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Urgente
(2016), um teatro de grupos
Entrevista com Cláudio Dias, Marcelo Sousa e Silva,
Zé Walter Albinati
Concedida a Marco Antonio Pedra da Silva
Para citar este artigo:
DIAS, Cláudio; SILVA, Marcelo Sousa e; ALBINATI,
Walter.
Urgente
(2016), um teatro de grupos. [Entrevista
concedida à Marco Antonio Pedra da Silva].
Urdimento
-
Revista de Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v.3,
n.48, set. 2023.
DOI: http:/dx.doi.org/10.5965/1414573103482023e0501
A Urdimento esta licenciada com: Licença de Atribuição Creative Commons (CC BY 4.0)
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(2016), um teatro de grupos
Entrevista com Cláudio Dias | Marcelo Sousa e Silva | Zé Walter Albinati
Concedida a Marco Antonio Pedra da Silva
Florianópolis, v.3, n.48, p.1-24, set. 2023
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Urgente
(2016), um teatro de grupos
Entrevista com Cláudio Dias, Marcelo Sousa e Silva,
Zé Walter Albinati1
Concedida a Marco Antonio Pedra da Silva2
Resumo
Nesta entrevista, os atores Cláudio Dias, Marcelo Sousa e Silva e Zé Walter Albinati,
da Cia. Luna Lunera (BH), comentaram o processo de criação da peça
Urgente
(2016),
escrita pela companhia em coautoria com o Areas Coletivo de Arte (RJ). Os artistas
abordaram os procedimentos criativos da dramaturgia e encenação do espetáculo;
a recepção do público nas apresentações e nos ensaios abertos; e a presença da
banda Constantina (BH) no processo de criação. A entrevista foi realizada na sede
da Cia. Luna Lunera em janeiro de 2023.
Palavras-chave
: Teatro brasileiro. Dramaturgia. Dinâmicas colaborativas.
Processualidade.
Urgente
(2016), a theater of groups
Abstract
In this interview, the actors Cláudio Dias, Marcelo Sousa e Silva and Walter
Albinati, from Cia. Luna Lunera (BH), commented on the creation process of the
piece
Urgente
(2016), written by the company in co-authorship with Areas Coletivo
de Arte (RJ). The artists approached the creative procedures of the show's
dramaturgy and staging; public reception in presentations and open rehearsals; and
the presence of the band Constantina (BH) in the process of creating the piece. The
interview was held at the headquarters of the interviewed group in January 2023.
Keywords
: Brazilian theater. Dramaturgy. Collaborative dynamics. Procedurality.
Urgente
(2016), un teatro de grupos
Resumen
En esta entrevista, los actores Cláudio Dias, Marcelo Sousa e Silva y Walter
Albinati, de la Cia. Luna Lunera (BH), comentó sobre el proceso de creación de la
pieza
Urgente
(2016), escrita por la compañía en coautoría con Areas Coletivo de Arte
(RJ). Los artistas abordaron los procedimientos creativos de la dramaturgia y puesta
en escena del espectáculo; recepción de público en presentaciones y ensayos
abiertos; y la presencia de la banda Constantina (BH) en el proceso de creación de
la pieza. La entrevista se realizó en la sede del grupo entrevistado en enero de 2023.
Palabras clave
: Teatro brasileño. Dramaturgia. Dinámica colaborativa. Procesalidad.
1 Membros da Cia. Lunera, de Belo Horizonte (MG).
2 Graduando em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Bolsista no Programa de
Iniciação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo
2020/08383-0. marcoantonio.pedrasilva@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/2345023723065044 https://orcid.org/0000-0002-8939-2658
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A Cia. Luna Lunera foi fundada em 2001 por alunos egressos do Centro de
Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado (CEFAR), na cidade de Belo
Horizonte. É uma companhia que tem destaque na cena contemporânea mineira,
tendo circulado com suas peças em diversos estados brasileiros e participado de
festivais internacionais. O seu primeiro espetáculo foi uma encenação do texto
Perdoa-me por me traíres
(2001), de Nelson Rodrigues (1912-1980), dirigida por
Kalluh Araújo, que utilizou princípios da dança-teatro de Pina Bausch para a
montagem (Enciclopédia Itaú Cultural, 2023). No ano da estreia, a peça ganhou
nove prêmios Sesc Sated em 2001, incluindo as categorias de melhor espetáculo,
melhor direção, melhor ator e melhor atriz. Na época, o grupo era constituído por
dezesseis pessoas, hoje são seis as que integram a equipe: Claudia Correa, Cláudio
Dias, Isabela Paes, Marcelo Souza e Silva, Odilon Esteves e Zé Walter Albinati.
Ao longo das duas décadas de estrada, foram oito espetáculos produzidos:
Perdoa-me por me traíres
(2001),
Nesta data querida
(2004),
Não desperdice sua
única vida
(2006),
Aqueles dois
(2007),
Cortiços
(2008),
Prazer
(2011),
Urgente
(2016),
E ainda assim se levantar
(2019). Desde 2004, com a criação de sua segunda peça,
o grupo se debruça sobre processos colaborativos. A companhia recebeu a
orientação de profissionais importantes desta vertente teatral para a produção de
seus trabalhos ao longo de sua trajetória - Luís Alberto de Abreu, Antonio Araújo e
Roberta Carreri, do Odin Teatret (DK). As peças
Aqueles Dois
,
Prazer
e
Urgente
destacam-se na trajetória da companhia por terem tido a dramaturgia e a direção
assinadas por várias mãos. Investir em dinâmicas coletivas no desenvolvimento de
funções que costumam ser realizadas por uma pessoa só é uma característica do
grupo, que também assina a dramaturgia de
Não desperdice sua única vida
e
Cortiços
. A iluminação da peça
Aqueles Dois
também foi coletiva da companhia e
recebeu o prêmio Shell da edição de 2009, que rendeu ainda uma indicação ao
grupo na categoria melhor direção por este mesmo trabalho. A dramaturgia de
Prazer
foi indicada também a este prêmio, na edição de 2013. Nota-se, portanto,
que a qualidade do trabalho em grupo da companhia é reconhecida, inclusive, por
premiações importantes.
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Na Rua Álvares de Azevedo, 49, em Belo Horizonte, fica localizada a Estação
Lunar, onde os l
unos
, como são chamados os membros da equipe, realizam seus
ensaios e oferecem oficinas e cursos livres à população. O grupo sobrevive com o
dinheiro arrecadado nas ações formativas e também com financiamento público
utilizado para produção e circulação dos espetáculos e participação em festivais,
mostras e na programação do SESC - uma captação de recursos bastante plural.
