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Atrizes no teatro amador de São Luís na
primeira metade do século XX
Gilberto Martins
Bene Martins
Para citar este artigo:
MARTINS, Gilberto; MARTINS, Bene. Atrizes no teatro
amador de São Luís na primeira metade do século XX.
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas,
Florianópolis, v. 2, n. 44, set. 2022.
DOI: http:/dx.doi.org/10.5965/1414573102442022e0205
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Gilberto Martins; Bene Martins
Florianópolis, v.2, n.44, p.1-25, set. 2022
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Atrizes no teatro amador de São Luís na primeira metade
do século XX
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Gilberto Martins
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Bene Martins
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Resumo
Objetivou-se com este artigo evidenciar nomes e perfis de atrizes do teatro
amador de São Luís do começo do século XX. Essa temática se amparou na
ausência de registros de nomes de mulheres nas sociedades dramáticas da
cidade entre os anos de 1901 e 1919, observada na imprensa local. Contrário
ao contexto anterior a 1920, a partir de então uma difusão, nos jornais
locais, de nomes de atrizes amadoras. Quem e quais eram os perfis cênicos
das atrizes que desafiaram os dogmas sociais e se destacaram nos palcos do
teatro amador de São Luís no começo do século XX? Esses nomes perdidos
na história do teatro de São Luís foram arrolados a partir da pesquisa
documental centrada nos jornais da época; uma vez que um hiato neste
tema até então. O caráter introdutório deste registro se coaduna à
problemática macro verificada em diversos campos do conhecimento que
tentam recuperar uma memória ou uma imagem suplantada na História por
interesses de gênero e perspectivas morais.
Palavras-chave
: Teatro amador. Teatro maranhense. Atrizes.
1
Revisão ortográfica e gramatical do artigo realizada por Brenda Stefanine Diniz Silva. Licenciada em Letras.
Especialista em EAD Gestão e Tutoria pelo Centro Universitário Leonardo Da Vinci (UNIASSELVI).
contatobrendadiniz@outlook.com.br. https://lattes.cnpq.br/0218350628319426
2
Doutorando em Artes (UFPA). Mestre em Artes (UFU). Licenciado em Teatro (UFMA). Professor de Arte/Teatro
(IFMA). gilsantins@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/2495541083851823 https://orcid.org/ 0000-0002-6191-1065
3
Pós-doutorado em Estudos de Teatro (Universidade de Lisboa-PT). Doutora em Letras (UFMG). Professora
Associada da Faculdade de Dança (UFPA) e do (PPGArtes/ICA/UFPA). behneafonso@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/6379814397024971 https://orcid.org/ 0000-0002-5265-1054
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Actresses in the amateur theater of São Luís in the first half of the
20th century
Abstract
The objective of this article was to highlight names and profiles of actresses
from the São Luís amateur theater of the early 20th century. This theme was
supported by the absence of records of women's names in the city's dramatic
societies between 1901 and 1919, observed in the local press. Contrary to the
context prior to 1920, from then onwards there is a diffusion, in local
newspapers, of the names of amateur actresses. Who and what were the
scenic profiles of the actresses who challenged social dogmas and stood out
on the stages of the São Luís amateur theater at the beginning of the 20th
century? These names lost in the history of São Luís theater were listed based
on documentary research centered on newspapers of the time, since there is
a hiatus in this theme until then. The introductory character of this record is
in line with the macro problem verified in several fields of knowledge, which
try to recover a memory or image supplanted in History, by gender interests
and moral perspectives.
Keywords
: Amateur theater. Theater from Maranhão. Actresses.
Actrices de teatro amateur en São Luís en la primera mitad del
siglo XX
Resumen
El objetivo de este artículo fue resaltar nombres y perfiles de actrices del
teatro amateur de São Luís de principios del siglo XX. Ese tema fue
sustentado por la ausencia de registros de nombres de mujeres en las
sociedades dramáticas de la ciudad entre 1901 y 1919, observada en la prensa
local. Contrariamente al contexto anterior a 1920, a partir de entonces hay
una difusión, en los periódicos locales, de nombres de actrices amateurs.
¿Quiénes y cuáles fueron los perfiles escénicos de las actrices que desafiaron
los dogmas sociales y se destacaron en los escenarios del teatro amateur de
São Luís a principios del siglo XX? Estos nombres perdidos en la historia del
teatro São Luís fueron catalogados a partir de una investigación documental
centrada en periódicos de la época; ya que hay un hiato en este tema hasta
entonces. El carácter introductorio de este registro está en consonancia con
el problema macro verificado en varios campos del saber, que intentan
recuperar una memoria o una imagen suplantada en la Historia, por intereses
de género y perspectivas morales.
Palabras clave
: Teatro amateur. Teatro de Maranhão. Actrices.
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Introdução
[...] marginalizadas e banalizadas com sucesso pelo establishment
masculino dominante, sobreviveram. As vozes de mulheres anônimas
estavam presentes como uma tendência na tradição oral, música
folclórica e nas cantigas de roda, nos contos de bruxas poderosas e fadas
boas. Costurando, bordando e fazendo colchas de retalhos, a criatividade
artística das mulheres expressou uma visão alternativa. Em cartas,
diários, orações e canções, a força criadora, os símbolos da criatividade
das mulheres, pulsou e persistiu (Lerner, 2019, p. 276).
Contrariando a indiferença presente no âmbito do registro do seu fazer
teatral, muitas mulheres foram destaques no teatro brasileiro em seus diversos
setores ao longo dos últimos três séculos. Seja como atrizes seja em funções
primordiais nos bastidores da cena dramaturgas, empresárias, produtoras e
encenadoras — nas últimas décadas do século passado e no atual, pesquisadores
têm surgido com estudos no campo teatral feitos sobre e, sobretudo, por
mulheres. Muitas delas saíram dos bastidores e têm vindo às cenas artístico-
acadêmicas nas mais diversas áreas de estudo há muito demandadas.
Destaca-se que a difusão do conhecimento relacionado à presença de
mulheres nas artes é reflexo de uma obstinada reinvindicação interna e externa
ao ambiente acadêmico, sobretudo demandado por movimentos feministas que
pressionam o patriarcado enraizado nas subjetividades e epistemes ocidentais
norteadoras de condutas sociais, religiosas, jurídicas e políticas.
