Mutações po-éticas das dramaturgias da dança em contextos formativos de Fortaleza/CE
Thereza Cristina Rocha Cardoso | Thiago Mota Torres
Florianópolis, v.3, n.48, p.1-19, set. 2023
artístico-pedagógico do (histórico) Colégio de Dança do Ceará10 (1998-2002), sinal
de já haver nele uma aposta no fazer que a dramaturgia nomeia, o que viria a se
intensificar cada vez mais ao longo dos anos.
O Colégio de Dança do Ceará tornava-se assim uma plataforma de
acesso a informações, práticas, pesquisas e conhecimentos provenientes
de outros contextos. Entre as disciplinas ministradas, pode-se mencionar
as de balé clássico, dança contemporânea, composição coreográfica,
anatomia, cinesiologia, teoria do balé, prática de ensino, danças
tradicionais, história da dança e iniciação musical. Em momentos
distintos, os alunos contavam ainda com aulas de danças regionais,
análise do movimento, iluminação cênica, técnica
Limón,
dramaturgia da
dança, contato-improvisação, dança criativa, capoeira, danças afro-
brasileiras (Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras, 2016).
Através de todos esses componentes curriculares, o percurso no Colégio de
Dança oferecia aos/às discentes a escolha pela atuação em um de seus três eixos
de capacitação: Bailarino/a, Coreógrafo/a ou Professor/a. A presença da
dramaturgia como componente curricular nesse desenho pedagógico apontava
para uma trajetória atenta às demandas contemporâneas do pensamento acerca
do corpo e disposta a trazer a provocação da dança e na dança como mote de
criação nas turmas que ali estudavam.
A discussão sobre a criação do Colégio de Dança fora realizada no decurso
da programação da primeira Bienal Internacional de Dança do Ceará11, em 1997. Em
reunião, artistas emergentes e mais experientes se perguntavam sobre a
pertinência da criação de uma companhia pública de dança, nos moldes de outras
existentes no Brasil12, ou do investimento na formação/qualificação artística e
10 O Colégio de Dança do Ceará, criado em 1998, foi um importante equipamento de formação pública em
dança no Estado, à época localizado no Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza.
Importantes nomes da cena contemporânea cearense da dança, que ainda hoje atuam, passaram pelo
Colégio, dentre alguns nomes podemos citar: Silvia Moura, Cláudia Pires, Fauller, Wilemara Barros, Andrea
Bardawil, Alysson Amâncio e Marina Carleial. O Colégio encerrou suas atividades em 2002, mas abriu
margens para outras iniciativas no que se refere à formação em dança no Ceará como o Curso de Formação
Básica da Escola Pública de Dança da Vila das Artes, o Curso Técnico em Dança (criado em 2005, na época
vinculado ao Sesc-Senac Ceará, e hoje ao Porto Iracema das Artes: Escola de Formação e Criação do Ceará)
e as Graduações em Dança – Bacharelado e Licenciatura – da Universidade Federal do Ceará-UFC (criadas
em 2011).
11 A Bienal Internacional de Dança do Ceará é um dos eventos de dança mais importantes do Brasil. Criada
em 1997 e conduzida até hoje por David Linhares, possui uma programação com apresentações de
companhias, grupos, artistas locais e internacionais de dança, bem como programações de conversas,
oficinas, residências e intercâmbios tanto na capital, Fortaleza, como em cidades do interior do Estado.
Desde 2010, a Bienal de Dança conta com a sua edição De Par em Par, ocorrida nos anos pares, e com a
recente criação da Bienal Criança, hoje em sua segunda edição.
12 Também conhecidas como companhias estáveis ou oficiais são vinculadas à administração pública, seja ela