Na conversa a seguir, três atores do grupo - Cláudio Dias, Marcelo Sousa e
Silva e Walter Albinati - abordaram o processo de criação da peça
Urgente
,
contando como ocorreu a parceria entre a companhia e o Areas Coletivo de Arte,
do Rio de Janeiro, que dirigiu e co-escreveu a montagem, e entre a banda
Constantina, de Belo Horizonte, que fez a ambientação sonora do espetáculo. Além
disso, os
lunos
descreveram as práticas propostas por Miwa Yanagizawa, uma das
diretoras do espetáculo, que contribuíram para a construção coletiva da
dramaturgia. Abordaram as histórias de outros processos da companhia e a
maneira como as individualidades dos membros da equipe compõem as criações
em grupo.
Figura 1 - Almoço no restaurante Bença Bençoi Bar e Café, próximo à sede da Cia. Luna
Lunera no dia 12 de janeiro de 2023. Da esquerda para a direita, Zé Walter Albinati, Cláudio Dias,
Marco Pedra e Marcelo Sousa e Silva
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Como surgiu a ideia de criar a peça
Urgente
?
Marcelo Sousa e Silva
- Eu e Isabela Paes estávamos no aeroporto, em trânsito,
durante uma temporada da peça
Prazer
e começamos a conversar. Eu disse:
“Estou fazendo quarenta anos, Isabela, talvez eu esteja na metade da minha vida,
preciso pensar sobre o que vou fazer com o resto” e ela me respondeu: “Então, na
verdade, você tem menos do que a metade, Marcelo, porque o tempo está
passando cada vez mais depressa - pelo menos é essa a sensação que temos, de
acordo com o filósofo Blaise Pascal”. Um tempo depois, em 2014, quando nós
[membros da Cia. Luna Lunera] pensamos em criar um projeto novo para o grupo,
conversamos sobre as inquietações de cada integrante da companhia e
resgatamos essa conversa minha com a Isabela que se tornou o primeiro mote
para a criação do projeto da peça Urgente, que foi criado e aprovado naquele
mesmo ano para começar a ser executado no ano seguinte. Na elaboração do
projeto, surgiram alguns nomes para integrar a produção do espetáculo, dentre
eles, Miwa Yanagizawa3.
Zé Walter Albinati
- A partir do estímulo de pensar que nós já havíamos feito na
companhia processos colaborativos, sendo que a primeira direção compartilhada
aconteceu na peça
Aqueles Dois
e a segunda na peça
Prazer
, nós concluímos que
seria interessante ter, no novo projeto, um olhar de fora, principalmente para ter
uma outra perspectiva de atuação. Além disso, queríamos trabalhar com um texto
que tivesse sido produzido por outra pessoa, ou seja, desejávamos contratar
alguém para assumir a direção e alguém para fazer a dramaturgia da peça
Urgente
.
Para a direção, pensamos em nomes de pessoas que tínhamos apreço,
admiração pelo trabalho, e Miwa frequentemente aparecia em nossas memórias.
Marcelo Sousa e Silva
- Nós havíamos assistido um espetáculo dirigido por ela
que gostamos bastante, chamava-se:
Deve haver algum sentido em mim que
basta
.
3 Nasceu em São Paulo, em 1965, e radicou-se no Rio de Janeiro mais de trinta anos. Em sua carreira
teatral, dedica-se às funções de atriz e diretora e, com isso, ganhou prêmios de ampla projeção (Shell, APCA
e APTR). Além disso, realizou diversos trabalhos na TV, como atriz, os mais recentes foram na série
Sentença
(2022) e na telenovela
Cara e coragem
(2022).
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Cláudio Dias
- Em Cariri, uma cidade do Rio de Janeiro. Além de assistir o
espetáculo, encontramos Miwa em um avião e conversamos com ela. Também
fizemos uma oficina com o Jeferson, que estava neste espetáculo da Miwa, e a
experiência despertou em nós instrumentos que utilizamos na peça
Prazer
e que
depois sentimos a necessidade de aprofundar o estudo. Na época da construção
do projeto da peça
Urgente
, o Jeferson estava estudando fora do Brasil. Com a
proximidade com a Miwa, a partir do encontro no avião e do fato dela ter assistido
espetáculos nossos e estava tendo vontade de aprofundar o estudo que ela e o
Jeferson tinha sobre o trabalho do ator, convidamos para integrar a peça
Urgente
,
pois sentíamos necessidade de ter alguém olhando para as nossas atuações -
antes não tínhamos ninguém olhando para isso.
Zé Walter Albinati
- Éramos nós por nós. Ao convidarmos a Miwa, ela nos trouxe
uma contraproposta, ao invés de dirigir o espetáculo sozinha, ela propôs que
Urgente
fosse dirigido pelo seu coletivo, o Areas4. Em relação à dramaturgia, ela
sugeriu o Emanuel Aragão, que não pode estar conosco no processo, e, nesta
impossibilidade, a proposta era que esse coletivo cuidasse da dramaturgia a partir
das nossas provocações e da dinâmica que seria utilizada, uma série de
improvisações dentro de um postulado que a Miwa tem que é a oficina
A Escuta
- em que acontecem uma série de improvisações em que não um tema pré-
estabelecido, a partir de um silêncio de tempo-espaço, quase sempre começando
com uma dupla de atores, e que a partir das suas percepções de tempo-espaço
e de um e outro, começam a gerar questões embrionárias que evoluem para
possíveis temas captados pela direção, o Areas Coletivo, e devolvidos para nós em
alguma outra etapa, e vai surgindo este diálogo comum em que a dramaturgia
é assinada pelo Areas Coletivo e por nós.
Cláudio Dias
- E antes de assumirmos a dramaturgia, a gente procurou outros
dramaturgos, e com isso chegamos no Carlos Trovão que foi um provocador
filosófico do processo.
4O Areas Coletivo de Arte é um grupo teatral fundado em 2012 a partir da criação do espetáculo
Breu,
com
direção de Mywa Yanagizawa e Maria Sílvia Siqueira Campos e dramaturgia de Pedro Brício. O grupo tem
base no Rio de Janeiro e em São Paulo. A peça
Urgente
foi o quarto espetáculo da companhia, que, além de
Breu, também havia encenado
Minha vida está em meus versos
(2012) e
Plano sobre queda
(2014) (Areas
Coletivo de Arte, 2022).