Do palco à produção, da direção à dramaturgia, do drama à comédia, as
histórias do teatro feito nas diversas regiões do Brasil mostraram que as suas
fisionomias foram constituídas não por atores, mas por nomes femininos
importantes que tiveram atuação dentro e fora dos palcos. Como não pensar na
atriz maranhense Apolônia Pinto (1854-1937), como desconsiderar as paraenses
Margarida Schivazappa (1895-1968) e Nilza Maria (1922-2020), a pernambucana
Lenita Lopes (1912-1983) e a força da baiana Celina Ferreira (1902-2001); para
citar algumas, entre inúmeras que emprestaram seu nome em prol do que
acreditavam, e, na contracorrente do pensamento patriarcal que, de maneira
contraditória, aplaudia-as nos palcos e as reprimia socialmente. Teria sido o teatro
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brasileiro, principalmente o do século XX, um matriarcado teatral sufocado?
A amplitude do debate sobre a presença das mulheres ou do feminino no
fenômeno teatral, numa perspectiva histórica, requer cautela do pesquisador
quanto ao recorte temporal, ao espaço geográfico, à classe social, à etnia etc., o
que tira de certa superficialidade uma análise que se queira relevante para a área
de estudo em questão. Os mecanismos escolhidos pelo pesquisador para observar
de perto o objeto não o exime de generalizações dentro de um contexto escolhido,
mas delimita e estabelece parâmetros que possam ser comparados a outros
elementos e, assim, obter uma imagem menos obscura daquilo que objetivou,
inicialmente, a investigação.
Nas linhas que se seguirão, a lente a ser usada e que ajudará a pinçar o objeto
será o teatro amador de São Luís, da primeira metade do século XX, visualizado
por meio das matérias jornalísticas do período que mencionaram as atrizes e seus
grupos. O registro dessas amadoras pelos articulistas da época formou o principal
critério de seleção dos jornais que seriam utilizados neste artigo. Considerando as
escassas fontes e até mesmo a ausência de alguns jornais do período nos
acervos públicos de São Luís e os direcionamentos para encontrar as
informações desejadas, recorreu-se a todos os jornais de São Luís, os quais
estavam disponíveis para acesso, entre as décadas de 1901 e 1929, dispostos nas
bibliotecas e em arquivos locais para composição deste texto.
Esse conjunto de jornais catalogados permitiu identificar uma frequência
maior de registros de atrizes em determinados periódicos, tais como
Diário de São
Luiz,
Pacotilha
e
O Jornal
, e menos em outros. Nos periódicos que fazem menções
às atrizes amadoras, um lapso no tempo no que tange às duas primeiras
décadas, vindo a noticiá-las apenas a partir de 1920; o que levou a fazer um novo
recorte quanto à data dos jornais para uso e focar nelas. Essa data coincide com
as transformações na sociedade relacionadas ao papel da mulher no meio
sociopolítico brasileiro.
A lacuna investigativa sobre este assunto, no contexto do teatro de São Luís,
não permitirá entrar em particularidades quanto às classes sociais e étnicas das
atrizes mapeadas nesse recorte temporal, o que o seu mapeamento abre
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espaço e oferece elementos para futuros aprofundamentos, haja vista a ausência
de pesquisas sobre essa temática. Desse modo, uma pergunta disparadora que,
pelo seu caráter, se comparada a outros contextos possa parecer simplória, porém
se torna fundamental para introduzir o assunto é: Quem eram as atrizes que
desafiaram as restrições sociais e se destacaram nos palcos do teatro amador em
São Luís, na primeira metade do século XX? Quais eram os seus perfis artísticos?
Ao longo do cruzamento de dados retirados de fontes jornalísticas às fontes
bibliográficas da literatura teatral brasileira, para atender a uma demanda de
pesquisa vinculada aos caminhos do teatro amador de São Luís, na primeira
metade do século XX, em que se buscavam seus perfis, sujeitos e grupos
4
, outros
elementos de estudo foram emergindo, por exemplo: a disparidade de gostos do
público em geral em relação ao gosto da elite intelectual de São Luís, ainda
enraizada numa concepção de geração de intelectuais que teriam colocado a
cidade em um extrato indissolúvel da intelectualidade brasileira, distinguindo-se
das outras localidades do país no século XIX
5
; o teatro estrangeiro como veículo
de penetração de costumes e relações sociais compreendidos como “civilizados”;
os espaços culturais da cidade de São Luís que acolhiam as linguagens artísticas,
como o cinema, o teatro e as artes plásticas e que teriam sido espaços de
dinamização social e cultural da cidade
6
.
No entanto, um aspecto que ganhou relevo e que não foi possível desenvolver
algumas linhas até então, ainda que introdutórias, embora algumas peculiaridades
da escrita jornalística instigassem a desenvolver apontamentos, está no parco
tratamento dado às atrizes que atuavam nos palcos profissionais e amadores da
cidade de São Luís na primeira metade do século XX. Em algumas divulgações de
espetáculos ou até mesmo comentários realizados sobre eles, feitos por
articulistas dos jornais locais pessoas responsáveis por escrever editoriais
4
A referida pesquisa trata da tese de doutoramento de Gilberto Martins, sob a orientação da Profa. Dra. Bene
Martins, em fase de finalização no âmbito do Programa de Pós-graduação em Artes, da UFPA. A tese versa
sobre a encenação Tempo de Espera e sua repercussão estética e política no cenário do teatro amador local
e nacional nos anos de 1970.
5
Duas obras fundamentais para o aprofundamento na temática da prosperidade e decadência cultural e
econômica no Maranhão nos séculos XIX e XX são: Leão (2013); Costa (2015).
6
Para maiores informações sobre alguns espaços artísticos de São Luís, na primeira metade do século XX,
são importantes as obras: Lacroix (2020); Mello (2004).
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jornalísticos —, a presença de mulheres era nula sempre que anunciavam a
apresentação de algum grupo amador da cidade entre as duas primeiras décadas
do século XX. Ao que parece, a presença da mulher no palco era vista apenas como
mais um elemento cênico sem importância.
