Uma dramaturgia original sobre a tortura, a partir do Sul:
os 50 anos de
Torquemada
, de Augusto Boal
Giovani José da Silva
Florianópolis, v.2, n.44, p.1-28, set. 2022
com grupos teatrais juvenis as possibilidades de uma nova dramaturgia
latino-americana.
Torquemada se apresentou em março no Teatro da Universidade de Nova
York, em abril no Teatro La Mamma de Bogotá e proximamente será
montada em Lisboa, Berlim, Paris, Lima e Quito. Além disso foi recém-
editada e num pequeno volume, que inclui
El Gran Acuerdo Internacional
del Tio Patilludo e Revolución em [sic!] America del Sur
, outras peças de
Augusto Boal, nas Ediciones Noé de Buenos Aires (Jacoby apud Boal, 1984,
p.104; apêndice n.º 6; grifos do autor).
Jacoby chama a atenção para o fato de que o então exilado Augusto Boal
orientava suas investigações com o objetivo de encontrar novas formas cênicas
em que o ritual pudesse ser eliminado, em que ocorresse a supressão da
“situação” teatral que dividiria a pessoa em ator e espectador.
Torquemada
pode
ser vista, nesse sentido, como uma espécie de “balão de ensaio” para o
desenvolvimento do que Boal chamaria alguns anos depois de “espect-ator”, em
seu Teatro do Oprimido.
O texto de
Torquemada
compõe-se de um conjunto de cenas fragmentadas,
não apresentando um desenvolvimento contínuo de episódios/ atos com começo,
meio e fim. As situações apresentadas, geralmente encerradas em uma mesma
cena, são entrecortadas por explicações e intervenções do ator Coringa. Os papéis
são elaborados tendo por base marcos e elementos históricos concomitantes ao
momento de produção do texto teatral, o início dos anos 1970. Além disso,
independentemente de nomes ou de qualquer outra condição ou característica,
as personagens formam dois grandes grupos: de um lado os representantes do
Estado ditatorial/ inquisitorial, na condição (por vezes, velada) de frios e cruéis
torturadores; de outro, os encarcerados, em sua maioria presos políticos.
Quais “histórias esquecidas” são reveladas por Boal, afinal, em
Torquemada
?
A peça narra a “fábula” de Tomás de Torquemada (1420-1498), inquisidor-geral dos
reinos de Castela e Aragão (atual Espanha) do século XV, e seus instrumentos para
controlar subversões políticas e religiosas. O frade dominicano ficou conhecido por
As personagens em
Torquemada
são (por ordem de aparição): Barba, Dramaturgo, Atleta, Baixinho, Frade 1,
Frade 2, Ator, Rei, Torquemada, Preso, Policial 1, Policial 2, Policial 3, Homem, Vera, Moça presa, Pavão, Hirata,
Fernando, Mosca, Ismael, Cristina Jacaré, Policial, Moça, Buda, Preso da mala, Oscar, Mestre, Parente da
moça, Espião, Zeca, Frade, Preso 1, Preso 2, Paulo, Nobre, Nobre 3, Nobre 1, Nobre 2, Carcereiro, Jovem,
Soldado, Industrial, Preso correcional, Preso 4, Soldado 1, Soldado 2, Soldado 3, Frade dominicano, Filho 1,
General, Capitão, Mãe, Filho 2, Filho 3, Filho 4, Filho 5 e Irmã.