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Zé Walter Albinati
- Ele é um psicanalista, escritor…
Cláudio Dias
- A ideia era que ele escrevesse, mas o caminho do processo foi para
outro lugar e ele virou um provocador.
Marcelo Sousa e Silva
- Ele não é dramaturgo. Ele não tinha tido nenhuma
experiência específica com dramaturgia. Então, com a desistência do Emanuel, a
gente começou a pensar em alguns nomes e decidimos, ao mesmo tempo,
começar o processo para ver qual seria a necessidade e veio o nome do Trovão,
Carlos de Brito e Melo. E virou esta pessoa que assiste os ensaios e a partir deles
traz reflexões filosóficas. Além disso, o Jean-Luc, marido da Isabela, filósofo e
professor universitário na França, trouxe algumas reflexões a partir das
autobiografias/retrospectivas que escrevíamos para a peça. Ele indicou um filósofo
diferente para cada um de nós lermos, a partir das questões que trazíamos.
Cláudio Dias
- Uma outra interlocução que também compunha a dramaturgia era
a banda Constantina5, que fazia uma leitura musical das improvisações - eles
respondiam aos nossos improvisos com música. um coletivo aqui em Belo
Horizonte que se chama “Horizonte da Cena”, um coletivo de crítica teatral, e esse
coletivo criou um projeto para acompanhar processos. Nós fizemos uma
apresentação para esse coletivo que durou dois dias.
Marcelo Sousa e Silva
- Era um
Observatório de criação
, procedimento artístico
da Cia. Luna Lunera em que a gente convida parceiros artísticos, amigos, familiares,
que tenham um conhecimento profundo ou não de teatro, e que possam nos
assistir e ver nossos ensaios. No caso de Urgente, o Horizonte em Cena nos
convidou para esta abertura de processo e nós fizemos um
canovaccio
6 de
improvisações, que não tinha uma estrutura fechada. Foi o nosso décimo nono
ensaio, foi aí que abrimos o processo para o público.
5 “Constantina é uma banda instrumental formada em Belo Horizonte, Brasil, em 2004. Com 8 álbuns lançados,
o conjunto reúne em sua história participações em vários festivais dedicados à música independente no
Brasil, além de turnês internacionais passando por respeitados festivais como SXSW (EUA) e Focus Wales
(Reino Unido).” (Constantina, 2019)
6 Tipo de roteiro utilizado na
Commedia dell'arte
, uma vertente do teatro popular que surgiu na Itália e usava
em suas fábulas personagens arquetípicos representados por máscaras, em que eram descritas as principais
ações das peças.
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Cláudio Dias
- Como eram dois dias de apresentação, pensamos em fazer um
esquema em que, no primeiro dia, apresentaríamos 50 minutos desta primeira
estrutura de peça e, no outro, outros 50 minutos. Acabou que isso não aconteceu,
mas houve essa ideia.
Marcelo Sousa e Silva
- Houve tanta coisa, não é? Mas o Constantina foi este
grupo musical cuja primeira interferência foi neste ensaio aberto do Horizonte da
Cena, e eles têm esse viés de improvisação musical. Foi bem interessante porque
o que eles fizeram foi uma ambientação sonora da peça que interferiram na
criação.
Walter Albinati
- A vontade, inclusive (visto que eles vinham aqui para o espaço
do ensaio, a
Estação Lunar
, montavam seus equipamentos e faziam um trabalho
muito interessante), não era de uma trilha de fundo, mas de um diálogo com o
que a gente trazia de improviso, e que eles pudessem estar presentes ao vivo ao
longo das temporadas, mas isso inviabilizaria o orçamento porque fazer uma
temporada longa com uma banda toda ao vivo é um custo muito alto.
Eles são de Belo Horizonte?
Marcelo Sousa e Silva
- Sim, alguns fazem trilha para cinema, eles são muito
bons. Enquanto estávamos improvisando lá no Horizonte da Cena, a banda tocava
e os outros ficavam assistindo e era lindo.
Walter Albinati
- Mas voltando ao princípio da oficina
A Escuta
, funcionava
assim: uma dupla de atores começava a improvisar sem tema específico e um
tempo dilatado.
Cláudio Dias
- De trinta minutos!
Walter Albinati
- Os atores que participavam do improviso não tinham controle
do tempo, a improvisação terminava quando o relógio das diretoras do Areas
apitava. No início, as improvisações eram feitas em duplas, depois entrava uma
terceira pessoa. Isso foi gerando muito material, e desse exercício derivaram as
retrospectivas de vida, em que os atores, na peça, têm dois minutos para resumir
suas trajetórias. Além disso, as diretoras do Areas davam dispositivos para nós
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fazermos durante as cenas. Elas os entregava, às vezes, em pequenos pedaços de
papéis, outras vezes soprando em nossos ouvidos. Eram estímulos e não objetivos
que tínhamos que mostrar que estávamos cumprindo de forma explícita - não era
um campeonato de adivinhação, mas um motor de relações. Todos que estavam
em cena recebiam esses dispositivos e isso causava fricções bem curiosas. Ao
longo do tempo, a gente acaba cometendo algum elemento de traço biográfico,
afinal, são muitos anos de convivência. Na época, nós tínhamos quinze anos de
grupo. Alguns elementos biográficos emergiram no meio dessas improvisações e
foi daí que veio a proposta que elas colocaram na peça de fazer uma retrospectiva
de vida com um resgate biográfico na peça. E, em relação a duração do exercício,
cada pessoa deveria dizer que tempo que achou que teve a sua performance, até
que elas iam limitando: primeiro dez minutos, depois cinco e depois dois, como
ficou na dramaturgia final. A proposta veio da ideia de que um filme da vida
aparece para pessoas próximas da morte em pouquíssimo tempo. Sendo que a
minha personagem tem o espetáculo como estes dois minutos em que lembra de
toda a narrativa que está sendo contada. E os outros quatro personagens fazem
suas retrospectivas, cada um em dois minutos do espetáculo, e o meu
personagem, que virou um sobrevivente do desabamento, é como se tentasse
dizer nesses dois minutos o tempo simbólico do espetáculo.
Marcelo Sousa e Silva
- Isso dialoga com um outro espetáculo nosso, o
Não
desperdice sua única vida
, dramaturgia nossa e da Cida Falabella e direção da Cida
Falabella, atualmente vereadora em Belo Horizonte, em que em algum momento
do processo criativo, uma antiga atriz da companhia, a Fafá Rennó, começou a
falar de uma tia dela de uma maneira muito engraçada e a Cida agregou no
espetáculo e pediu para cada um dos atores trazer uma cena biográfica também.
