Danças familiares pretas: Notas sobre a aprendizagem da Dança de São Gonçalo de Amarante
Victor Hugo Neves de Oliveira
Florianópolis, v.2, n.44, p.1-21, set. 2022
primos, netos de Mestre Sales e Dona Santana
.
Ambos se encontravam extremamente desajeitados diante das câmeras, um
tanto temerosos e tímidos. Por isso, apresentei a eles as questões que seriam
formuladas antes de iniciar a gravação. De acordo com os relatos, Nino começou
a participar da Dança de São Gonçalo de Amarante com sete anos de idade.
Naquela ocasião, ele integrava o grupo mirim. Atualmente ele é figura do grupo
jovem e, por vezes, participa do grupo adulto. Seu aprendizado se deu no ambiente
da própria casa, onde seu avô, Mestre Sales, lhe apresentou os primeiros passos
da dança. Em seu depoimento, Nino afirmou que aprendeu a dançar com o auxílio
do seu avô, com a colaboração do seu irmão e dos seus primos: - “Aí, eu pegava o
passo e aprendia” (Santos A., 2015). Segundo a entrevista, sua primeira experiência
pública com a dança foi no Encontro Cultural de Laranjeiras, no ano de 2008.
Entretanto, relata que começou a dançar, de fato, aos sete anos de idade no
contexto familiar: aprendendo os movimentos, organizando gestualidades,
compreendendo espacialmente a brincadeira, conhecendo histórias sobre a
dança, dançando com Gonçalo no circuito familiar da Mussuca.
Por sua vez, Riquinho identifica, igualmente, o ano de 2008 como marco da
aprendizagem; afinal, como ele declarou: - “Eu aprendi a dançar foi com quatro”
(Santos H., 2015), o que situa o ano de 2008 como o início das atividades dos
meninos no Encontro Cultural de Laranjeiras, o lugar onde os dois começaram a
dançar para uma espécie de plateia. Além disso, ambos declararam que antes de
aprender a Dança de São Gonçalo, dançavam nas festas da família e da
comunidade. Nino afirmou gostar de dançar pagode, arrocha e forró, e Riquinho
declarou gostar de samba. Quando perguntados se a Dança de São Gonçalo que
eles fazem, tem um pouco dessas outras danças, Nino respondeu com muita
certeza: - “Tem. Tem um pouco do reggae no passo, tem o pulando. Só” (Santos
A., 2015). Perguntei a eles o que seria um dançador estiloso. Riquinho riu e Nino
respondeu: - “É o cara que pula mais, que rebola mais, que faz mais gracinha, é
isso” (Santos A., 2015). Questionei, então, se eles copiavam algum modelo de dança,
se existia algum dançador que eles admiravam e copiavam o tipo de brincar. Nino
No período da pesquisa, Mestre Sales era o patrão da Dança de São Gonçalo de Amarante e Dona Santana,
sua esposa, era a mariposa. Infelizmente, Mestre Sales faleceu em 2016. O posto de patrão foi sucedido por
seu neto, Mestre Neilton.