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Educação, corpo e memória:
Balé Teatro Guaíra, 52 anos
Jean Carlos Gonçalves
Para citar esta Resenha:
GONÇALVES, Jean Carlos. Educação, corpo e memória:
Balé Teatro Guaíra, 52 anos.
Urdimento
Revista de
Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v. 1, n. 46, p.1-10,
abr. 2023.
DOI: http:/dx.doi.org/10.5965/1414573101462023e0801
A Urdimento esta licenciada com: Licença de Atribuição Creative Commons (CC BY 4.0)
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Jean Carlos Gonçalves
Florianópolis, v.1, n.46, p.1-9, abr. 2023
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Resenha da obra
WOSNIAK, Cristiane. B
alé Teatro Guaíra: 52 anos de uma história da dança
paranaense
/ Cristiane Wosniak; Coordenação Simone Bönish, Jorge Schneider.
Curitiba: Associação Brasileira de Apoiadores Beneméritos do Teatro Guaíra, 2021.
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Educação, corpo e memória: Balé Teatro Guaíra, 52 anos
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Jean Carlos Gonçalves
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Resumo
Resenha do livro Balé Teatro Guaíra: 52 anos de uma história da dança
paranaense, escrito por Cristiane Wosniak. a obra é um registro histórico que
contém, entre imagens impressionantemente vivas e nítidas, depoimentos,
trajetórias, curiosidades e perspectivas relacionadas ao principal pilar da
cultura em dança do Paraná. Transitando entre passado, presente e futuro, a
autora nos apresenta ao longo de quase quatrocentas páginas, um trabalho
minucioso que costura educação, corpo e memória; uma trama envolvente
que certamente despertará no leitor sua verve dançante.
Palavras-chave
: Educação. Corpo. Memória.
Education, body and memory: Balé Teatro Guaíra, 52 years old
Abstract
Review of the book Balé Teatro Guaíra: 52 years of a history of dance in
Paraná, written by Cristiane Wosniak. the work is a historical record that
contains, among impressively vivid and clear images, testimonies, trajectories,
curiosities and perspectives related to the main pillar of dance culture in
Paraná. Transiting between past, present and future, the author presents us
with almost four hundred pages, a detailed work that stitches education, body
and memory; an engaging plot that will surely awaken in the reader his
dancing verve.
Keywords:
Educación. Body. Memory.
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Trabalho realizado com o apoio do CNPq Bolsa de Produtividade em Pesquisa
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Pós-doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP/CNPq). Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre em
Educação pela Universidade Regional de Blumenau (FURB/CAPES). Licenciatura e Bacharelado em Teatro
pela FURB. Professor da área de Linguagem, corpo e educação na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UFPR Linha LiCorEs).
Professor permanente no Programa de Pós-Graduação em Letras - Estudos da Linguagem da Universidade
Federal do Rio Grande (PPGL/FURG). Pesquisador com bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq.
jeancarllosgoncalves@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/8274122800491884 https://orcid.org/0000-0003-2826-3366
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Educación, cuerpo y memoria: Balé Teatro Guaíra, 52 años
Resumen
Reseña del libro Balé Teatro Guaíra: 52 años de historia de la danza
paranaense, escrito por Cristiane Wosniak. La obra es un registro histórico
que contiene, entre imágenes impresionantemente vívidas y claras,
testimonios, trayectorias, curiosidades y perspectivas relacionadas con el
principal pilar de la cultura de la danza paranaense. Transitando entre pasado,
presente y futuro, el autor nos presenta a lo largo de casi cuatrocientas
páginas, un minucioso trabajo que cose educación, cuerpo y memoria; una
trama atractiva que sin duda despertará su brío danzante en el lector.
Palabras-clave
: Educación. Cuerpo. Memoria.
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Para Ivana Vitória Deeke Fuhrmann,
minha primeira e única professora de dança.
Ela me disse, um dia, que eu podia e devia dançar.
Eu acreditei, danço com letras e palavras.
Danço, também, com meus filhos. Obrigado, prof!