E essas cenas eram cenas muito a cara de cada um. Esse espetáculo tinha três
instâncias: uma autobiográfica, uma de criação de personagens e outra em que
todos esses personagens se encontravam em um programa de TV. Ele começava
com a plateia recebendo bolinhas de cores diferentes que davam acesso a uma
autobiografia.
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Walter Albinati
- O público sorteava essas bolinhas coloridas, porque chegava,
de patins, uma personagem receptora, a produtora do espetáculo, com um
recipiente cheio de bolinhas. Eles eram separados de acordo com as cores dessas
bolinhas, e escutavam, no início do espetáculo, as autobiografias que eram
apresentadas simultaneamente.
Marcelo Sousa e Silva
- Então quando o Areas propõe essa ideia, acende uma
luzinha. Eu lembro que estávamos na Argentina, apresentando
Aqueles Dois
, e
pensando: “Será que a gente fala com elas?”
Zé Walter Albinati
- Houve uma resistência mesmo…
Marcelo Sousa e Silva
- É, porque a gente tem esse trabalho no nosso repertório
e elas não conheciam, nunca assistiram o espetáculo, mas quem nos acompanha
tinha visto a autobiografia no nosso espetáculo, porque
Não desperdice sua
única vida
foi um trabalho de relevância na cidade, então tinha essa inquietação
de voltar a usar elementos autobiográficos dentro de um novo trabalho. Mas
compartilhamos isso com elas, e elas falaram: “É outro contexto, vamos utilizar
de outras formas, vocês vão utilizar de outros elementos, nós vamos propor outros
recortes…”
Cláudio Dias
- E, comparando, são autobiografias bem diferentes nos dois
espetáculos, porque são momentos de vida bem diferentes. As inquietações são
outras.
Marcelo Sousa e Silva
- Sim, o primeiro estreou em 2006 e o segundo em 2015.
Cláudio Dias
- E, no primeiro, as biografias eram mais cênicas, no segundo, eram
narrações que vão se associando a reflexões sobre o tempo.
Walter Albinati
- As diretoras do Areas observaram as fricções que tinham
entre nós, os vocabulários em comum e, a partir disso, disseram que nós
trazíamos um elemento biográfico muito potencial. A inspiração das retrospectivas
surgiu, inclusive, de um impasse entre Cláudio e Odilon que ficou muito evidente,
porque, em um determinado momento, na dinâmica de improvisos surgiu
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questões entre os dois que eram de ordem muito biográfica. E, a partir dali, elas
pensaram em cada um trazer a sua retrospectiva de vida para a peça. E ainda
tinha o jogo da sensação de tempo: “Quanto tempo você acha que durou a sua
retrospectiva?”. O Marcelo sempre fez em menos que oito minutos e eu,
ligeiramente prolixo, fazia em trinta, quarenta, uma hora e meia… Era um
monólogo! Brinco, mas ultrapassava um pouco.
Marcelo Sousa e Silva
- Eu lembro que quando o tempo limite era cinco, a sua
chegou em onze! E na peça
Não desperdice sua única vida
a menor era minha e a
maior era do Zé.
Cláudio Dias
- Eram muitas indicações das diretoras que vieram até antes mesmo
dos exercícios de escuta. Logo no início do processo, elas disseram que cada um
de nós tínhamos que aprender algo novo. Então, durante o processo, cada um
procurou algo novo para aprender sem contar para os outros. A segunda tarefa
era que a gente passasse a se comunicar através de cartas, a própria Miwa
começou a nos enviar cartas. E a terceira tarefa era que a gente fotografasse a
mesma paisagem todos os dias no mesmo horário e fotografasse a si mesmo
todos os dias no mesmo horário também.
Walter Albinati
- E a gente mandava isso para a direção, os colegas de
elenco não tinham acesso a essas fotos. Acho que eles nem sabem, inclusive, que
todos os dias no mesmo horário, além de fotografar a mim, eu fotografava o que
estava diante de mim.
Cláudio Dias
- Eu fotografava a mim e a uma casa todos os dias.
Marcelo Sousa e Silva
- Eu só me fotografava…
Cláudio Dias
- E a quarta tarefa era refletir sobre: O que é urgente hoje no mundo?
O que está pedindo socorro? Quais são as suas urgências? Quais são as medidas
de tempo? E qual a sua urgência do dia? E fazíamos listas com essas perguntas.
Tudo para que chegássemos no jogo da escuta e estivéssemos alimentados
dessas coisas todas.
Walter Albinati
- Nessas primeiras relações, são “personas” que se relacionam
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e não personagens ainda. E, em um outro momento, estabelecem uma narrativa
de personagens que a princípio não existiam. Isso vem em um outro momento
mais adiante, quando descobrimos o desenho de personagem que elas estavam
pensando para cada um de nós.
Marcelo Sousa e Silva
- Em algumas das improvisações, cada um de nós tinha
um nicho nas improvisações, que depois viraram os apartamentos no espetáculo,
e dentro destes nichos tinham alguns objetos que levavam a ações. As minhas
eram: acender cigarro, fumar, copiar, falar ao telefone. O Odilon, nesse exercício,
estava de fora, então as diretoras do Areas deram uma tarefa para ele, interferir
em cada nicho. Então ele ia até os nichos chegando com dispositivos. Para mim,
ele disse: “Você precisa fazer as mesmas ações em um tempo mais rápido. Em 30
segundos, você tem que encerrar as ligações telefônicas”, e eram ligações reais.
Então eu começava a conversar e desligava, interrompia. Isso para o meu
personagem é um elemento de construção, porque é um cara multitarefas, que
faz muitas coisas ao mesmo tempo.
Cláudio Dias
- No meu caso era mais dilatado, eu tinha que levar mais tempo
para fazer as ações.
Walter Albinati
- Sendo que o estímulo inicial, era cada qual criar o seu mundo
particular. Cada qual montou a sua instalação em um canto que escolheu e
interagiu criando rotinas, com repetições. E depois teve a interferência do Odilon.
