Caixa de ilusões
: o corpo-político no espetáculo da Ânima companhia de Dança
Thais Coelho da Silva; Mônica Fagundes Dantas
Florianópolis, v.3, n.45, p.1-23, dez. 2022
em movimento. Albright (2013, p. 58) aponta que “o movimento é uma série de
quedas – algumas pequenas, algumas mais espetaculares – que impulsionam o
corpo através do tempo e do espaço”. Silva (2021, p.109) coloca que, “dessa forma,
os corpos dançantes das prostitutas entregam-se à ação da gravidade e no gap
suspendem o paradigma cultural de que a queda é uma falha, e outros significados
tomam o seu lugar”. Como propõe Albright (2013, p.59): “A expressão ‘cair em
desgraça’ torna-se uma afirmação impossível quando a queda propriamente dita
é experimentada com um estado de graça”. Na coreografia, os bailarinos se
lançaram sem medo da queda e, em
Caixa de ilusões
, caíram com graça.
O corpo-político se move no bordel pleno em seus desejos, revelados no
espaço heterotópico em quedas e recuperações que desenham o espetáculo
cênico da Ânima. Esse é o bordel dos anos 1990, espelhado na diegese de Genet.
No programa do espetáculo, encontramos a seguinte descrição:
Enquanto uma revolução ameaça tomar conta de um reino, os fregueses
do Grande Balcão, bordel de luxo, satisfazem suas mais secretas
fantasias de sexo e poder representando as figuras que compõem a
mitologia da sociedade ameaçada e que são responsáveis pela ordem
estabelecida.
Madame Irma, dona do bordel, supervisiona, junto com sua menina
‘predileta’, as representações por trás de espelhos. Ela teme a revolução,
pois o Grande Balcão é aliado do poder estabelecido e lhe presta serviços,
transmitindo os planos dos revoltosos, obtidos através das prostitutas,
ao seu amante, o Chefe de Polícia.
A revolta progride, sugere-se que os verdadeiros detentores do poder
foram assassinados. Chantal, uma das meninas do bordel, apaixona-se
por Roger, líder da revolução, passa para o lado dos revoltosos e
transforma-se em seu símbolo. Como contra-ataque para debelar a
revolução, são convocadas as figuras do bordel: os falsos Bispo, General
e Juiz desfilam para o povo liderados pela falsa Rainha.
A revolta é subjugada. Chantal é assassinada e Roger acaba por entregar-
se às fantasias do Grande Balcão, inaugurando uma nova representação:
o Chefe de Polícia que, satisfeito por ter sido finalmente levado à
categoria das grandes figuras do bordel, se encerra para sempre no Salão
Funerário (Schul, 1992).
Caixa de ilusões
teve uma produção grandiosa e, por isso, foi apresentada
poucas vezes. O cenário era de complicada montagem, havia água escorrendo de
uma parede, velas acesas que pingavam e até um carro que era puxado pelo palco,
o que gerou a necessidade de uma grande equipe de técnica e executiva. O