Contradramaturgia e Corp.oralidades Pretas: outro ponto de vista sobre a noção de dramaturgia
Laudemir Pereira Santos (Lau Santos)
Florianópolis, v.3, n.48, p.1-24, set. 2023
Ferál)13, Performance (Richard Schechner)14,
Performise
(Patrice Pavis)15, que visam
debater uma possível ruptura com a ideia de drama, texto, dentro dos paradigmas
aristotélicos. A ênfase de suas pesquisas se concentra na reconfiguração do
conceito de performance e performance-arte. Não podemos esquecer que os
artistas da performance-arte negam um ponto nevrálgico da
Poética
de Aristóteles
que é a ideia de representação, o que supostamente não os permite pensar em
possíveis releituras do drama ou de “expansão dramatúrgica”. Desta maneira, seria
paradoxal estabelecer uma relação entre dramaturgia e performance-arte.
Acreditamos que a performance-arte, de certa forma, se aproxima das
manifestações africanas e afro-brasileiras comentadas neste texto. Ressaltamos,
ainda, que o objetivo deste artigo, ao discutir a dramaturgia da dança, não é
aprofundar os conceitos da cena contemporânea surgidos no Estados Unidos e/ou
Europa sobre
performance, performise, performativo, pós-dramático
;
apresentados pelos autores supracitados.
Não encontramos em nossas investigações nenhuma abordagem de
acontecimentos cênicos africanos, afro-latinos, afro-brasileiros, enfim, da diáspora
africana nas obras destes autores que fizesse algum arrazoado das práticas
performativas, danças afro-diaspóricas, neste caso, a partir das singularidades de
seus valores sociais, filosóficos, simbólicos, religiosos e políticos. Ou seja, a maioria
dos pesquisadores europeus e norte-americanos continuam debatendo,
conversando entre si e ditando suas visões hegemônicas da cena contemporânea
e para cena contemporânea. Entretanto, por uma questão “natural” de
hierarquização, racismo epistêmico, alguns intelectuais e artistas são incapazes de
nos quais, supostamente, o drama (entendido como texto) perde o protagonismo em função da ascensão
da teatralidade. Entretanto, muitas são as controvérsias sobre as afirmações do que seria um Teatro Pós-
Dramático.
13 O conceito Teatro Performativo cunhado pela pesquisadora franco-canadense Josette Féral surge como
uma crítica à ideia de desaparecimento do drama no teatro contemporâneo. Féral identifica na
reconfiguração do conceito de performance como a grande revolução do Teatro Contemporâneo. Para mais
informações ler o livro: Féral, 2015.
14 O termo performance tem suas origens no francês antigo
: parformance
, de
parformer
(fazer, cumprir,
conseguir, concluir). O gênero performance arte surge no Estados Unidos na metade do século XX. O diretor
americano Richard Schechner é um dos grandes difusores do Estudo da Performance. Para mais
informações ler: Schechner, 2000.
15
Performise
é um termo conceitual utilizado pelo pesquisador francês Patrice Pavis e sua intenção é localizar
o processo de hibridação de linguagens presente, na contemporaneidade, nas artes cênicas:
encenação+performance = performise. Para maiores informações ler: Pavis, 2010.