E depois a gente pôde visitar os nichos uns dos outros. E, dentro destes
dispositivos, eu recebi um que era para olhar para cada um dos meus colegas e
para cada um dos espaços como se fosse a última vez, acho que meus colegas
nem sabiam disso. E, depois, as diretoras do Areas me disseram que diferente dos
meus colegas, eu não teria nicho, apenas um banco de madeira. Eu também não
podia me expressar com mais de três palavras e podia me reportar, ao longo
do processo, ao que meus colegas de cena me perguntassem. Eu não poderia
iniciar um assunto. Eu fui ficando muito retraído, eu podia andar em linhas retas
e mudar de direção em noventa graus, e, enquanto isso, eles foram estabelecendo
relações mais fortes entre eles nas cenas o que gerou uma estranheza do restante
do grupo, porque eles começaram a achar que eu não estava produzindo. Um dos
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meus dispositivos que elas deram era ficar invisível. Teve uma vez que a Isabela
estava em cena e esbarrou em mim como se eu não estivesse porque ela não
me viu. Era comum, nos ensaios, as diretoras falarem “Menos, Zé! Menos”, e eu fui
contraindo, contraindo… O Cláudio foi super solícito e veio me dar algumas ideias
de como eu poderia reagir e eu não podia propor. Meus passos deveriam ser
curtos, eu não podia correr… As diretoras foram tirando as possibilidades e eu não
entendi o porquê. Teve um dia que eu cheguei aqui na sede do Luna antes dos
meus colegas e chorei escondido no banheiro, e eu pensava: “Meu Deus, o que
está acontecendo comigo?”.
Marcelo
: Eu ia até falar, Zé, não era um processo confortável para você…
Zé Walter Albinati
- Não, não era.
Cláudio Dias
- A gente foi procurar nelas aquilo que quebrava o nosso
modus
operandi
de criar.
Walter Albinati
- Eu lembro que o Odilon não queria um personagem com
textos, e o personagem dele tem calhamaços, bifes enormes…
Cláudio Dias
- Elas foram trabalhando no sentido contrário do que estávamos
acostumados a fazer.
Walter Albinati
- Sim, e, neste sentido, normalmente eu tenho uma fluência
de interações, provocações, então elas foram reduzindo, reduzindo… Eu era prolixo
na hora de elaborar a minha retrospectiva, até que elas cortaram a minha
retrospectiva. Todos tinham retrospectiva e eu não tinha. Todos tinham nicho de
madeira e eu não tinha, por conta do que estava sendo germinado e que, em
princípio, nem elas sabiam o que seria. Mas havia uma relação em que, de alguma
maneira, nós abordaríamos um tempo de memória e reconstrução e eu estaria
presente de maneira diferente nesta construção.
Cláudio Dias
- Nesses exercícios de escuta, elas iam descobrindo coisas e
investindo nessas descobertas. Por exemplo, elas notaram um atrito entre Odilon
e eu e, na peça, a gente vai brigando, brigando até cair na porrada. O Marcelo, ao
longo da peça, vai trabalhando cada vez mais. Então são pequenas coisas que vão
Urgente
(2016), um teatro de grupos
Entrevista com Cláudio Dias | Marcelo Sousa e Silva | Zé Walter Albinati
Concedida a Marco Antonio Pedra da Silva
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surgindo nos exercícios da oficina
A Escuta
que vão gerando os conflitos
dramatúrgicos da peça. Por exemplo, como o não falava nada, eu puxava ele
para a cena o tempo inteiro…
Zé Walter Albinati
- Durante as improvisações, o Cláudio levava coisas até mim,
me dava bom dia, perguntava se eu queria água…
Cláudio Dias
- Então mais a frente vai se descobrir que ele é o filho da personagem
da Isabela e o meu personagem se oferece para ser pai da criança.
Walter Albinati
- Ele é um tio meu, que sobrevivi, mas isso tudo foi construído
depois de seis meses… Para ser honesto, nós estreamos sem ter exatamente uma
evidência de quem éramos. Tinha, lógico, uma responsabilidade de uma narrativa,
mas esse aperto de parafusos da narrativa veio depois. Até porque tinha uma
preocupação, que foi testada em um ensaio aberto antes da primeira temporada,
que não houvesse uma explicitude de uma história com uma narrativa.
Marcelo Sousa e Silva
- Mas tem uma coisa interessante, nós começamos no dia
14 setembro e dia 29 de setembro já tinha um espaço cênico desenhado.
Cláudio Dias
- É porque esse início foi uma imersão, a gente ensaiava de manhã
e de tarde. Foi tudo muito rápido. A gente recebia vários dispositivos, e alguns a
gente tinha que manter ao longo dos exercícios. Um dispositivo meu que se
manteve na peça foi quando elas me pediram para pegar algum objeto da sala e
usar ele em cena, e eu comecei a empurrar o piano. E por que eu escolhi o piano?
Porque quando elas pediram para cada um de nós aprender uma coisa nova, eu
fui tentar aprender a tocar piano pela internet. E teve outro dispositivo em que
elas pediram: Crie um momento para que todos se envolvam com uma ação. E foi
quando eu apontei as rachaduras que existem aqui na nossa sede, e foi a partir
disso que surgiu a ideia do prédio com rachaduras, prestes a desabar. E isso tinha
uma ligação com refletir sobre o processo de golpe que a presidente Dilma estava
sofrendo em 2016.
Walter Albinati
- E apesar de não falarmos diretamente sobre isso na peça,
falamos sobre o golpe em uma carta aberta, no dia da estreia, 31 de março, data
em que ocorreu, em 1964, o golpe militar.
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Cláudio Dias
- Em 2016, este foi um dia de votações na câmara sobre o processo
de impeachment. Nós estreamos no CCBB, e, na frente da praça em que
aconteceram as apresentações, haviam muitos apoiadores do golpe reunidos
assistindo a votação. Então eram muitas sobreposições de camadas de tempo-
espaço.
Vocês comentaram que fizeram um intensivo para a criação da peça
Urgente
que aconteciam em manhãs e tardes aqui na Estação Lunar. Como foi
viabilizada a estadia do Areas Coletivo, um grupo carioca, em Belo Horizonte?
Marcelo Sousa e Silva
- No início do processo, os encontros com as diretoras
eram mais pontuais. Elas vinham e nos deixavam algumas tarefas, não para
ensaiarmos juntos sem elas, porque isso elas não queriam, mas desenvolvendo
alguns dispositivos. Por exemplo, ampliar e aprofundar as figuras criadas em sala
de ensaio, criar registros do cotidiano que se relacionassem com cada figura,
observar o mundo, etc.… Depois de uma pausa no trabalho, no final do ano, para
comemorar natal e ano novo, elas vieram para ficar. Alugamos apartamento e elas
ficaram de janeiro até a estreia, que foi no fim de março.
