Diálogos entre a criação de vídeos cômicos no
TikTok
e o conceito de
gag
na palhaçaria
Ana Cristina Vaz
Florianópolis, v.2, n.44, p.1-26, set. 2022
maior, ditado, em geral, pela dramaturgia de um espetáculo, pelo jogo do palhaço
e da palhaça ou pelo tema vigente. E apesar disso, elas possuem um certo nível
de autonomia, uma vez que, "[...] podem ser movimentadas e inseridas em
momentos estratégicos na partitura da narrativa. São também transportáveis
dentro da variedade de narrativas que a tradição circense preservou ou que os
palhaços criativos inventam"
(Bouissac, 2015, p.77).
Tal fenômeno pode ser percebido nos trabalhos de diferentes palhaços, bem
como nas diferentes obras cinematográficas. Anthony Balducci (2014), autor e
pesquisador de rotinas cômicas em filmes, em sua obra intitulada
Funny parts: A
history of film comedy routines and gags
, observa a recorrência das mesmas gags
em diferentes filmes cômicos ao longo dos tempos, bem como a adaptação aos
diferentes contextos. Uma das gags pesquisadas por aquele autor tem por base a
ideia de que um manequim ou qualquer cópia humana pode ser facilmente
confundida com uma pessoa, conforme os seguintes exemplos:
Na comédia de Georges Méliès,
Robert Macaire and Bertrand
(1907), um
soldado pendura seu chapéu e casaco em uma estaca no quintal. Um
fugitivo, confundindo a estaca com um soldado, é rápido em sacar uma
faca e atacá-la. Um boneco de boxe tem um papel fundamental na
comédia Keystone
Mabel's Married Life
(1914). Um marido (Charlie
Chaplin) fica bêbado, para encontrar coragem para lutar contra um
homem que ofendeu sua esposa (Mabel Normand). Enquanto isso, Mabel
comprou um boneco de boxe para Chaplin para que ele pudesse
construir seus músculos. [...] Mais tarde, seu cônjuge bêbado confunde o
boneco de boxe com o homem e lança um ataque ao intruso ousado. [...]
Em
Fighting Fluid
(1925), Charley Chase bebe água de um refrigerador de
escritório sem perceber que a água foi enriquecida com álcool. É
embriagado que, momentaneamente, confunde um manequim com a
namorada. Quando a perna do manequim cai, ele a pega e depois
confunde a namorada ao tentar devolvê-la (Balducci, 2014, p. 17-18).
The gags can be moved around and inserted at strategic moments in the score of the narrative. They are
also portable across the range of the various narratives that the circus tradition has preserved or that
creative clowns invent (Bouissac, 2015, p. 77). (Tradução nossa)
Many routines were based on the idea that a mannequin, or other facsimile of the human form, could easily
be confused for a man. In the Georges M
li
s comedy Robert Macaire and Bertrand (1907), a soldier hangs
his hat and coat on a stake in the yard. A fugi- tive, mistaking the arrayed stake for a soldier, is quick to pull
out a knife and attack it. A boxing dummy has a key role in the Keystone comedy Mabel’s Married Life (1914).
A husband (Charlie Chaplin) gets drunk in order to find the courage to fight a masher who has offended his
wife (Mabel Normand). Meanwhile, Mabel has bought Chaplin a boxing dummy so that he can build up his
muscles. [...] Later, her drunken spouse mistakes the boxing dummy for the masher and launches an attack
on the bold intruder. In Fighting Fluid (1925), Charley Chase drinks water from an office cooler without
realizing that the water has been spiked with alcohol. It is while intox- icated that he momentarily confuses
a mannequin for his girlfriend. When the mannequin’s leg falls off, he picks it up and later puzzles his
girlfriend when he tries to return it to her (Balducci, 2014, p. 17-18). (Tradução nossa)