Processos de pesquisa e aprendizagem na palhaçaria de rua
Rafael Santos de Barros | Eduardo Tessari Coutinho
Florianópolis, v.2, n.47, p.1-19, jul. 2023
Para aprofundarmos um pouco mais a questão, podemos pensar em
manifestações que alteram a rua para estarem ali. Desconfiguram o espaço
público, isolando com tapumes e restringindo a entrada somente a pessoas
autorizadas. Essas apresentações estão NA rua, mas não são DE rua.
Ocasiões que o espectador de rua é cerceado de sua liberdade de
mobilização e manifestação, como se dá em alguns eventos musicais ou
de blocos carnavalescos. Quem já não presenciou, em shows de música
na rua, o palco, o camarim improvisado e todo o território em redor do
cantor estar cercado de seguranças e estes barrarem qualquer tipo de
reação da plateia? Ou ainda, já não viram blocos carnavalescos que
atravessavam ruas protegidos por cordas, as quais sinalizavam limites
espaciais para diferentes tipos de público? Esta concepção de realização
cultural “popular”, que evita, ou melhor, que se prepara estrategicamente
para não deixar ocorrer imprevistos pode ser questionada, uma vez que
o local, costumeiramente livre, torna-se, por algum tempo, privado e
restrito (Dutra, 2016, p.128).
Uma quantidade de improvisação faz parte de qualquer cena, mas na rua
estamos atentos aos acontecimentos do local, o espaço cênico que nos é
ofertado, as pessoas do público, para incluir o que vem delas e também utilizar,
tanto do espaço quanto das pessoas, aquilo que contribui para a dramaturgia
proposta, mesmo não alterando o propósito da cena. O Palhaço de Rua se coloca
no mesmo plano, isto é, não tem um palco que o coloca acima da plateia, podendo
assim desenvolver parcerias com seu público, estando no mesmo “chão”, um
simples passo à frente é o que faz a plateia estar no espaço cênico, delimitado
por uma corda no chão, ou por uma simples, porém elaborada, convenção social.
Assim sendo, o Palhaço de Rua pode jogar com características que percebe ter
em comum com seu público.
Os atores devem entender que as suas ações acontecem no tempo
presente urgente, pois, não há nenhuma garantia que as ações iniciadas
por eles serão terminadas como foram premeditadas. E, isso se deve,
como já foi dito, à grande possibilidade das encenações do teatro de rua
sofrerem intervenções de diversas ordens. Nessa modalidade teatral, os
atores são habitualmente submetidos ao jogo proposto pelo acaso,
precisando assim, treinar suas habilidades corporais, seu potencial
criativo e sua capacidade de articulação entre risos e riscos (Conceição,
2016, p. 116).
Como na citação do Paulo Freire da página anterior, quando estamos em cena