Walter Albinati
- A Miwa e a Sílvia vinham com uma frequência maior e Liliane
Rovaris, também do Areas Coletivo, tinha um olhar voltado para a dramaturgia e
vinha com menos frequência. Era este o trio que fazia a direção do espetáculo.
Geralmente, elas vinham em diferentes duplas e, algumas vezes, Miwa e Sílvia
vinham sozinhas.
Marcelo Sousa e Silva
- E haviam alguns ruídos, porque como elas não estavam
presentes o tempo todo juntas, às vezes uma orientação divergia da outra. Não
sabemos como era isso entre elas, mas em nós causou, diversas vezes,
redirecionamento do trabalho. A criação colaborativa7 é um procedimento que a
gente adota um tempo, desde
Aqueles Dois
, oficialmente, mas, na prática,
desde
Nesta Data Querida
, um projeto em que quatro grupos estavam criando
peças de quarenta minutos.
7 “A referida dinâmica - numa definição sucinta - se constitui num modo de criação em que cada um dos
integrantes, a partir de suas funções artísticas específicas, tem espaço propositivo garantido. Além disso,
ela não se estrutura sobre hierarquias rígidas, produzindo, ao final, uma obra cuja autoria é dividida por
todos.” (Araujo, 2008, p. 1)
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Zé Walter Albinati
- O
Nesta Data Querida
é o nosso segundo espetáculo e vem
de um convite do Galpão Cine Horto, após três anos de temporada da Cia. Luna
Lunera com a peça
Perdoa-me por me traíres
, um espetáculo que teve um êxito
muito grande, com boa recepção de crítica, o que era raro, que os críticos de
arte não escreviam sobre espetáculos de formatura, e a gente tinha uma
visibilidade grande, premiações, então foram três anos de temporada. O segundo
espetáculo surge de uma parceria entre O Galpão Cine Horto e a Cia. Maldita que
nos convidaram para um projeto chamado Cena Três por Quatro, que era juntar
um coletivo com alguma direção, com alguma dramaturgia que não tivessem ainda
interagido - gerado algo original. Eram quatro diretores, quatro dramaturgos e
quatro grupos teatrais. E isso geraria uma cena de quarenta minutos para suscitar
um processo colaborativo de criação do espetáculo. Com orientação do Luís
Alberto de Abreu na dramaturgia, a partir das experiências do Antonio Araujo e
com um braço do Galpão Cine Horto dentro dessa pesquisa de investigação da
horizontalização na criação de um espetáculo inédito. Então a partir daí surge o
Nesta Data Querida
, e, um dos princípios do processo colaborativo é que o
espectador é parte do processo. Então nós tanto visitávamos os outros grupos nos
seus processos embrionários, como poderíamos e deveríamos abrir para o público
nos darem os feedbacks do que estávamos criando em processo. Então vimos, a
partir desta experiência, o quanto é importante escutar o público como partícipe
da obra construída em processo. E não como um ensaio aberto que se fazia
antigamente que era: “Estamos com um espetáculo pronto e vamos testar a luz e
ver se as coisas funcionam”. Era muito pacífico para o público, o público assistia
algo muito próximo do que estaria na estreia. No processo colaborativo, não. Então
a gente radicaliza isso no processo de
Aqueles Dois
quando nós decidimos trazer,
muito precocemente, gente para nos visitar. E vira um
modus operand
i. E,
quando a gente participa do ensaio aberto do Horizonte da Cena, na Funarte, era
um flagrante de um espetáculo em processo, abrindo seu ensaio.
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Marcelo Sousa e Silva
- E, sobre o
Observatório de Criação
8, em cada espetáculo
ele acontece de uma forma, com uma certa periodicidade. Quando somos nós os
diretores, acontece com mais frequência, como em
Aqueles Dois e Prazer
.
Walter Albinati
- No
Cortiços
, por exemplo, tínhamos uma aposta que foi
chamar um bailarino-coreógrafo para atuar na função de diretor do espetáculo,
um profissional de excelência - Tuca Pinheiro - que trouxe estímulos
importantíssimos para a construção do espetáculo. Mas ele não tinha
experienciado ensaios abertos, e na véspera, como de praxe, propomos um
Observatório de criação
e ele ficou muito desconfortável com a ideia.
Marcelo Sousa e Silva -
Ele assistiu, inclusive, um tempo antes, um ensaio aberto
de
Aqueles Dois
e veio nos falar: “Gente, como vocês têm coragem de fazer isso,
vocês estão muito expostos.” E a gente respondeu que gostávamos desta
metodologia.
Walter Albinati
- Porque é muito construtiva, já tínhamos experienciado antes
o teatro colaborativo com
Nesta Data Querida
, e precisamos, em
Cortiços
,
tranquilizar o Tuca Pinheiro de que daria tudo certo. E quando fizemos o
Observatório de Criação
no
Cortiços
, ele gostou e nos disse: “Por que eu não fiz
isso antes?”, depois de ver a potência de mostrar um material em processo e notar
a qualidade da coleta de feedbacks que a gente tem e o quanto aquilo é norteador
do trabalho. No caso de Urgente, teve um ensaio que foi mais completo, quando
nós tínhamos as estruturas dos nichos, e a plateia disposta no que seria o
layout
do espetáculo, e algumas questões estavam mais fundamentadas,
tinham as relações, os textos estavam mais fixados, em alguma medida,
traziam perfis de personagens mais desenhadas… Pois bem, minutos antes a Miwa
chegou para mim e para a Isabela e falou: “no ensaio de hoje, vocês vão se
encontrar pela primeira vez”. Porque antes a Isabela passava por mim e não me
via, eu tinha uma pequena interatividade com o Marcelo, de levar água para ele,
8 O
Observatório de criação
é uma prática do grupo em que este apresenta suas peças em desenvolvimento
ao longo do processo criativo, às vezes, em uma etapa muito incipiente. Depois, o grupo colhe do público
sugestões, críticas e elogios que amparam a continuidade da criação.
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juntar moedas com ele, coisas poucas, mas tínhamos essa função. Com o Odilon,
tínhamos essa função, porque ele buscava muito, ele tratava o meu personagem
com muita familiaridade, o que vai desdobrar na dramaturgia na hipótese do
personagem dele ser o meu pai, que me abandona. E com o Cláudio, também uma
familiaridade que na dramaturgia se transforma no fato do personagem do Cláudio
ser irmão do personagem do Odilon e, portanto, tio do meu personagem. Isso tudo
para dizer que pela primeira vez, com o público entrando, ela disse que eu e Isabela
íamos nos encontrar pela primeira vez na peça. Perguntamos “Quando?” e ela
disse: “Depois da retrospectiva da Isabela”. Cada um fazia sua retrospectiva,
começava com o Marcelo, depois Cláudio e depois a Isabela, e, depois, pela
primeira vez, a gente se encontrou.
