A ocupação do Armazém da Utopia na área portuária do Rio de Janeiro
Entrevista concedida a Evelyn Furquim Werneck Lima
Florianópolis, v.3, n.45, p.1-12, dez. 2022
Ou seja, ainda é um trabalho em construção.
De que forma o trabalho desenvolvido pela Companhia Ensaio Aberto promove a
inclusão social da população local?
Como nossa produção promove a inclusão da população local? Esta é uma
parte importante do nosso trabalho. Uma parte de nossa companhia que
atualmente conta com cinco pessoas trabalhando permanentemente nela,
chama-se “Ciência do Novo Público”. O nome pode parecer pernóstico, mas não
é, pois vem de escritos das chamadas vanguardas históricas, que falavam da
necessidade de um novo público e de um novo teatro que precisávamos buscar.
Em parte, essa busca vem a partir dos menos favorecidos pelo sistema burguês
de espetáculos.
A gente tem isso muito desenvolvido. Temos espectadores fiéis desde o
nosso primeiro espetáculo. Hoje, alcançamos todas as áreas do município e todas
as regiões, mas não todos os municípios do Estado do Rio de Janeiro. Portanto,
nosso sistema de inclusão e democratização não funciona apenas para os
espectadores locais. Trabalhamos muito próximos às comunidades, a da Maré, a
da Mangueira, a do Alemão, trazendo todas as formas de organizações populares,
sindicatos, associações de moradores, estudantes, faculdades, mulheres e
crianças em conflito com a lei, mulheres vítimas de violência. Temos um forte
trabalho com as minorias, que a gente sabe que são maiorias. Eles constituem a
base do nosso público, extremamente popular e em contato direto com
especialistas, ou seja, historiadores, professores universitários como você, Evelyn,
que nos acompanham e oferecem reflexões sobre nosso tipo de trabalho. Nesse
sentido, nossos espetáculos se tornam um encontro muito interessante e
heterogêneo composto por um público com a cara do Brasil e uma postura de
várias classes e segmentos sociais diferentes.
Portanto, quem frequenta nosso teatro, nosso galpão, não apenas assiste a
um espetáculo, mas também vivencia um momento politico de inclusão,
democratização, acesso e conscientização. Esta é uma parte básica e integrante
do nosso trabalho.