Comecemos pela imagem. Olho pela janela do nono andar do prédio em que
moro e avisto o Teatro Guaíra. Entre as pessoas que freneticamente circulam na
tarde do centro de Curitiba, várias delas assistirão a próxima sessão de Lendas
Brasileiras, o espetáculo de dança do Guaíra assim que falamos por aqui) em
cartaz nessa época festiva, próxima ao dia das crianças. Tanto a imagem de
divulgação que circula nas redes e está afixada no edifício teatral, próxima à
bilheteria, quanto a visualidade movente que se forma com a multidão e os
carrinhos de pipoca, funcionam como certificado da potência de um evento
cultural que não é novidade na cultura paranaense, pelo contrário, faz parte de
sua própria vivência artística enquanto povo, enquanto partícipe de toda a poética
proporcionada, há 52 anos, pelo Balé Teatro Guaíra.
É impossível não referendar a forma física pela qual o livro Balé Teatro Guaíra:
52 anos de uma história da dança paranaense chega ao público – envolto em uma
caixa de papel duro e sofisticado, sobre a qual, ao deslizar os dedos, conseguimos
sentir as linhas brilhantes e em alto relevo, espalhadas sobre um corpo estático,
em posição de dança. Logo, ao tocar na fisicalidade da obra (nas duas capas,
que o efeito se repete também na capa do próprio livro), sou convidado sutilmente
ao movimento. Retirar o livro da caixa, sentir e ler, do mesmo modo, seu título
cujas letras se destacam da superfície plana do papel, é um primeiro exercício de
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contato entre conteúdo, material e forma
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, o que se transmuta em experiência:
educação, corpo e memória começam a mobilizar um intrigante desejo de leitura.
É assim, unindo imagens, depoimentos, trajetórias, curiosidades e
perspectivas que Cristiane Wosniak apresenta ao leitor, por meio de um projeto
editorial coordenado por Simone Bönish e Jorge Schneider, uma história de luta,
desassossego e movimento; muito movimento. A autora, incontestável
especialista no tema, é doutora e mestre em Comunicação e Linguagens (UTP),
bacharela e licenciada em Dança (PUC-FTG). É docente adjunta da UNESPAR, onde
atua no Programa de Pós-Graduação em Cinema e Artes do Vídeo (PPG/CINEAV) e
é, também, docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação
da UFPR - Linha de pesquisa: Linguagem, Corpo e Estética na Educação
(LiCorEs/PPGE).
A abertura da obra é feita em um bloco composto por três curtas seções:
Apresentação, Depoimentos e Introdução, nas quais o leitor é conduzido, como se
adentrasse o palco, à informações e curiosidades escritas por importantes nomes
ligados à cultura e à gestão pública do Estado do Paraná. Esta abertura funciona
como guia para o encorpado e imponente trabalho que se desenvolve na
sequência.
Em A dança teatral no Brasil: rastros históricos, a luz recai sobre um recorte
que vai desde a Belle Époque e a Semana de 22 até o surgimento da Escola de
Danças Clássicas do Teatro Guaíra, que viria a ser precursora do Corpo de Baile.
Entre os planos expressivos verbais, visuais e verbo-visuais
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, destaca-se a
seriedade no tratamento dos dados históricos, testificados pela significativa
quantidade de notas explicativas, de referência e biográficas, característica que
compõe não somente este primeiro capítulo, mas toda a obra.
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Aqui faço referência ao texto O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária, escrito
em 1924 por Mikhail Bakhtin (2014), que deixo como sugestão aos leitores interessados no tema.
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Aqui faço referência aos estudos sobre as dimensões verbal, visual e verbo-visual como modos de
concepção, compreensão e análise de materialidades enunciativo-discursivas na perspectiva da Análise
Dialógica do Discurso. Aos leitores que queiram buscar maior aprofundamento nestas questões, sugiro a
leitura do artigo Olhar e Ler: verbo-visualidades em perspectiva dialógica, de Beth Brait (2013).
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Textos escritos e imagéticos compõem a seção dedicada a apresentar o que
foi o O Corpo de Baile do Teatro Guaíra: de 1969 a 1978 (Capítulo 2) e como seu
surgimento esteve vinculado diretamente a uma política de Estado para a
valorização do potencial artístico paranaense e, obviamente, curitibano. O
movimento de escrita que a autora faz entre a dança do Guaíra e a cidade é, de
algum modo, muito provocador do ponto de vista do diálogo entre arte, espaço e
povo.