E quando foi este Observatório?
Marcelo Sousa e Silva
- 5 de março, e estreamos no dia 31 do mesmo mês. E os
feedbacks
do público eram muito interessantes e muito diversos. Às vezes, um
falava uma coisa, e o outro respondia “Achei o contrário”. Queria também
comentar de um outro procedimento, da roteirização, que tinha essa base de
improviso nesses encontros entre personagens, o espetáculo tem muitas cenas
em duplas e monólogos. Se fosse falar em linguagem da dança, Urgente seria um
espetáculo cheio de duetos e solos. Temos três cenas coletivas: o início da
peça, a briga e a cena do carnaval. Essa característica de ter mais cenas em duplas
vem muito da oficina
A escuta
, que acontecia geralmente em duplas. Tinha o
procedimento de gravação também, de gravar os improvisos, transcrever e mandar
para nós e o texto foi se transformando e se estabelecendo com isso.
Cláudio Dias
- E em alguns momentos, elas traziam referências como o
Dostoievski, tem uma cena do Odilon com a Isabela que é uma transcrição de um
texto - “O idiota”.
Marcelo Sousa e Silva
- E aí especificamente no Areas, a Liliane Rovaris tem esse
trabalho de pesquisa com esse autor. Então essas interferências individuais que
vão reverberando na obra.
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E como surgiu o interesse de trabalhar especificamente com o Constantina?
Marcelo Sousa e Silva
- Eu lembro que assisti um
show
junto com o Odilon e
conversei com uma das pessoas da banda: “Vocês fizeram algo para teatro,
porque eu acho que tem muito a ver, um dia vou chamar vocês!”. E aí, quando
estávamos conversando sobre montar a equipe, pode ser que eu tenha sugerido,
mas não tenho certeza, mas na minha cabeça teve esse movimento de quando
assistir pensar que a música que aqueles caras faziam dava para dialogar com
teatro.
O Areas Coletivo já estava aqui em Belo Horizonte na construção do projeto?
Marcelo Sousa e Silva
- Não, nós fomos dialogando por telefone, e-mail… Elas
vieram para cá mais adiante, na execução do projeto, que começou em março de
2015. Nós tivemos patrocínio do Banco do Brasil e apoio da Funarte. Esses projetos
grandes custam caro, então só é possível com esses financiamentos.
Como foi a recepção do público no
Observatório de criação
e depois da estreia?
E como foram acontecendo as modificações do espetáculo ao longo das
temporadas?
Marcelo Sousa e Silva
-
Urgente
teve uma questão que, diferente de
Prazer
, por
exemplo, não éramos nós quem dirigimos. Em
Prazer
, fomos experimentando
algumas coisas em cena até chegarmos em um formato que achávamos
interessante. No caso de
Urgente
, as diretoras não eram daqui. Então embora
tivéssemos tido algumas percepções sobre a peça durante a temporada em Belo
Horizonte, não fizemos grandes modificações no espetáculo sem elas. Na
temporada do Rio de Janeiro, elas, que moravam todas lá, assistiram a peça e
sugeriram coisas parecidas com o que já vínhamos pensando, então isso foi muito
interessante. Elas escutaram dos parceiros de profissão apontamentos de que
algumas coisas não ficaram claras e a partir daí implementaram mudanças. Então,
em São Paulo, temporada pós-Rio, a peça estava retrabalhada. Quanto ao
Observatório
, lembro-me que um colega meu, que havia assistido
Prazer
,
espetáculo anterior, quando assistiu
Urgente
, falou: “Nossa, não provocou nada em
Urgente
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mim. Eu queria ver Prazer de novo.” -
Prazer
é de fato mais aberto, mais efusivo…
Urgente
tem outra natureza. É uma peça que coloca o espectador em trabalho,
tem um ritmo muito próprio…
Zé Walter Albinati
- Prazer tem um embrião solar e
Urgente
tem uma tensão, é
um espetáculo indigesto. A plateia nos ajudou, no
Observatório
de criação de
Urgente
, a entender o que estava se comunicando e o que estava cifrado demais.
Estreamos
Urgente
em Belo Horizonte com a encenação muito zelada pela direção
do Areas. Tínhamos ainda muitas incógnitas sobre a peça. Eu mesmo ainda não
havia entendido qual era a questão fundante de Antônio na dramaturgia. Mas era
difícil dar
feedbacks
às diretoras nesta época, foi no Rio que elas começaram
a sentir mais confiança nos apontamentos que trazíamos. Quando culmina em
Brasília,
Urgente
já tinha o azeitamento do que entendíamos que era o espetáculo.
Cláudio Dias
- E quando a peça é exibida
online
, o público tem uma outra
percepção, que relaciona a peça com o momento de isolamento social.
Marcelo Sousa e Silva
- Algumas pessoas comentavam, no
Observatório
, que o
espetáculo tinha poucas relações de afeto, pois no início eram só os personagens
de Cláudio e Isabela que tinham uma amizade, e comentavam também que a peça
tinha muito texto e isso, às vezes, era dispersivo. Alguns espectadores falaram que
não entenderam quais as urgências de cada personagem e outro disse que a peça
era muito lenta… Mas a divisão dos nichos e a iluminação da peça ajudam muito
na compreensão da história, sem estes recursos, é natural que o espectador
ficasse confuso. E, nos
Observatórios
, não tínhamos tais recursos.
Cláudio Dias
- A gente ia colhendo os comentários e filtrando de acordo com o
que fazia sentido para nós.
Marcelo Sousa e Silva
- A Miwa sempre nos falava para ter cuidado para não se
cristalizar, para sempre considerar o outro, para estar sempre em jogo. Isso foi
muito forte neste trabalho.
Urgente
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E como a poética pessoal de cada integrante da Cia. Luna Lunera aparece em
Urgente
?
Cláudio Dias
- Acho que nas proposições de cada um. Quando a direção me
perguntou qual era a minha urgência, eu respondi que era o carnaval, que é algo
que eu sempre trago para as produções que faço parte. Em
Não desperdice sua
única vida
, fizemos pela primeira vez os
Ensaios afetivos
, em que trazíamos
propostas de coisas que queríamos montar. Quando trouxemos as propostas para
a diretora, Cida Falabella, ela nos disse que tínhamos cinco espetáculos diferentes,
acho que isso tem a ver com o jeito de cada um.
