Sensorialidade no espaço cênico:
Vestido de Noiva
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Roda Viva
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Trate-me Leão
Delano Delfino; Cêça Guimaraens; Weber Schimiti
Florianópolis, v.3, n.45, p.1-26, dez. 2022
não é uma soma de pressupostos visuais, táteis e auditivos: eu percebo
de maneira total com todo o meu ser: eu abarco uma estrutura única da
coisa, um modo único de ser, o qual fala com todos meus sentidos ao
mesmo tempo (Merleau-Ponty, apud Pallasmaa, 2011, p.20).
Em paralelo, observamos que podemos atestar algo que pressentimos, pois
nosso corpo tem memória visual.
Tido como o principal e mais importante de todos os nossos sentidos, o mais
privilegiado é o da visão. Em sendo assim, por meio da visão podemos acessar os
outros sentidos.
...a predileção da visão não implica necessariamente a rejeição dos
demais sentidos, como a sensibilidade do tato, a materialidade e o peso
peremptório da arquitetura grega comprovam; os olhos convidam e
estimulam as sensações musculares e táteis. O sentido da visão pode
incorporar e até mesmo reforçar outras modalidades sensoriais; o
ingrediente tátil inconsciente que existe na visão é particularmente
importante e muito presente na arquitetura histórica, mas extremamente
negligenciado na arquitetura de nossa época (Pallasmaa, 2011, p. 25).
Ao colocar em perspectiva as nossas experiências, podemos perceber que,
para ativar nossos sentidos, não precisamos estar em um ambiente dito “imersivo”,
pois, utilizando a visão, podemos ter uma experiência profundamente sensorial.
Ao vermos uma bancada de mármore não precisamos tocá-la para sentir a rigidez
e a temperatura da pedra. Igualmente, uma cortina de veludo não precisa ser
tocada para sentirmos a maciez do tecido. Enfim, podemos estar sentados na
plateia da sala de teatro e ter uma experiência imersiva acessando todos os outros
sentidos (Palasmaa, 2011).
Quando analisamos a morfologia da arquitetura teatral predominante na
época em que foi criada a quebra da “quarta parede”, os teatros continham o
formato do palco italiano, ao qual o conceito se encaixava perfeitamente. Ao longo
do tempo, a maneira de atuar evoluiu, e novas configurações de espaços teatrais
foram criadas, tornando os atores mais próximos do público (Heliodora, 2013).
Para entender a “quarta parede”, devemos visualizar o palco como uma caixa,
cuja primeira parede seria o fundo do palco, a segunda e a terceira seriam as
vedações laterais dos espaços onde se localizam as coxias. A quarta parede seria
o limite do palco, linha ao mesmo tempo concreta e imaginária que determina