A era Trincheiras: de 1979 a 1993 (Capítulo 3) faz uma espécie de homenagem
ao período em que Carlos Trincheiras, maître e coreógrafo português, assumiu o
comando da jovem companhia de dança que viria a se tornar, a partir de sua
sugestão, o Ballet Guaíra. Um dos destaques desta seção é o registro da
implantação de um Curso de Formação Acelerada para Rapazes, a partir do qual
o diretor pretendia ampliar, em número, seu corpo de baile para os grandes
bailados de repertório que pretendia realizar. O capítulo termina destacando a
identidade característica impressa ao Ballet Guaíra durante os 14 anos da gestão
Trincheiras ao mesmo tempo em que evoca a pergunta sobre o destino da
companhia após a sua morte. Como herança da era Trincheiras o Guaíra ganhou
escolas de pesquisa e composição em dança. Seu surgimento e funcionamento,
bem como a importância desses espaços de formação são descritos no capítulo
4 O legado dos Ateliês Coreográficos, que se configura como um guia histórico,
especialmente para pesquisadores interessados em processos e práticas
educativas.
Os capítulos 5 e 6, respectivamente Transição e sobrevivência: de 1994 a 1998
e Sobre ciclos e renovações: de 1999 a 2003, são dedicados a questões vinculadas
à identidade, diferença, localidade e geografia dos corpos integrantes do BTG
Balé Teatro Guaíra. Entre a valorização de um sotaque brasileiro e a retomada das
turnês nacionais que constituem as explosões estéticas da virada do milênio, o
BTG investe na recusa de cristalizações homogêneas e repensa suas margens e
fronteiras, movimento que corrobora para que as margens e descentralizações
comecem a ganhar os holofotes nas produções realizadas pela companhia.
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Em Novas configurações a partir de 2003 (Capítulo 7), a autora nos apresenta
os quase 20 anos mais recentes do BTG, mesclando remontagens, resgates,
homenagens e reconstruções de repertório, pontuando como elemento estético a
travessia da macronoção de um corpo institucional para um corpo sujeito, o que
implica discutir tradição e contemporaneidade no campo da dança. Tais aspectos
nos fazem refletir sobre a forma como o BTG se conectou, ao longo de sua
trajetória, com teorias e metodologias latentes na pesquisa em ciências humanas,
incluídas as esferas de produção e circulação do conhecimento em arte e
educação.
No capítulo 8 Repertório do Balé Teatro Guaíra encontramos um rico
mapeamento, em forma de tabela, que contém as obras coreográficas produzidas
e apresentadas pelo BTG. Elas estão elencadas ano a ano, desde a sua criação até
2021, e subdivididas em Obras, Coreógrafos(s), Música(s) e Observações.
A grande pergunta que a autora nos faz em Considerações nada finais gira
em torno da ideia de corpo e de dança para o BTG em 2021, ano de publicação da
obra. Tal inquietação nos parece incrivelmente provocativa que o próprio livro,
em momento algum, fixa aqui ou acolá a identidade do grupo ao qual destina os
textos escritos e imagéticos que o compõem.
Essa insistência da autora em uma estética móvel e instável funciona como
pilar de sustentação para que as relações entre educação, corpo e memória se
estabeleçam na obra em questão. Por educação, compreende-se a capacidade e
o papel formativo de cunho estético do BTG, sempre sintonizado com seu povo e
sua história. Pela história torna-se possível a construção de uma memória que
transita entre políticas, afetos e vidas dançantes. E nos entremeios desta
triangulação, preenchendo palcos e páginas, está o corpo, o grande protagonista
nesses 52 anos do Balé Teatro Guaíra.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. O problema do Conteúdo, do Material e da Forma na Criação
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Literária. [1924] In: BAKHTIN, Mikhail. Questões de Literatura e de Estética: A Teoria
do Romance. Tradução de Aurora Fornoni Bernardini... [et al]. ed. São Paulo:
Hucitec, 2014.
BRAIT, B. Olhar e ler: verbo-visualidade em perspectiva dialógica. Bakhtiniana.
Revista de Estudos do Discurso, [S. l.], v. 8, n. 2, p. Port. 43–66 / Eng. 42, 2013.
Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/16568.
Acesso em: 29 out. 2022.
Recebido em: 10/11/2022
Aprovado em: 23/03/2023
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