
Salamandra
: Filosofia-Performance, corpo e saúde holística
Alba Pedreira Vieira
Florianópolis, v.1, n.43, p.1-28, abr. 2022
vidas naquele momento, o que mais lhes afligia (por exemplo, doença de cunho
psicológico, físico, espiritual, social; situação econômica, política, e assim por
diante) e seus processos subjetivos de cura. Recebi vários vídeos caseiros
(gravados em celulares) tanto no Brasil (incluindo Belém, Natal, Porto Alegre, Minas
Gerais: Ponte Nova, Divinópolis e Cataguases, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo)
como do exterior (Portugal, Colômbia, Alemanha). Duas pessoas preferiram gravar
suas vozes recitando trechos de poemas (Fernado Pessoa) ou textos de Ailton
Krenak (
Ideias para Adiar o Fim do Mundo
, 2019) e de Davi Kopenawa e Bruce Albert
(
A Queda do Céu
, 2015). Um amigo cacique de fronteiras, Francisco Hyjnõ Krahô,
me enviou da sua aldeia Manoel Alves Pequeno, na Kraolândia/TO, imagens (fotos
e vídeos) de situações do dia a dia durante a pandemia.
Filosofia-Performance como mote para a criação artística em
relação com processos de cura a partir da Fenomenologia-
hermenêutica: destruição, transformação e renovação
Por várias décadas, discutiu-se e foi realizada a transposição de pensamentos
filosóficos para e pelos corpos dos performers, assim como os seus
desdobramentos e efeitos durante a construção (nos processos de criação) e
apresentação de performances. Considerava-se que o/a criador/a necessitava se
relacionar com a obra para que essa conseguisse traduzir um pensamento, uma
visão de mundo e um modo de enxergar a realidade.
Mais recentemente, surge uma proposta diferenciada: a que defende a
Filosofia-Performance, ou Performance-Filosofia, ou ainda Performance como
Filosofia. Como afirma Laura Cull (2014, p.24-25)
, independente de como é
chamada, o importante é a busca por se romper lacunas entre performance e
filosofia. Tais hiatos, para a pesquisadora, são inúteis e obstrutivos. Destruição de
uma antiga concepção para renovação das formas de pensar. Em vez de continuar
Minha tradução e paráfrase de: “In contrast, the position of the ‘performance as philosophy’ argument is that
performance can be understood as doing its own kind of philosophical work, without it being illustrative of
concepts or arguments already outlined by ‘traditional’ philosophy. Resisting any fixed or reductive definitions
of what constitutes (proper) ‘philosophy’ or ‘philosophical activity’ in the first place, this view suggests that
performance. Performance Philosophy conducts it own specific manner of philosophical investigation in and
as performance in ways that might be fruitfully employed to expand existing definitions of what counts as
philosophy” (Cull, 2014, p.24-25).