O realismo sedutor como metáfora para uma re-educação do corpo-arte
Cláudia Madruga Cunha | Thais Adriane Vieira de Matos
Florianópolis, v.3, n.45, p.1-15, dez. 2022
aliados. Dentre os autores com os quais Ribeiro dialoga, destacamos: Antonin
Artaud, que é sem dúvidas o parceiro mais citado e revisitado em toda a obra
para ressignificar a relação corpo-teatro e o corpo como campo de intensidades;
seguido por Suely Rolnik, que frequenta a narrativa atualizando o corpo sem
órgãos artaudiano em um corpo vibrátil antropofágico; Jean Baudrillard, que
contribui com a relação liminar que estabelece entre arte, criação e sedução;
Gilles Deleuze, em seus escritos solo e com conceitos criados junto a Félix
Guattari, contribui com as noções de corpo intuitivo e desejante, micropolítica e
máquina de guerra; Jacques Ranciére também é convocado para tratar dos
regimes estéticos e do observador emancipado, que fratura as imagens como
telas em expansão; Michel Foucault, citado por via da biopolítica, conceito que
demonstra como o Estado e as relações de poder estão internalizadas no nosso
subconsciente; além de José Gil, entre outros autores menos citados. Entre os
pensadores apenas pontualmente citados, Ribeiro traz o filósofo Friedrich
Nietzsche, para tratar da intuição, e a socióloga Silva Cusicanqui, para tratar da
linguagem que permeia as imagens com as quais culturalmente nos
familiarizamos. Esses/as entre outras/os autoras/es menos citadas/os, compõem
o bando epistêmico que se expande e se intensifica formando camaradagem
com autoras/es, tais como: o já citado Antonin Artaud, Marco de Marinis, Peter
Brook, Jean-Luc Nancy, Joseph Danan e Josette Féral, que demarcam o campo
do teatro com reflexões e experimentações que o desdobram.
Renato Ferracini, convidado a prefaciar a obra, diz que a escrita de Ribeiro
flerta, tanto na sua expressão poética como no uso e apropriação de conceitos,
com a antropofagia e com a ética da alegria espinosista, ao mesmo tempo em
que trama modos de pensar e agir que, ao tratar da arte, favorecem uma
sobreposição de territórios que se desdobram em mestiçagem, hibridismos e
paradoxos que se dão entre o real, a ficção e o vivível. “Não é mais o mundo do
astral, é aquele da criação direta que é assim retomado, mais além da
consciência e do cérebro” (Artaud, 2004, p.269), desse modo, no território do
teatro, corpo e vida formam uma trama que, em seus movimentos, acompanha
as problematizações tanto das quatro últimas cenas que o livro oferece, como
nas nove partes que estendem, tencionam e contraem o realismo sedutor,