As particularidades do circo de rua: uma experiência
Lua Barreto
Florianópolis, v.1, n.46, p.1-23, abr. 2023
público passante é sempre um desafio. Na rua, os códigos de comportamento e
as convenções sociais que predominam nos espaços fechados (não conversar, não
usar o celular etc.) não são tão rígidos (Carreira, 2007). Na rua, as pessoas
conversam, chegam e saem quando querem. Esse público precisa ser conquistado.
Chacovachi (2018) compara essa relação com o jogo de xadrez, que se situa entre
a ludicidade e a guerra. Em uma apresentação na rua, é preciso provocar a
identificação com o público a todo momento, pois a rua é dispersa, e o público
retira-se sem nenhuma cerimônia, caso perca o interesse. O público que não está
envolvido com o espetáculo, “como a primeira brisa que passa, voa” (Chacovachi,
2018, p. 66). O artista que atua em praças precisa mantê-lo ali até o fim, sob a
pena de perder a colaboração dada no chapéu. Já nos sinais de trânsito, essa
identificação precisa ser imediata, pois o artista tem apenas alguns segundos para
conquistar sua plateia.
Outro tópico que mostrou ser de importância na experiência citada foi a
capacidade de improvisação. Apresentar-se na rua exige um preparo técnico e
psicológico para lidar com a imprevisibilidade e mutabilidade características do
espaço público. Um artista de rua nunca sabe de antemão quem será seu público:
se será composto por mais crianças, ou mais adultos, se haverá um bêbado na
plateia... (Chacovachi, 2018). Ele precisa ter estratégias para tudo. Para Chacovachi,
a improvisação que serve ao artista de rua é aquela que ele pode repetir, ou seja,
o que ele chama de improvisação são as pequenas
gags
ou piadas das quais o
artista pode dispor em situações as mais diversas. Mas a rua sempre reserva
surpresas, mesmo aos mais preparados.
A estrutura dramatúrgica da apresentação de rua também tem suas
características próprias.
Em geral, as apresentações de rua possuem uma
convocatória, um desenvolvimento, um desfecho e a passagem do chapéu. A
convocatória é o momento em que o artista vai convocar seu público, vai chamar
a atenção da sua plateia para si. Quanto mais interessante o artista consegue
Para Chacovachi (2018), essa estrutura se divide em sete momentos: pré-convocatória, convocatória, farsa
de começo, número de início, número participativo, passagem do chapéu, despedida e final. No entanto, ele
próprio afirma que essa estrutura se refere a um tipo específico de espetáculo de rua, dentre tantos. Nesse
trabalho, foi feita uma opção por uma estrutura mais simples e genérica, com uma estrutura comum e uma
maior diversidade de espetáculos, ainda que não seja a única utilizada. As apresentações de rua são tão
variadas quanto são os espaços, públicos e artistas.