todas as palavras da minha lista foram representadas em cena: apreensão,
convulsões, espasmos, solavancos, ataques repentinos, histrionismo, destempero,
exibicionismo, descontrole, despudor, desfiguração, desordem, desvario,
desmonte, extravagância, desarticulação, agitação, sedução, exagero, figuras
descabeladas, olhos revirados, corpos que babam, corpos que urinam, contorções,
contrações, explosões, automutilações, paralisia de membros, dormência de
membros, movimentos involuntários, movimentos abruptos, dissociação,
desintegração, corpos parcialmente vestidos, exaustão, bem como agressão a si e
ao outro. Tais padrões motores típicos da agitação, estado psicofísico que
desafiava a sociedade ocidental antes dos antipsicóticos, antidepressivos e
calmantes, e que enchiam os sanatórios aos milhares, preenchem o palco. Para
os que sabiam ouvir: !A agitação não é somente uma excrescência, um câncer
'psicomotor'. É também, e acima de tudo, uma modalidade de existência, um tipo
de atualização, um estilo expressivo” (Fanon, 2020, Loc. 1684). São corpos
prodigiosos, que aguentam muito mais do que o corriqueiro. Valho-me das
palavras de Didi-Huberman, mais uma vez, para descrever esse corpo: “do que é
capaz o corpo histérico: pois bem, parece um prodígio. Parece um prodígio,
ultrapassa a imaginação e até qualquer expectativa#, como se costuma dizer” (Didi-
Huberman, 2015, p.15).
Segundo Freud, corpos convulsivos nos inquietam porque parecem ter sido
capturados por porções inconscientes do ser. Sendo assim, corpos histéricos nos
mostram que o inconsciente não somente sonha e deseja, mas também age nos
músculos e ossos.
O efeito inquietante da epilepsia e da loucura tem a mesma origem. Os
leigos veem nelas a manifestação de forças que não suspeitavam existir
no seu próximo, mas que sentem obscuramente mover-se em cantos
remotos de sua própria personalidade. De modo consequente e
psicologicamente quase correto, a Idade Média atribuiu todas essas
manifestações patológicas à ação de demônios (Freud, 2010, p. 363).
Saio com a pergunta inconveniente de Marshall (2016, Loc. 262): seria
Lobo
uma obra que se inscreveria na longa genealogia de trabalhos que representam
estados neuropatológicos como entretenimento radical? Segundo
questionamento inconveniente, citando Didi-Huberman (2015, p.22):