Notas sobre o Teatro do Oprimido nas universidades brasileiras: Possibilidades e impasses
Hayaldo Copque
Florianópolis, v.2, n.44, p.1-23, set. 2022
do Rio de Janeiro (PUC-Rio) intitulada
Teatro do Oprimido: revolução ou rebeldia?
em 1991 e, de acordo com levantamento realizado junto ao Banco da CAPES por
Altieri (2012, p.251), trata-se do primeiro trabalho de dissertação ou tese produzida
no Brasil sobre o TO. Ainda durante os anos 1990, Nunes passa a ministrar
disciplinas sobre o Teatro do Oprimido no Instituto de Psicologia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), inclusive formando curingas, segundo ela mesma
pontua
.
No entanto, é só a partir dos anos 2000 que o TO passa a ser inserido de
forma mais manifesta nas universidades brasileiras, ainda que com movimentos
mais circunscritos ao âmbito das pós-graduações nos primeiros anos. Segundo o
mesmo levantamento de Altieri, se, na década de 1990, foram encontradas apenas
seis teses ou dissertações no Brasil com os temas “Augusto Boal” e/ou “Teatro do
Oprimido” (ou seja, nem todas necessariamente sobre o TO), na década seguinte
esse número tem um aumento considerável e salta para 37. Na visão da professora
e pesquisadora Jussara Trindade, o alinhamento de fatores macro e micropolíticos
foi fundamental para o incremento da presença do TO nas universidades nesse
início de século:
Foi apenas a partir dos anos 2000 que, com um novo interesse pelo
Teatro do Oprimido que emergiu na esteira dos movimentos sociais
estimulados pelo governo Lula, e o ingresso dos coringas do CTO [Centro
de Teatro do Oprimido] em cursos de pós-graduação (sobretudo,
mestrado e doutorado), é que foi possível assistir ao início de um novo
momento, de diálogo concreto e produtivo entre o discurso acadêmico e
as práticas do Teatro do Oprimido. Bastaria um rápido olhar para
constatarmos o fato de que, desde os anos iniciais deste século, obras
de Boal têm aparecido regularmente nas bibliografias de concursos para
docentes no ensino superior e nas redes públicas de ensino (municipais
e estaduais), assim como também nas provas para cursos de pós-
graduação em Teatro e Artes Cênicas realizados nas universidades
brasileiras. Mais ainda: vem emergindo daí um campo de investigação que
se estende para além da esfera propriamente artística e alcança o
patamar educacional, de formação não somente de atores, mas,
também, de não-atores “interessados em dizer algo através do teatro”,
incluindo-se, aqui, profissionais de distintas áreas como pedagogia,
comunicação, saúde, ciências sociais e outras (Trindade, 2016 apud
Mattos, 2016, p.329).
“Em 94, eu entrei pro Instituto de Psicologia da UFRJ, comecei a trabalhar Teatro do Oprimido [...] e, em 97,
eu ocupei uma disciplina que era um laboratório de animação de grupos, que era com outra ementa, mas
durante anos eu trabalhei 150 horas por semestre de Teatro do Oprimido, formei curingas lá [...]” (Live, 2021).