Engajamento do público e agenciamento espacial na cenografia de
Baile
Cristiano Cezari Rodrigues
Florianópolis, v.3, n.48, p.1-22, set. 2023
de distância entre cena e público, como no trabalho de
Slung Low
. Além disso,
podem também ser considerados nessa tendência trabalhos que utilizam espaços
do dia a dia, como
Uncle Roy All Around You
(2003), do grupo britânico
Blast
Theory
, ou mesmo trabalhos que se apropriam de outros espaços encontrados, e
também de galerias e teatros. As propostas englobadas no immersive theatre
devem buscar uma experiência multissensorial por meio da imersão espacial que
atua na relação com os artistas e performers, sempre tentando acrescentar novos
sentidos ao teatral. Enfim, sob o conceito de
immersive theatre
pode-se alocar
um grande contingente de trabalhos e experimentações. William Worthen (2012, p.
84) observa que a experiência do
immersive theatre
suscita algumas questões
relevantes:
Nesse paradigma, a performance dramática proporciona um personagem
literário, fundido na mistura com o corpo do ator: nós desfrutamos dessa
mistura objetivamente, não “imersos”, ignorando as convenções
estruturantes do teatro. Inscrevendo o personagem literário no espaço
performático e invocando e resistindo às convenções voyeuristas da
quarta parede da performance moderna,
Sleep No More
tanto registra o
poder penetrante de concepções duradouras e amplamente “literárias”
de teatralidade para a realização de uma “nova” performance, quanto –
em sua dinâmica de texto de primeiro plano, personagem, espaço e
público – levanta uma série de perguntas sobre a emancipação aparente
do espectador e sobre o caráter de cognição, oferecidos pela imersão
teatral.6
Uma característica comum aos grupos da vertente do
immersive theatre
é o
uso de espaços inusitados como locação para suas montagens, nos quais
promovem o deslocamento do público pelas cenas. Como em Rodrigues (2007,
2013), os lugares encontrados na cidade têm sido explorados sistematicamente,
sobretudo pelo teatro contemporâneo, porque possibilitam diferentes modos de
ocupação dos espaços e diversas alternativas de apropriação do público. Além
disso, seu sentido habitual é carregado de significados que acrescentam ainda
mais camadas de leitura à cena e estórias no habitar eventual do teatro. O
6 In this paradigm, dramatic performance delivers a literary character, fused in the blend with the material
actor: we seize this blend objectively, not ‘immersively’, ignoring the structuring conventions of the theatre.
Inscribing literary character in performance space and invoking and resisting the voyeuristic conventions of
modern fourth-wall performance, Sleep No More both charts the pervasive power of longstanding, largely
‘literary’ conceptions of theatricality to the making of ‘new’ performance, and – in its dynamic foregrounding
of text, character, space and audience – opens a series of questions about the apparent emancipation of
the spectator, and about the character of cognition, offered by theatrical immersion. (Tradução nossa)