Atrizes no teatro amador de São Luís na primeira metade do século XX
Gilberto Martins; Bene Martins
Florianópolis, v.2, n.44, p.1-25, set. 2022
Há muito tempo não tínhamos ensejo de passar uma noite tão deliciosa
e de cunho tão altamente artístico como a que a gentil amadora Anita
Henriques teve a ideia de nos oferecer, terça-feira, no palco do cinema-
teatro Éden. Desde o primeiro número do programa ao último, não nos
deixou de possuir o enlevo em que logo nos envolveu a gracilidade de
Anita, a “verve” irresistível de Pinto e o aprumo vocal de Galileu. Dentre
os melhores números destacamos Num Saco, maxixe defendido por
Pinto da Costa, cuja vocação em matéria de humorismo é indiscutível e
por demais comprovada; Um Beijo, dueto defendido por Anita e Galileu
com muita graça e expontaneidade, e cujos versos, de uma delicadêsa
encantadora, são da autoria do conhecido poeta Adelino Ribeiro, nosso
bom companheiro de redação (este número foi bisado; É só confusão,
soberbo maxixe, irradiante de “verve”, ao qual deram vida Pinto da Costa
e Anita Henriques, ambos magníficos nos seus papeis), e finalmente,
Menina não trance a perna, outro excelente maxixe que Anita
desempenhou com rara felicidade, sendo bisada. Entre a primeira e a
segunda parte do programa os dois reputados flautistas José B. Salgado
e Adelman Corrêa estiveram à altura da sua merecida fama e arrancaram
inúmeros e sinceros aplausos do público pela segurança com que
executaram as anunciadas variações musicais. Em resumo, a festa
artística de Anita “Serata d’Onore”, e daqui mandamos-lhe,
gostosamente, efusivas congratulações pelo êxito obtido (
Pacotilha
, 08
jun. 1923).
É possível apreender, a partir dos comentários, que essa atriz consolidou seu
nome na cidade de São Luís em operetas, burletas, revistas e comédias de
costumes bastante em voga na época, inspiradas nos diversos artistas e
companhias da cidade do Rio de Janeiro em temporadas por lá realizadas. Verifica-
se, na coluna do
Pacotilha
, que Henriques faz parceria em cena com os atores
Pinto da Costa e João Galileu, que são de outro importante grupo de amadores da
cidade na época, o Grupo Talma.
Dividindo o palco com Margarida Sacramento e Anita Henriques, encontra-se
a atriz Izaura Sacramento que, segundo as fontes encontradas para esta escrita,
deixa sugerir algum parentesco com Margarida. Não é possível, todavia, confirmar
tal dado devido às poucas informações trazidas pelos jornais da época.
Izaura Sacramento, semelhante às duas atrizes já mencionadas, demonstra
plena capacidade no canto nos espetáculos do Grupo Thália, mas uma razoável
expertise na interpretação; o que não raro é mencionado pelos jornais, sempre a
medindo como “regular”. No jornal
Pacotilha
, de 15 de maio de 1922, em
comentários feitos à peça
Guerra às Viúvas
, enquanto Anita Henriques esteve à
altura dos demais amadores, reafirmando ser “uma vocação decidida para o palco”