Projeto Geringonça e suas coisas: intermedialidades na dramaturgia do circo
Julia Henning
Florianópolis, v.2, n.47, p.1-25, jul. 2023
metodologia abrangente e sistemática para esse processo criativo. Segundo ele:
Direcionamos a pesquisa nesse curto mas intenso período para
aprofundar as relações possíveis entre os corpos dos artistas
investigadores e dos objetos, isolando e pesquisando suas características
físicas tais como o peso, a velocidade, o trajeto do deslocamento
(circular, sinuoso, retilíneo, fragmentado, etc.), o tempo de duração da
ação do objeto, como ele respondia à gravidade em queda, e como se
movia, em liberdade, após o estímulo inicial do contato humano. Depois,
deslocamos essas propriedades para os corpos dos artistas, para
observar e identificar as possibilidades de exploração de movimento e
quais possibilidades expressivas poderiam surgir desse deslocamento
(Carvalho, 2018).
Essa contribuição de Édi Oliveira de Carvalho trouxe, para o campo da
reflexão metodológica do projeto, diferentes maneiras de colocar em evidência as
intermedialidades entre corpo e objeto, muito provocadas pelo diálogo com
procedimentos investigativos da dança contemporânea, assim descritos por ele:
A dança também tinha, na dramaturgia dos ensaios, a função de isolar os
corpos ou de uni-los (corpos dos artistas e corpos dos objetos), de definir
os momentos dos focos de atenção, ou os espaços de ação. Muitas vezes,
nos ensaios abertos, o foco migrava dos corpos inanimados dos objetos,
para os corpos dos objetos em ação, ou em dança, ou em composição
espacial em movimento, outras vezes o foco deslocava-se dos objetos
inertes para os corpos objetificados dos artistas em dança, como quando
os quatro artistas executavam uma movimentação em que seus corpos
se encaixavam e se impulsionavam, como se formassem uma grande
engrenagem, ou uma grande
Goldberg Machine
feita de corpos humanos.
A dança, por vezes, tinha a função, nos ensaios, de alinhavar as relações
entre artistas e objetos e entre artistas e artistas, e, por mais que a
pesquisa tenha aproximado essas realidades físicas tão distintas, a dança
as distinguia, visto que objetos e artistas, por serem fisicalidades tão
diferentes entre si, dançavam, cada qual, como suas existências
permitiam (Carvalho, 2018).
A já presente relação do coletivo Instrumento de Ver com procedimentos
criativos diversos, como a dança, a escrita de textos, a criação audiovisual e em
outras mídias é radicalizada no processo criativo Geringonça, provocando
inúmeras intermedialidades. Nesta pesquisa, retomo os ensaios abertos,
Uma máquina de
Rube Goldberg
é uma máquina que executa uma tarefa simples de uma maneira
extremamente complicada, geralmente utilizando uma reação em cadeia, em efeito dominó. Essa expressão
foi criada em referência aos mecanismos desenhados entre 1907 e 1915 pelo cartunista americano,
engenheiro e jornalista Rube Goldberg, autor de charges que ilustravam diversos dispositivos com essa base
de funcionamento.