Marcelo Sousa e Silva
- Tem gente que quer que tudo esteja conectado (mais
causa consequência), outro traz a coisa mais apaixonada, outro mais bufônico…
Então acho que ali percebe-se os estilos de cada um. Por exemplo, Cláudio e
Odilon são duas personalidades quase opostas. O Cláudio é muito propositivo e
muito rápido, e o Odilon é o oposto disso, mas quando ele se conta do que tem
de material ele começa a ter insights e vontade de reestruturar a peça, o que deixa
o outro, que estava todo estabelecido, desconfortável. Então são
individualidades que friccionam, mas que são muito frutíferas. Então vejo na
poética do Odilon a tentativa de sempre criar ligação entre as coisas, no Cláudio
sempre uma disposição para propor, trazer ideias; na Isabela um trato com a
filosofia, até pela sua formação, e ela também levou a circunstância que estava
vivendo, exausta por conciliar os ensaios com o fato de estar cuidando de seu filho
pequeno, para a sua personagem, que está exausta de tanto trabalhar mas não
pode parar; O tem uma habilidade de conseguir ser um olhar externo que
permite com que ele observe e devolutivas aos colegas sempre com muito
cuidado; e eu estava em um momento da minha vida de realizar multitarefas e
sempre de maneira bastante objetiva, sem perder tempo, e essas características
foram atribuídas também ao meu personagem. Quanto às diretoras,
especialmente a Miwa, trabalham com a oficina
A Escuta
. Então ela chega sem
saber nada do grupo e vê que existe uma fricção entre Odilon e Cláudio e vê nisso
uma potência para a cena. Ela estava bastante atenta a nós.
Urgente
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Zé Walter Albinati
- Além disso, a Maria Sílvia é bastante ligada ao cinema e, na
etapa de estruturar a dramaturgia de
Urgente
, ela traz uma ordenação de cenas
em forma de escaleta para roteiro de cinema. Além disso, a gente aprende muito
um com o outro aqui no grupo, observando o outro fazer de um jeito que não é o
seu. Eu noto isso entre a gente e acho muito bonito.
E como foi voltar ao texto para sua publicação pela editora Javali?
Cláudio Dias
- Quando veio a comemoração de vinte anos da companhia, bem no
meio da pandemia, decidimos gravar uma versão em filme de
Nesta Data Querida
e publicar a dramaturgia de
Urgente
. Assim, cada autor retomou à leitura do texto,
passamos depois para a Miwa e as outras diretoras, e fomos aprimorando a
dramaturgia.
Walter Albinati
- O nosso pensamento era: Como alguém que não assistiu a
peça vai entender o texto? Por conta disso, aumentamos um pouco as rubricas.
Cada um dos atores foram escrevendo o que fazia em cada cena na encenação e
colocando no texto, as ações eram todas muito simultâneas. Ao mesmo tempo,
fomos entendendo que uma coisa era o espetáculo e outra a obra literária.
Olhando a trajetória da Cia. Luna Lunera, nota-se que há muitas peças escritas
por vocês. Como surgiu esta vontade?
Cláudio Dias
- As dramaturgias inéditas das peças do grupo, que são todas, com
exceção de
Perdoa-me por me traíres
, nasceu muito da vontade de ouvir dizer a
nossa própria voz.
Zé Walter Albinati
- Desde o Palácio das Artes, éramos considerados uma turma
muito dispersiva, mas inventiva. Somos essencialmente atores propositores,
criadores.
E vocês trabalham muito a partir da literatura brasileira, se inspirando em
Clarice, Caio, Aluízio… Isso foi uma decisão ou algo que foi acontecendo?
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Walter Albinati
- É mais uma coincidência, foi acontecendo assim, mas
podemos fazer peças a partir de algum texto estrangeiro, caso surja o interesse.
Antes de decidirmos fazer
Aqueles dois
, por exemplo, havíamos cogitado encenar
Otelo
, de Shakespeare.
Cláudio Dias
- Foi o mesmo com a questão biográfica, algo que também foi
acontecendo.
Com uma trajetória de mais de vinte anos, que dica vocês dariam para os
estudantes de Artes Cênicas da Unicamp interessados em trabalhar com teatro
de grupo?
Cláudio Dias
- em Campinas, muitos grupos de teatro fortes. O Lume, o
Barracão Teatro, o Matula Teatro… Uma vez, apresentamos em um festival de
cenas curtas em Campinas e fomos recebidos pelas meninas do Matula. uma
resistência grande lá, principalmente em Barão Geraldo. Então, acho que vocês
têm para quem olhar e bem pertinho de vocês.
Zé Walter Albinati
- Há muitos coletivos que se formam a partir de um trabalho,
uma cena curta, um grupo de estudos… São caminhos variados. O que eu acho
interessante é a não-pressa de virar grupo, virar companhia. É melhor encontrar
os pares primeiro em pequenos projetos. Deixe que a trajetória diga às pessoas
que elas podem vir a ser um grupo de teatro, sem querer antecipar essa etapa. No
nosso caso, por exemplo, o que nos une é uma liga na maneira de realizar o teatro.
E é importante ter também a consciência de que você pode realizar projetos
artísticos fora do seu grupo, porque, às vezes, ele não vai te nutrir completamente.
É saudável ter essa maleabilidade. Não tem receita. Tem que ter sim muita
vontade de dizer algo através do teatro.
Cláudio Dias
- Força na peruca!
Referências
ARAUJO, Antonio.
A encenação no coletivo
: desterritorializações da função do
Urgente
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diretor no processo colaborativo. 2008. Tese (Doutorado em Artes Cênicas) -
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2008.
AREAS COLETIVO.
Projetos
. Areas Coletivo, 2022. Disponível em:
https://www.areascoletivodearte.com/plano-sobre-queda. Acesso em 19 de
janeiro de 2022.
CONSTANTINA.
Home
. Constantina, 2019. Disponível em:
https://constantina.band/. Acesso em 08 de agosto de 2023.
ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural.
Cia. Luna Lunera
. Itaú Cultural, 2023. Disponível em:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo500503/cia-luna-lunera. Acesso em
08 de agosto de 2023.
Recebido em: 19/07/2023
Aprovado em: 10/08/2023
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Teatro
PPGT
Centro de Arte CEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
Urdimento.ceart@udesc.br