Se um “novel teatral” surgia, era logo caracterizado apenas por “rapazes”. As
fontes consultadas levam a conjecturar que essa situação começa a se
modificar a partir do ano de 1920, quando registros de mulheres no teatro
amador de São Luís, evidenciando como essas atrizes desempenhavam seus
papeis na cena, ainda que esses grupos fossem compreendidos como constituídos
apenas por “rapazes”. São esses registros, bastante limitados, que pautam para
desenvolver considerações iniciais acerca dessa temática.
Ao enfocar a presença das atrizes atuantes no teatro amador de São Luís, do
início do século XX, busca-se ressaltar que embora certos segmentos ainda não
estejam presentes de maneira satisfatória e sistemática no corpus literário, nos
diversos campos do conhecimento, notadamente o trabalho das mulheres, e
outros segmentos sociais e suas contribuições culturais às sociedades vêm sendo,
paulatinamente, retirados de uma instância de invisibilidade.
O debate social e, em específico, a pauta das contribuições das mulheres
para o fazer artístico teatral vêm sendo levantados de maneira profunda frente a
uma herança patriarcal na composição dos discursos. Se por um lado elas são
temas de pesquisa, revelando suas práticas silenciadas no tempo, por outro, a
cada dia, mais mulheres levantam suas vozes; também assumem a condução da
costura dos discursos sobre suas próprias práticas, tornando cada vez menos
equivocada a visão convencionada sobre elas ao longo dos séculos.
Breve percurso sobre a atuação das atrizes nos palcos
brasileiros
A literatura que versa sobre a história do teatro no Brasil data na segunda
metade do século XVIII os primeiros vestígios de atrizes nos palcos. O Alvará de 17
de julho de 1771, que tratava da construção de teatros públicos em Portugal e suas
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colônias, contribuiu para o surgimento de elencos permanentes nas Casas de
Óperas no Brasil, nos quais estavam as atrizes entre os artistas que divertiam o
público. Segundo o pesquisador Ênio Carvalho (1989), dos elencos que eram
compostos por cantores, dançarinos e cômicos, pode-se destacar a presença das
atrizes Joaquina Maria da Conceição, também conhecida como Lapinha, e D.
Francisca de Paula, que teria sido esposa de um oficial de justiça (Carvalho, 1989,
p. 111).
no final do século XVIII, D. Maria I expediu um decreto que proibia a
presença de mulheres em empresas teatrais em Portugal e em todo o seu
domínio, o que incluía o Brasil; entretanto, conforme Carvalho et al. (2008), esse
decreto não teria sido plenamente obedecido na Colônia (Carvalho et al., 2008, p.
25). Esse mecanismo moralizador e de censura expedido pela rainha refletiu na
proliferação de atores que se travestiam para cumprirem os papeis femininos no
final do século.
Na metade do século XIX, registros que afirmam terem usado do
travestimento em cena, os notáveis Aluízio de Azevedo, Viriato Corrêa e o futuro
Visconde de Rio Branco, em São Luís, tal era o rigor quanto aos “preconceitos
familiares que não viam com bons olhos as meninas em palcos” (Jansen, 1974, p.
125). Com a passagem do séc. XVIII para o XIX, as atrizes que ousavam subir nos
palcos dos teatros pelo Brasil eram difamadas e excluídas do meio social
respeitável. Assim, cabiam aos homens interpretarem os papeis femininos para
uma plateia composta apenas por homens, “pois o teatro era atividade própria à
diversão do homem” (Carvalho, 1989, p. 116).
Ainda marginalizadas, as atrizes terão um pouco mais de espaço no teatro
feito no Brasil apenas com a revogação do decreto de D. Maria I e com o refúgio
da Corte Real para o Brasil em 1808. Carvalho et al. (2008) atribuíram, sobretudo a
esses acontecimentos e toda a reviravolta cultural derivada da chegada da Família
Real no Brasil, uma presença mais constante de mulheres no teatro. Partindo
desse pressuposto, as mulheres começam a assumir papeis dentro e fora dos
palcos como atrizes, cantoras e produtoras, não sem resistências sociais (Carvalho
et al., 2008, p. 25).
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Tais autores trazem um dado interessante sobre esse novo momento
sociocultural do Brasil em relação às atrizes, verificável no contexto de São Luís
no século XIX:
É nesse momento que o vedetismo e o gosto do público pelo teatro lírico
resultam numa mudança de perspectiva: algumas artistas chegam a
reunir determinado patrimônio, resultante tanto das temporadas de
sucesso quanto dos presentes dados por ricos admiradores. Contudo,
também encontramos as que se deixam abater por escolhas amorosas
e profissionais infelizes. [...] Outras, mais preocupadas com a construção
de uma independência econômica, chegaram a reunir capital
considerável. Esta foi, sobretudo, uma linha de comportamento mais
comum entre as atrizes estrangeiras (italianas e francesas), as divas, que
eram muito bem recebidas pelo público, ansioso por conhecer os grandes
nomes da cena europeia (Carvalho et al., 2008, p. 25-26).
Exemplos de uma respeitabilidade às atrizes nos palcos ludovicenses, na
segunda metade do século XIX, ilustram bem o que Carvalho et al. (2008)
mencionam acima. Há uma presença significativa no palco de mulheres vindas de
companhias estrangeiras, nacionais ou de amadoras locais, em que o gosto do
público pelo teatro se construiu em paralelo a uma elite intelectual e econômica
local, fazendo de São Luís uma rota obrigatória na itinerância das grandes
empresas e de importantes empresários teatrais do cenário nacional nesse século.
Os pesquisadores maranhenses José Jansen, com
Teatro no Maranhão (até
o fim do século XIX
), publicado pelo Editora Olímpica, no Rio de Janeiro em 1974,
e Jacqueline Silva Mendes, com
Crônica do Teatro Ludovicense em meados do
Século XIX (1852 – 1867): arte, negócio e entretenimento
, publicado pela Editora do
Instituto Federal do Maranhão-EDIFMA, em 2019, trazem exemplos de situações
de bastante visibilidade e popularidade de atrizes de outras cidades do Brasil que,
naquela ocasião, estavam em São Luís, ou de estrangeiras, sobretudo, portuguesas
que ora em trânsito ora radicadas, estiveram com seus nomes publicizados nos
jornais locais. Sem negar a importância dos contatos entre profissionais de outras
localidades, vale notar que às atrizes de fora se dava bastante visibilidade, ao
contrário das ludovicenses, momentaneamente aplaudidas em cena e logo, ao que
parece, esquecidas.
