As Escolas de Circo no Brasil e a presença das mulheres na formação circense
Eliana Rosa Correia
Florianópolis, v.1, n.46, p.1-22, abr. 2023
realizadas entrevistas com os professores da ENC e Delisier Rethy relatou:
Meu mestre foi meu pai, que me ensinou todas as modalidades de circo,
tudo! Minha família era circense, eles profissionais circenses também e
eu nasci e me criei em circo. Eu fui trapezista, trabalhei em número de
equilíbrio, fiz corda indiana, fiz vários aparelhos, sempre na altura. E hoje
eu passo para os alunos o que eu aprendi, o que eu sempre trabalhei,
com alturas, aéreas. Então pra mim é gratificante, maravilhoso! Eu me
sinto realizada! Fazer parte da Escola, pra mim é tudo. Pra mim é estar
sempre presente na minha carreira, embora eu não exerça mais no
picadeiro, mas eu me sinto realizada vendo os alunos fazerem aquilo que
eu fiz um dia, então, pra mim, é maravilhoso! Os alunos me ensinam
muito, eu aprendo muito com eles. O tecido, quem me ensinou tecido
foram os próprios alunos, porque eu mandava eles fazerem um truque e
daí eu via que poderia sair outra coisa. Daí eu peço para eles fazerem
aquilo que eu acho que dá certo, e dá! Então eu vou aprendendo também
com eles. Eu acho que embora a Escola tenha 25 anos, até hoje ela
sobreviveu e faltou muita coisa pra ela ser o que ela tinha que ser. Eu
acho que Escola é o futuro do circo, porque eles estão fazendo novos
artistas, uma nova geração circense, e é a que não vai deixar o circo
morrer aqui no Brasil. São esses artistas que estão aprendendo aqui na
escola, que vão ser a nova geração do circo. Eu fui convidada para
trabalhar na escola pelo Orlando Miranda, fundador da ENC e ex-diretor
do Serviço Nacional de Teatro. Fui a primeira professora a assinar a
carteira como funcionária da Escola Nacional de Circo, em 1982. No
começo foi quase como uma experimentação, não se sabia se daria certo
ou não e deu certo, deu muito certo a Escola (Funarte, 2018,
online
).
Em entrevista para as pesquisadoras Gl
ucia Andreza Kronbauer e Maria
Isabel de Moura Nascimento (2017), Delisier Rethy relatou que o programa inicial
para a primeira turma profissionalizante da ENC estava organizado por três
diferentes grupos de conteúdos. O primeiro tratava das matérias básicas do artista
circense, como arame, acrobacia, ícarios, equilibrismo, equitação, malabarismo,
adestramento de animais, trapézio, barras, argola e palhaço. O segundo tratava de
matérias teóricas, como História da Arte e História das Artes Circenses, enquanto
o terceiro abordava os conhecimentos de técnicas em espetáculo, administração
e secretaria circense, contrarregra, tratamento de animais, primeiros socorros etc.
“No começo eram aulas somente sobre o circo. Explicava como se armava um
aparelho, essas coisas todas, porque a gente falava pros alunos: você não pode
chegar em um circo e não saber armar o seu aparelho” (Rethy apud Kronbauer;
Nascimento, 2017).
A pesquisadora Maria Clara Lemos foi aluna de Delisier Rethy na Escola