Da cena ao ensino: conversando com as formadoras e os formadores da palhaçada
Felipe Braccialli | Marco Antonio Coelho Bortoleto
Florianópolis, v.2, n.47, p.1-26, jul. 2023
Aprendo muito, sou o que mais aprendo. Eu sou o que mais aprendo
nesses processos todos. Eu que agradeço a galera. A galera paga para eu
aprender. É maravilhoso. Porque é sempre uma troca. Não tem como
você achar que você já sabe, claro, você tem conhecimento, mas a
descoberta é contínua. O tempo todo você está ali no seu processo. Eu
aprendo de mais (José Regino).
Ou seja, o trabalho de ensinar a arte da palhaçada também faz parte do
aprender, do desenvolver, do evoluir dentro desse universo cômico. A pessoa que
ensina também desenvolve uma nova visão sobre a arte, um novo olhar sobre a
palhaçada, uma nova maneira de entender a relação entre palhaços e palhaças. O
ensinar também é um caminho para “desformar”, pois o mestre não pode impor
seu entendimento sobre a palhaçada, mas apenas abrir caminhos para que novos
entendimentos surjam.
O orientador, aquele que atua como Monsieur Loyal, precisa estar no
mesmo estado de abertura que o aprendiz, com um olhar generoso que
o permita ver o outro. O Monsieur Loyal ensina o aspirante a palhaço a
aprender consigo mesmo (Puccetti, 2017, p. 30).
Trabalhar como palhaço ou palhaça é assumir uma pesquisa contínua e
interminável sobre si mesmo, como também sobre o corpo, a técnica, a
comicidade, a sociedade, as relações humanas, entre tantos outros tópicos de
estudo. A palhaça ou o palhaço têm seu ponto de partida, mas nunca de chegada,
pois vivem no presente, aproveitando o caminho e não sonhando com o destino.
Quando chegam em um ponto, pausam, respiram, admiram, absorvem, pegam sua
mala e começam uma nova caminhada.
Parece-nos que tornar-se formador ou formadora representa uma viagem,
dentre tantas possíveis. Uma viagem que precisa ser experienciada com mais
cuidado, mais atenção, que prescinde de um processo formal, de um modo
concreto de ensinar a ensinar, ou mesmo de uma forma de entender a palhaçada.
Formando, desformar, transformar
Muito se tem falado, na literatura acerca do tema, sobre a formação de
palhaços e palhaças (Icle, 2010; Braccialli & Bortoleto, 2020). Alguns tratam sobre
a dramaturgia da palhaçada (Remy, 2016; Reis, 2013). Há os que se dedicam mais
ao olhar da filosofia (Achcar, 2016; Castro, 2019) e outros que se concentram na