Jacqueline Mendes (2016) menciona o caso das atrizes Fructuosa e Emília, as
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quais teriam sido demitidas, por volta de 1862, sem nenhuma razão clara, da
empresa teatral de Germano Francisco de Oliveira (1820-1885), famoso ator e
empresário do Rio de Janeiro que tinha contrato de ocupação no Teatro São Luiz
naquela ocasião. Esse acontecimento teria gerado uma insatisfação por parte de
uma parcela do público da cidade, na noite de exibição do espetáculo
O Duque de
Roquelaure
ou o Homem mais feio da França
, dividindo-se entre pateadas, vaias,
e aplausos aos atores (Mendes, 2019, p. 142).
A edição do jornal
Publicador Maranhense
, de 30 de agosto de 1862, traz um
longo comentário acerca desse acontecimento, classificando-o como desastroso
e uma lamentável ocorrência. O texto, assinado por “um espectador’’, como consta
no fim do comentário publicado no jornal, atribui às duas atrizes o que ele entende
como “o verdadeiro pommo de discórdia no nosso teatro” (
Publicador Maranhense
,
30 ago.1862).
O fato foi que o público não recebeu bem a demissão das duas atrizes e
tomou partido, ao longo do espetáculo, para protestar. Germano de Oliveira, que
também estava em cena, teria reagido rispidamente, deixando cada vez mais tenso
o atrito e a insatisfação da plateia, sendo necessária a interferência do Chefe de
Polícia local que, coincidentemente, estava passando pela frente do teatro e
observou o clima acirrado (
Publicador Maranhense
, 30 ago.1862).
O que se percebe nesse exemplo, ainda que se tratasse de um espetáculo de
um empresário de grande prestígio na cidade, é que o apreço pelas atrizes e suas
posturas no palco — e, possivelmente, sua relação social com aqueles partidários
se sobressaiu. O público queria uma resposta de Germano de Oliveira; queria as
duas atrizes de volta ao palco do Teatro São Luiz.
Fructuosa, segundo consta no comentário do Jornal, teria se evadido do
teatro antes mesmo do espetáculo acabar, assim que passou sua participação nas
cenas; Emília, assustada com o clima confuso, não retornou para receber os
aplausos, “porque se ella viesse a scena, coitadinha, que horrível pateada não
levaria, visto como por causa d’ella, que não merece tantas lanças quebradas, foi
que se deram todas essas lamentáveis ocorrências” (
Publicador Maranhense
, 30
ago.1986). O Chefe de polícia teria intermediado esse chamado do público com o
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empresário Germano de Oliveira; chamado que foi frustrado, o que decorreu em
um misto de vaias e aplausos às outras atrizes (Carmela, Manoela e Josepha) que
também estavam no espetáculo e tentavam acalmar os ânimos da plateia, assim
que o pano de cena foi erguido para os aplausos finais (
Publicador Maranhense
, 30
ago.1986).
A partir disso, o Teatro São Luiz começou um processo de esvaziamento,
para Mendes (2016), e também gerado pelo mencionado tumulto supostamente
construído em torno das duas atrizes, tendo poucos frequentadores e prejuízos
financeiros, uma vez que tais confusões teriam feito o ator Germano de Oliveira
se retirar dos palcos da cidade, o que gerou manifestos pela cidade pedindo seu
retorno com sua empresa (Mendes, 2019, p. 144).
Até o fim do século, as obras de Jansen, Mendes e a imprensa local vão
destacar outras atrizes de prestígio na vida teatral de São Luís, como o caso da
atriz portuguesa Eugenia Câmara, que contava então com vinte e seis anos, recém-
chegada ao Brasil. Segundo José Jansen, “celebrizou-se não somente pelo seu
talento artístico como, também, por seus amores com o poeta Castro Alves”
(Jansen, 1974, p. 92); esta é um dos exemplos que Carvalho et al. (2008)
mencionam como resultado de umas das atrizes que se inseriram socialmente,
para além do talento, por ter feito escolhas amorosas que a beneficiaram, como
ter se relacionado com o referido poeta. Carolina Helpídio da Costa teria sido
homenageada com um espetáculo (Mendes, 2019, p. 169); além da expressiva atriz
ludovicense Apolônia Pinto (1854-1937), filha de atores portugueses, a qual embora
por curto período artístico tenha permanecido em São Luís, foi no Rio de Janeiro
que construiu uma carreira de sucesso, marcando seu nome na história das atrizes
do teatro brasileiro.
Uma observação se faz necessária para que não se crie uma ideia equivocada
de liberdade das mulheres que estavam envolvidas com as artes naquele século:
o fato de citar essas mulheres no palco não retira o peso de terem sido restringidas
pela mentalidade da época, construída na perspectiva da figura feminina como
doce, religiosa e que atendesse aos desígnios do matrimônio, ainda na
adolescência, com homens de faixa etária bastante superior, bem como aos
desígnios domésticos e direcionadas ao homens como entidade protetora e
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responsável por elas. Comumente, mulheres desacompanhadas nas ruas ou de
ímpeto destemido, assim como interesses artísticos, sobretudo onde houvesse
sua exposição frente a muitas pessoas, como o caso das atrizes que eram
confundidas como meretrizes (Del Priore, 2004, p. 381-389).
Essa efervescência artístico-cultural na cidade de São Luís, que serviu como
pano de fundo das diversas ocorrências teatrais na segunda metade do século XIX,
foi resultado de uma série de fatores históricos e econômicos anteriores, os quais
permitiram delinear um gosto pelas coisas do espírito centrado nas elites
ludovicenses, como o caso das implicações da criação da Companhia Geral do
Comércio do Grão-Pará e Maranhão, em 1755, condicionando a capital maranhense
a experimentar uma série de transformações, inclusive da economia ao
engendramento de um
modus vivendi
de aproximação europeia por uma
sociedade burguesa e letrada (Leão, 2013, p. 217).
