O Pe®dido
Maria Emília Tortorella | Fernando Vasques
Florianópolis, v.1, n.46, p.1-37, abr. 2023
pra trás que eu prefiro perdê a vida do que morrê nesse momento...
Januário
- Fica aqui, ô cagão! Não é a morte não! É a Nossa Senhora das Dores de
Cima da Serra. (
entram na capela
) Ô minha Nossa Senhora, ocê que zela e protege
por esta terra e também pelos fio dela, vê se pode intercedê por mim. Eu só queria
pedir a mão da moça que eu amo e acabei confundido as cabeça e os coração de
todo mundo. Me ajuda, minha santinha.
Izilda
- Oi, Januário! Eu sou a Izilda.
Januário
- (
à parte, surpreso
) A mãe da Sá Marica? (
gaguejando
) Do... do... dona
Izilda, é ocê a Santa?
Izilda
- (
rompendo a atmosfera celestial
): Deixe de ser besta, Januário. Cê acha
que a padroeira, ocupada do jeito que é, e bem no dia dela, ia poder aparecer
assim, por qualquer trapalhada desses fio desajuizados?
Januário
- Ô, dona Izilda, não caçoa da minha desgraça, não.
Izilda
- Não tô caçoando, menino. Tô te educando.
Januário
- Mai qué dizê que a senhora tá sabendo de tudo?
Izilda
- Eu acompanho tudo que acontece com minha menina, Januário.
Januário
- (
chorando
) Eu não tive culpa, Dona Izilda. Meu amor pela Sá Marica é
verdadêro...
Izilda
- (
cortando
) Não carece ficar se explicando, meu fio. Do seu amor eu não
duvido. Você e o Zé Tobó fizeram bastante trapalhada, mai a gente sabe que ceis
tem bom coração.
Januário
- Mai de qui adianta? Por causa da mardita porção, é capaz da Sá Marica
não querer ouvir nem mais um tum desse meu pobre coração.
Izilda
- Fica calmo, Januário. Eu posso te ajudar.
Januário
- A senhora me desculpe, Dona Izilda, mai eu sempre ouvir falar que
santo de casa não faz milagres.
Izilda
- Pobre daqueles que não acreditam em seus próprios santos.
Januário
- Não é farta de fé não, é só a força dos ditos populares,.
Izilda
- Não carece ficar se explicando, meu filho. O que ocê precisa fazer agora é
escutar seu coração… Lembra? Não tem nada mai potente que uma canção bem
cantada no pé do ouvido…
Zé Tobó
- Peraí… (
espantado
) eu disse isso...
Izilda
- Mai infalível que um par de verso bem dito na hora certa...
Zé Tobó
- Eu falei...
Izilda
- Mai poderoso que um zóio no zóio faiscante...
Zé Tobó
- Eita! Viu só, Januário! Entendeu?
Januário
- Mai foi o cê que falou da porção.
Izilda
- Mai vale um trago da verdade que cem dose desses encanto…
Januário
- É memo… isso a Dona Ermelinda me disse.
Izilda
- Dona Ermelinda, grande mulher. Tenho muito respeito por ela. Manda um
recado pra ela e pro Tonico, diz que todo rio deságua no mar...
Januário
- Mando sim, Dona Izilda, deixa comigo...
Izilda
- Bão! Eu não posso ficar aqui a eternidade toda. (
a imagem dela vai sumindo
)
Lembre-se, Januário! Você precisa confiar na verdade do seu coração.
Januário
- Zé! Mai como nói vamo embora daqui?
Zé Tobó
- Ah, Januário!
Januário e Zé Tobó
- Vamos muntá nessa porca e viajá de vorta.