
Entre a atriz e a performer: a visibilidade feminina construindo um corpo em arte
Ronaldo Záphas (Francisco dos Santos) ; Isabela Augusto Rosa
Florianópolis, v.2, n.44, p.1-23, set. 2022
6 minutos
A performance intitulada
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trata sobre o aborto, outro assunto urgente
e necessário no nosso país, principalmente por ser recheado de estereótipos,
preconceitos e visões conservadoras, os quais invadem o espaço da liberdade da
mulher perante seu próprio corpo.
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é uma peça de performance que faz uso do sangue menstrual
dentro de banheiros masculinos e, preferencialmente, de banheiros
públicos, no sentido de que esses equipamentos culturais - eu considero
eles como equipamentos públicos - você não tem que pagar pra acessar.
Isso já se deu de diferentes maneiras, mas todas as vezes que eu fiz essa
performance nunca havia uma cobrança de bilheteria nos eventos e nos
contextos assim. Então, é uma performance que faz uso de sangue
menstrual próprio, dentro de banheiros masculinos pra estabelecer um
estado sensorial que pressiona as fronteiras impostas pelas diferentes
conjunturas globais relacionadas a direitos sexuais e reprodutivos de
corpos que têm útero. Alguns corpos podem ser vistos como colonizados
e como territórios ocupados por relações desiguais de poder. Então, é…
Essa seria uma espécie de sinopse desse trabalho (Rosa, 2021, p.63).
Até o presente momento, o ato é considerado crime no Brasil, indo na
contramão de vários países latino-americanos que já descriminalizaram o aborto,
como, por exemplo, Uruguai, Cuba, Guiana, Guiana Francesa, Porto Rico e, mais
recentemente, Argentina.
Existem algumas cláusulas na lei brasileira que permitem o aborto, em certas
situações, como em casos de estupro, mas isso não garante que, na prática, essas
mulheres (muitas vezes crianças) possam fazer isso de maneira segura e íntegra.
Muitas vezes, elas são expostas, rechaçadas e ridicularizadas pela mídia, pelos
médicos e manifestantes apoiados em discursos religiosos. É o caso de uma
menina de dez anos, recentemente exposta a uma situação humilhante no
hospital em que estava, para realizar o procedimento, o qual era permitido pela
lei:
O local se tornou campo de batalha. Um grupo, baseado principalmente
em preceitos religiosos, se opôs ao direito legal da menina de realizar a
interrupção gestacional terapêutica. Vídeos deram conta de agressões
verbais aos profissionais de saúde presentes. Outro grupo foi ao local
com o objetivo de manifestar apoio à menina e a seu direito de
interromper a gravidez (Assessoria..., 2020).