Em busca das atrizes do teatro amador de São Luís
Um primeiro aspecto que chama a atenção para uma suposta ausência de
mulheres na cena amadora de São Luís do começo do século XX está presente no
espetáculo de estreia da Sociedade Dramática Particular Filhos de Thália. Segundo
as edições do jornal
Pacotilha
, de 30 de dezembro de 1901 e 02 de janeiro de 1902,
essa Sociedade teria sido criada na cidade de São Luís com o intuito de
proporcionar, mensal e gratuitamente, às famílias maranhenses, uma diversão
teatral. O espetáculo de estreia foi
Helena,
drama inédito, dividido em 5 pequenos
atos, em 01 de janeiro de 1902. A apresentação foi realizada no pequeno teatro, de
propriedade dos Filhos de Thália, que, por sinal, levava o nome da referida
Sociedade, localizado na Rua do Sol, na região central de São Luís (Pacotilha, 30
dez. 1901).
O articulista do jornal
Pacotilha
, não identificado no comentário, assim se
referiu a essa noite de estreia:
O
dificílimo
papel de Helena, a protagonista da peça, foi confiado ao sr.
M.S. que satisfaz geralmente. O de Paulo da Silva, o nobre e generoso
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mancebo, foi fielmente interpretado pelo sr. F.L., que no primeiro acto
portou-se com uma correção admirável. Os srs. J.T. e J. B. mostraram-
se no acto à altura da situação. Aquelle então foi perfeito, quando ao
erguer-se o panno, aparece como um velho enfermo moral e
physicamente. O sr. R.B., no desempenho do papel de Fernando da
Cunha, moço debochado e jogador consumado, o mais perfeito emblema
do vício, esteve acima de todas as expectativas. Este amador que agora
estréia, figurou-se-nos já um artista com tirocínio. A presença de espírito
com que se se mostrava, a clareza com que emitia as palavras, a
naturalidade dos seus gestos foram surphreedentes. Depois de uma tal
estreia não é difícil prever o mais rósea e risonho futuro que se abre
diante dos “Filhos de Thália”. Que não nos enganemos nesta nossa
previsão, são os nossos mais ardentes votos (
Pacotilha
, 02 jan. 1902, grifo
nosso).
Segundo o comentário feito à Sociedade Dramática Particular Filhos de
Thália, composta por estudantes, artistas autônomos, homens da repartição
pública; como o alfandegueiro da Intendência Municipal, de origem da cidade de
Caxias, Ricardo Barbosa, o escrivão Augusto de Faria Bello, o pintor e cenógrafo
Antônio Rabasa, o maestro Joaquim P.F. Parga, além de Almir Mattos, Pedro
Belfort, João Pedro d´Almeida Filho, Francisco Lopes, José Bittencourt, Caetano
de Souza, José Pearce, Álvaro Lima, R. Rodrigues, Adelman Corrêa, José Rayol,
Marcos Bangoim. O espetáculo de estreia desses amadores não contou com a
presença de atrizes; pelo menos é o que sugere a ênfase em figuras masculinas,
ainda que o drama girasse em torno de uma mulher enquanto protagonista,
Helena, representada por M.S., a qual teria o ator agradado.
Esse destaque feito a um ator representando um papel feminino não
encontra lugar em outras fontes consultadas até o momento, ainda que fosse para
criticar ou reiterar o acontecido. O fato é que esse assunto passa com naturalidade
na veiculação dada pelo jornal
Pacotilha
, deixando a tarefa de uma investigação
sobre o assunto mais complexa. Teria sido apenas o
Pacotilha
a não registrar uma
possível participação de atrizes nesse espetáculo? Quais outras fontes possíveis
de rastreamento delas nesse cenário aparentemente masculino do amadorismo
ludovicense?
No século XX, as fontes jornalísticas voltam a mencionar nomes de atrizes-
cantoras no âmbito dos grupos amadores ludovicenses apenas a partir de 1920,
quando fazem referências aos grupos amadores Thália, Coelho Neto, Arthur
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Azevedo e Talma, todos de grande adesão do público de São Luís. O pós-Primeira
Guerra foi também de fortalecimento dos amadores, na medida em que eles
tiveram que suprir as necessidades teatrais da cidade retraídas devido à guerra
mundial de 1914 a 1918, cujo acontecimento diminuiu o fluxo de circulação de
companhias estrangeiras em São Luís e em todo o Brasil (Magaldi, 2004, p. 191).
Esse acontecimento mundial resvalou na pouca procura do público de São Luís
pelos poucos trabalhos de outras regiões que ainda exibiam seus espetáculos na
cidade. As fontes mostram que os amadores supracitados cumpriram um
importante papel no movimento de atração do público aos teatros, encontrando
agora não estrangeiros (internacionais e nacionais), mas atores locais.
Com estreia em 21 de abril de 1920, o Grupo Thália traz de volta à cena de
São Luís nomes de atrizes amadoras que por anos não se divulgava pela imprensa
local, com exceção das atrizes em temporada na cidade. As apresentações de
Os
amores do Coronel
e
O Fura vidas
demonstram bem a composição desse grupo
de amadores, que daí por diante agregou nomes de outras atrizes ao seu elenco.
Figura 1 - Cartaz da apresentação de estreia do Grupo Thália
Fonte: Jornal
Pacotilha
(1920)
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Uma atriz de destaque nesse período e de perceptível respeito do público
local foi Margarida Sacramento. Em meio a outras jovens atrizes, Sacramento é
recorrentemente mencionada nos jornais, sempre com elogios às suas habilidades
no canto e na capacidade de se impor em cena, agradando a plateia. Às vezes,
visivelmente nervosa atuando, como no caso da apresentação da opereta
O Conde
de Luxemburgo
, em 1922, que dividia o palco com outras duas atrizes, Anita
Henriques e Izaura Sacramento; ainda assim, a imprensa não abre mão de
incentivar os aplausos do público a ela (
O Jornal
, 01 abr. 1922). O fluxo de notícias
sobre essa atriz permitiu, entre todas as atrizes do período, avançar no seu perfil
genealógico.
