Quando escrever é mover: Por uma (des)educação performativa na escrita acadêmica
Adrianne Ogêda Guedes; Carolina Cony Dariano da Rosa
Virna da Silva Bemvenuto; Vitória da Silva Bemvenuto
Florianópolis, v.2, n.44, p.1-20, set. 2022
empurrar, puxar, apoiar, sustentar. Ações no mundo. O mundo em nós. Gestos que
nos inspiram a iniciar a escrita pelo corpo - “[...] ponto zero do mundo, lá onde os
caminhos e os espaços se cruzam [...], este pequeno fulcro utópico, a partir do
qual eu sonho, falo, avanço, imagino[...]” (Foucault, 2013, p.14) -, é provocar um
desvio na lógica hegemônica que exclui os saberes do corpo, o compartimenta, o
esquadrinha e ordena os espaços, momentos e formas nos quais ele pode não
estar. Na escola, no trabalho, nos eventos acadêmicos, na escrita, no parque, na
festa, na rua, na educação: há tempos o corpo é ensinado a performar e forma-se
em cenas devidamente e previamente orquestradas.
E se o corpo, que já detém seu lugar, reivindicasse espaço para manifestar
seus sentires, suas formas e contornos, a sua maneira de dizer? E se, para ocupar
o cotidiano, retornássemos primeiro a um estado de presença no corpo, como bell
hooks (2017) nos convida:
[...] para desconstruir o modo como o poder tradicionalmente se
orquestrou na sala de aula, negando subjetividades a alguns grupos e
facultando-a a outros. Reconhecendo a subjetividade e os limites de
identidade, rompemos essa objetificação tão necessária numa cultura de
dominação (hooks, 2017, p.186).
Como pesquisadoras e professoras e, duas de nós, artistas, dedicadas a
praticar a educação pela via do sensível (Duarte Júnior, 2000), temos investigado
e criado academicamente, dando ênfase na experiência com o corpo e com as
artes. Nesse sentido, pensamos-sentimos (Fals Borda, 2015) maneiras que nos
possibilitem permear nossas produções científicas com outras linguagens que
também possam ser consideradas escritas: a imagem, a performance arte,
produções audiovisuais, a dança - e a própria escrita como processo artístico
capaz de ativar outros modos de relação no intercâmbio de experiências entre
autores e leitores.
A cada ação, seja de pesquisa, ensino ou extensão
que forjamos,
sustentamos a preocupação com a coerência e o diálogo entre conteúdo e forma,
Somos pesquisadoras ligadas à uma Universidade Pública Brasileira, dessa forma, as ações que realizamos
no âmbito acadêmico estão baseadas no princípio da indissociabilidade entre pesquisa, ensino e extensão
(Brasil, 2016). Buscamos, a partir disso, integrar essas frentes possíveis de atuação para afinar os laços com
a sociedade, dentro e fora da Universidade, entendendo que esse compromisso é ético, político e estético.