, para
comemorar natal e ano novo, elas vieram para ficar. Alugamos apartamento e elas
ficaram de janeiro até a estreia, que foi no fim de março.
Zé Walter Albinati
- A Miwa e a Sílvia vinham com uma frequência maior e Liliane
Rovaris, também do Areas Coletivo, tinha um olhar voltado para a dramaturgia e
vinha com menos frequência. Era este o trio que fazia a direção do espetáculo.
Geralmente, elas vinham em diferentes duplas e, algumas vezes, Miwa e Sílvia
vinham sozinhas.
Marcelo Sousa e Silva
- E haviam alguns ruídos, porque como elas não estavam
presentes o tempo todo juntas, às vezes uma orientação divergia da outra. Não
sabemos como era isso entre elas, mas em nós causou, diversas vezes,
redirecionamento do trabalho. A criação colaborativa7 é um procedimento que a
gente já adota há um tempo, desde
Aqueles Dois
, oficialmente, mas, na prática,
desde
Nesta Data Querida
, um projeto em que quatro grupos estavam criando
peças de quarenta minutos.
7 “A referida dinâmica - numa definição sucinta - se constitui num modo de criação em que cada um dos
integrantes, a partir de suas funções artísticas específicas, tem espaço propositivo garantido. Além disso,
ela não se estrutura sobre hierarquias rígidas, produzindo, ao final, uma obra cuja autoria é dividida por
todos.” (Araujo, 2008, p. 1)