Figura 2 - Atriz-Cantora Margarida Sacramento - Grupo Thália
Fonte:
Diário de S. Luiz
, 09 jun. 1922.
Celeste Margarida Saraiva do Sacramento (1888-1922), conhecida pelo seu
timbre como Gaída, era maranhense, filha do Sr. Hermógenes Raphael do
Sacramento, cobrador de alfaiataria e envolvido com o comércio na cidade
(Pacotilha, 13 mar. 1909). Hermógenes Sacramento é também artista, vinculado à
comissão fiscal de uma espécie de agremiação artística e operária Centro
Artístico Eleitoral — de vinculações cultural e política na cidade, no quatriênio 1901
a 1905 (
Jornal dos Artistas
, 03 mai. 1901).
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Quando o Grupo Thália começou a ser mencionado nos jornais da cidade de
São Luís, antes de sua estreia oficial em 21 de abril de 1920, o periódico O Jornal
do dia 20 de março de 1920 anunciou algo interessante para o propósito neste
texto no que diz respeito à composição do grupo, qual seja: José Bittencourt
(presidente), Antônio Nunes Gomes (Secretário), Antônio Pedro Serra dos Santos
(Tesoureiro), Margarida Sacramento (arquivista) e Ricardo Barbosa (diretor de
cena). Margarida Sacramento foi a responsável pela documentação e pela
memória do grupo na pasta de arquivista e é a única mulher a compor esse grupo
desde o início; as demais entram posteriormente.
Na apresentação de estreia do Grupo Thália, a imprensa registra modéstia e
firmeza no papel de Rozina, em
Os Amores do Coronel
, impressas por Sacramento.
Segundo o jornal
Pacotilha
, de 23 de abril de 1920, Margarida Sacramento cantou
com sentimento simples, sem afetações exacerbadas, mas prendeu o público na
melodia. Ainda segundo o comentário, “esta senhorita, que é uma brilhante
amadora, com um pouco mais de ensaios e a vontade que possui, caminha muito
bem para o domínio do palco” (
Pacotilha
, 23 abr. 1920).
O Jornal
adjetivou a estreia do Grupo e seu elenco como “magnífica, digna
dos mais encomiásticos louvores, [...], porque nesse espetáculo se afirmaram
vocações” (
O Jornal
, 23 abr. 1920). Além disso, menciona apenas Margarida
Sacramento, fazendo os seguintes comentários:
A senhorita Margarida Sacramento está nesse derradeiro item. Inteligente,
senhora de força de vontade, a sua aprezentação perante uma grande
platéa não a entibiou, longe disso; deu-lhe vigor, emprestou-lhe uma
vivacidade que nem sempre se encontra nas artistas afeitas às ribaltas.
A opereta que lhe confiaram, apezar da falta de motivos para que a sua
protagonista demonstrasse, à vontade, os seus dotes, mesmo assim deu
margem a que ROZINHA, camponeza (sic) conhecedora demais do Lies
das cidades e apreciadora do champagne..., fosse aplaudida a valer... (
O
Jornal
, 23 abr. 1920).
Outra atriz amadora de destaque no período e que compunha o mesmo grupo
de Margarida Sacramento foi Anita Henriques. Na montagem da peça
A Boneca
Allemã
, a qual a Companhia de Brandão Sobrinho tinha apresentado
anteriormente em São Luís, o Grupo Thália recebeu demoradas ovações da plateia
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ludovicense. De acordo com o jornal
Diário de São Luíz
, de 04 de maio de 1921, a
senhorita Anita Henriques, ainda que um pouco nervosa, conseguiu levar a sua
personagem Anna sem muitos problemas.
O jornal destaca ainda que não teria sido a primeira vez que Henriques se
apresentava para um grande público na cidade e que “entre nós ela se fez aplaudir
bastante, por isso que seus trabalhos agradam sempre” (
São Luíz
, 04 mai. 1921).
Senhora do seu papel, Anita Henriques ainda era vista nesse período, muito
embora os comentários elogiosos e a ressalta à sua inteligência cênica como uma
atriz a alcançar um melhor desempenho na cena com mais ensaios e outros
personagens.
Figura 03: Imagem da atriz- cantora Anita Henriques- Grupo Thália
Fonte: Jornal
Diário de S. Luiz
, de 09 jun. 1922.
Em 21 de abril de 1922, Anita Henriques, dividindo os elogios com o diretor e
ator do Grupo Thália, Ricardo Barbosa, “foram, incontestavelmente, os melhores”,
em
O Conde de Lacedemônio
(
Pacotilha
, 22 abr. 1922). O sucesso de Anita
Henriques a possibilitou realizar em 06 de junho de 1923 um festival amador no
Cinema-Teatro Éden, no Centro de São Luís, onde exibiu ao público da cidade
diversos números musicais junto de outros amadores da cidade. O
Pacotilha
do
dia 08 do mesmo mês traz os seguintes comentários sobre esse evento:
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Há muito tempo não tínhamos ensejo de passar uma noite tão deliciosa
e de cunho tão altamente artístico como a que a gentil amadora Anita
Henriques teve a ideia de nos oferecer, terça-feira, no palco do cinema-
teatro Éden. Desde o primeiro número do programa ao último, não nos
deixou de possuir o enlevo em que logo nos envolveu a gracilidade de
Anita, a “verve” irresistível de Pinto e o aprumo vocal de Galileu. Dentre
os melhores números destacamos Num Saco, maxixe defendido por
Pinto da Costa, cuja vocação em matéria de humorismo é indiscutível e
por demais comprovada; Um Beijo, dueto defendido por Anita e Galileu
com muita graça e expontaneidade, e cujos versos, de uma delicadêsa
encantadora, são da autoria do conhecido poeta Adelino Ribeiro, nosso
bom companheiro de redação (este número foi bisado; É confusão,
soberbo maxixe, irradiante de “verve”, ao qual deram vida Pinto da Costa
e Anita Henriques, ambos magníficos nos seus papeis), e finalmente,
Menina não trance a perna, outro excelente maxixe que Anita
desempenhou com rara felicidade, sendo bisada. Entre a primeira e a
segunda parte do programa os dois reputados flautistas José B. Salgado
e Adelman Corrêa estiveram à altura da sua merecida fama e arrancaram
inúmeros e sinceros aplausos do público pela segurança com que
executaram as anunciadas variações musicais. Em resumo, a festa
artística de Anita “Serata d’Onore”, e daqui mandamos-lhe,
gostosamente, efusivas congratulações pelo êxito obtido (
Pacotilha
, 08
jun. 1923).
É possível apreender, a partir dos comentários, que essa atriz consolidou seu
nome na cidade de São Luís em operetas, burletas, revistas e comédias de
costumes bastante em voga na época, inspiradas nos diversos artistas e
companhias da cidade do Rio de Janeiro em temporadas por realizadas. Verifica-
se, na coluna do
Pacotilha
, que Henriques faz parceria em cena com os atores
Pinto da Costa e João Galileu, que são de outro importante grupo de amadores da
cidade na época, o Grupo Talma.
Dividindo o palco com Margarida Sacramento e Anita Henriques, encontra-se
a atriz Izaura Sacramento que, segundo as fontes encontradas para esta escrita,
deixa sugerir algum parentesco com Margarida. Não é possível, todavia, confirmar
tal dado devido às poucas informações trazidas pelos jornais da época.
Izaura Sacramento, semelhante às duas atrizes mencionadas, demonstra
plena capacidade no canto nos espetáculos do Grupo Thália, mas uma razoável
expertise na interpretação; o que não raro é mencionado pelos jornais, sempre a
medindo como “regular”. No jornal
Pacotilha
, de 15 de maio de 1922, em
comentários feitos à peça
Guerra às Viúvas
, enquanto Anita Henriques esteve à
altura dos demais amadores, reafirmando ser “uma vocação decidida para o palco”
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(Pacotilha, 15 mai. 1922), Izaura Sacramento “desempenhou com galhardia o seu
difícil papel de viúva, apesar de parecer fatigada, com a voz, muitas vezes,
imperceptível” (
Pacotilha
, 15 mai. 1922).
Em 1924, pertencendo ao Grupo Thalma, uma reformulação do Talma, e,
portanto, o único grupo amador ainda atuante no final da década da leva dessas
associações da década de 1920, Izaura Sacramento aparece como destaque na
peça
O Coruja
, de autoria de companheiros de grupo — Lauro Serra e Luiz Vianna
—, no papel de Mathilde, “salvando a cena” a partir de sua entrada no ato.
Segundo o jornal, essa peça seria uma comédia que era então um gênero atrasado
e mesmo a plateia já vinha apresentando desinteresse.
Um elemento curioso que denuncia a maneira de fazer crítica aos
espetáculos amadores de São Luís da época, e que permitiu identificar alguns
nomes de atrizes, é o comentário feito em cima do desempenho na cena das
atrizes. De um lado, verifica-se o nível de conforto de determinada atriz com o
canto, com a capacidade de controle e agradabilidade de sua voz; por outro lado,
os comentaristas medem a recepção do público e sua reação diante de
determinadas atrizes. Muito embora os jornais digam que na década de 1920
proliferou, em São Luís, o gênero revista e ainda se praticava a comédia de
costumes, contradizendo o que se esperava daquele público por parte de uma
parcela da intelectualidade, pouco se fala da exuberância e da superexposição
feminina nos palcos inerentes a esse gênero teatral.
É provável que a piada obscena e os corpos femininos tenham contribuído
para o sucesso desses grupos, em que “as gentis patrícias que gostosamente se
exibem, e por escolherem programmas, que agradem todos os paladares” (
Diário
de S. Luiz
, 30 jul. 1921) agregassem no repertório do entretenimento. Sem as
famosas tintas das piadas, as músicas e as cenas alegres, o público não teria sido
tão receptivo. “O que fazer? Sem essa fresquidão de tintas é possível que os
actores não encontrem platea. O gosto derivou para ahi, e não que o possa
afastá-lo dessa esteira em que elle se acha à vontade. O desempenho agradou
imenso” (
Diário de S. Luiz
, 29 jul. 1921).
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Júlia Castro foi outra jovem atriz que estampou as colunas dos jornais de São
Luís no começo da década de 1920. Essa atriz fazia parte do elenco do Grupo
Thália e, amiúde, comentários elogiosos ao seu desempenho eram feitos. Na
apresentação da revista
De pernas p’ro ar
, em 09 de novembro de 1921, o jornal
Diário de São Luíz
, ainda que avesso ao gênero revista, não pôde deixar de
comentar o bom desempenho do grupo e a superioridade cênica de Júlia Castro.
De acordo com o jornal, Júlia Castro era, naquele momento, um dos melhores
elementos do grupo. A atriz teria sido “irrepreensível nos diversos papeis a seu
cargo. O engraxate e a bahiana destacaram-se, e o público aplaudiu-os. É uma
amadora que muito promete” (
Diário de S. Luiz
, 10 nov. 1921).
Em
A boneca Allemã
, em 1921, Júlia Castro, estreante no teatro amador,
surpreendeu o público com interpretações no palco que agradaram os articulistas
dos jornais e reforçou a expectativa da plateia em vê-la nos demais trabalhos do
grupo. Já na década de 1930, Júlia Castro viria a se apresentar com outros grupos
amadores na cidade, sempre se destacando, além de compor o elenco da
conhecida Companhia Apolônia Pinto, no final dessa década, estreitando parcerias
com nomes expressivos do teatro amador de São Luís da metade do século XX,
como Murilo Gandra (1916-?), Aldo Calvet (1911-1993) e Luiz de Sevilha (?).
Registrou-se, nos jornais locais, em 09 de abril de 1922, provavelmente o
primeiro caso de uma atriz a assumir o comando da direção artística de um grupo
amador na cidade: Státira Cazelgrandi. Não é possível saber pelas fontes se
Cazelgrandi tem raízes no Maranhão, mas alcançou um feito pouco comum na
época no contexto de São Luís: uma mulher assumir a direção de espetáculos nos
grupos amadores da cidade. Até então era possível encontrar vestígios de várias
atrizes que foram relevo nos grupos os quais trabalhavam, mas sempre na posição
de atrizes. Mesmo a respeitada atriz Margarida Sacramento nunca chegou a esse
posto, conforme é possível verificar pelas fontes.
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Figura 4 - Anúncio do espetáculo
O Dinheiro
, do Grupo Arthur Azevedo
Fonte:
Pacotilha,
de 24 mai. 1922
De acordo com o anúncio do espetáculo, Cazelgrandi assumiu a função de
encenadora (
mise-en-scène
) na primeira montagem do seu grupo. Em duas
funções, atriz e diretora, a artista ainda reúne, no seu grupo, sua filha, a também
atriz, Gioconda Neu. O jornal
Pacotilha
, de 06 de junho de 1922, relata que o
espetáculo de estreia do Grupo Arthur Azevedo foi um sucesso na cidade. O texto
de Coelho Neto teria agradado a plateia do Cinema-Teatro Éden. Outro aspecto
curioso a respeito desse momento é que, enquanto os demais grupos amadores
construíam uma popularidade na cidade por meio de comédias e revistas,
Cazelgrandi estreia com seu grupo um drama.
Em 07 de junho desse mesmo ano, o espetáculo O Dinheiro tem sua reprise
acompanhado de um
cabaret
Canção da Villa
cantado na voz de Státira
Cazelgrandi. O público, acostumado a assistir aos espetáculos cômicos produzidos
em São Luís e os de outras cidades em temporada, estranhou de imediato o
gênero assumido por Cazalgrandi, mas logo se adaptou (
Pacotilha
, 06 jun. 1922).
Após o sucesso na estreia no Grupo Arthur Azevedo, os jornais mostram que
no mesmo ano Státira Cazelgrandi assume a direção de outro grupo amador:
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Grupo Dramático Coelho Neto. Em ambos, dirigiu
Rosas de todo ano
, de Júlio
Dantas, as comédias O Morto Vivo e
Sra. Ministra
, de Eduardo Schwalbach,
Flores
de Sombra
, de Claudio de Sousa,
O Bonde
, de Assis Garrido, entre outras.
Em paralelo às suas direções, os jornais mostram que boa parte dos
espetáculos dirigidos por essa atriz, nos dois grupos que comandou na direção
artística ela esteve como protagonista ou com papeis de destaque na trama.
Státira Cazelgrandi mostrou uma versatilidade artística raramente vista no período.
Poucos artistas desse momento e Ricardo Barbosa é um deles foram
destacados em sua genialidade na cena e na direção. A potencialidade artística de
Státira Cazelgrandi demanda uma investigação minuciosa de sua produção; pois
pouco se sabe sobre essa artista.
Além das artistas mencionadas até aqui, muitas outras escreverem seus
nomes no teatro amador de São Luís na primeira metade do século XX, tais como:
Delfina Santos, Otila Braga, Lili Gomes, Bembém Cardoso, Maria Belfort, Izaltina
Monteiro, Joana Castro, Alfredina Champoudry, Gioconda Neu, Júlia Couto,
Dadinha Azevedo, Angélica Pereira.
A pergunta mencionada no início deste texto, questionando se o teatro
brasileiro teria sido um matriarcado sufocado, é um guarda-chuva para discutir os
mais distintos caminhos construídos por mulheres nas artes feitas no Brasil. Por
que, ainda hoje, é ensinado nos espaços de formação e reflexão sobre o teatro
brasileiro, que as sucessivas produções de impacto nessa arte, no Brasil, foram
delineadas apenas por figuras masculinas, determinadamente localizadas em sua
geografia, em sua cor e em sua classe? Ainda é possível pensar uma centralidade
discursiva válida sobre o que seja a fisionomia do teatro feito nas diversas regiões
do país?
Quantas vozes silenciadas, quantas potências abortadas, quanto trabalho
fundamental das mulheres no teatro amador e nos diversos segmentos do teatro
foram ignorados. A naturalização quanto às ausências das atrizes nos jornais por
muito tempo revela uma relação acessória destas nos palcos, vistas somente
quando dos seus corpos pulsam os interesses e são usados como iscas para uma
plateia sedenta por entretenimento. O teatro amador de São Luís, embora pouco
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estudado, traz um emaranhado de relações que são possíveis desenlaçá-las
quando temáticas macro são consideradas e tidas como pertencentes ao mundo
do teatro.
Assim, dificilmente o leitor entenderá que as ausências e as relações
acessórias com as mulheres no teatro se deram por uma compreensão social de
subordinação delas aos seus “responsáveis”: os homens. Que o sucesso de um
gênero teatral tem mais a ver com a exposição dos corpos femininos ao talento
advindo de suas donas. Daí a contradição: restringia-se e se demandava a partir
desses corpos. Que o fato de alguns nomes terem sido arrolados aqui não diz de
uma liberdade apregoada na época, extensiva apenas aos homens, embora
caracterizados como “rapazes” pela imprensa local.
As sociedades teatrais amadoras de São Luís da primeira metade do século
XX foram compostas por um número razoável de mulheres que desejavam estar
nos palcos. Se essa presença se dá de maneira expressiva, sobretudo a partir dos
anos de 1920, daí em diante as fontes mostram que todas as transformações que
estavam ocorrendo na sociedade, quanto ao papel da mulher e sua inserção nos
espaços públicos antes reservados aos homens, refletem-se no teatro, ainda que
as limitações morais fossem uma realidade. Felizmente, mesmo que a passos
lentos, cada vez mais mulheres vêm às cenas artístico-acadêmicas com
contribuições indispensáveis ao reconhecimento do seu potencial, estejam elas
onde estiverem, atuando nas areias movediças das resistências e dos preconceitos
ainda em voga, principalmente, no que se refere aos estudos de gênero. Este,
portanto, é assunto para outros escritos.
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As diversões: Grupo Artur Azevedo
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SEMANÁRIO MARANENSE, Maranhão.
Noticiário: Theatro - sobre a apresentação da
comédia O Duque de Roquelaure.
São Luís, 30 out. 1862, p. 02.
Recebido em: 09/05/2022
Aprovado em: 28/07/2022
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Teatro
PPGT
Centro de Arte CEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
Urdimento.ceart@udesc.br