Atravessamentos sensíveis da obra Corpo e(n)cena: ensaios urgentes
Andrio Robert Lecheta
Florianópolis, v.1, n.43, p.1-10, abr. 2022
sobre corpos anularem suas posições, sensações, percepções e emoções durante
uma escrita que solicita uma sensibilidade desafiadora.
Através de um convite para a um processo de afetar-se, o primeiro ensaio
“Pele, poro, pó ou rios de sangue desaguando em doces corações em meio à
ventania. Somos. O começo de tudo ou o viver como poesia”, assinado por Sônia
Machado de Azevedo, imerge o corpo do leitor em uma introdutória poética
autoficcional, apresentando a infância da autora como o tempo de um corpo em
que tudo, brincadeiras, mergulhos no rio e quedas do cipó, já era dança. Sua escrita
científica-afetiva se atenta à urgência dos corpos em retornarem ao processo de
sentir a vida pulsante em suas veias, se emocionarem e se perceberem vivos.
Humanidade.
Este ensaio aponta as complexidades da convivência humana rasgada e
enrijecida pelas redes sociais e pela violência, mas se propõe a pensar um “corpo
mundo”, “corpo-muitos” ou “corpo imensidão”, rascunhando silhuetas de um lugar
em que todo corpo é possível de criar a si, fazer-se e, talvez, a partir das
experiências das artes da cena, se desembrutecer. A escrita nesse capítulo traz
Laban para a conversa e desenha uma cartografia sensível que constrói uma
travessia afetiva para se pensar a pluralidade dos corpos no mundo, na vida e na
arte.
A partir de uma abordagem histórica do contexto político brasileiro, Luciana
Mizutani e Renato Ferracini, no ensaio seguinte, “Arte de guerrilha”, pensam os
corpos coletivizados poeticamente enquanto armas revolucionárias. Há uma
intencional construção de relação entre o contexto político atual e o da ditadura
militar, escancarando as similaridades através de obras artísticas produzidas em
cada momento. Aponta-se que “a arte de guerrilha faz referência historicamente
a algumas obras de alguns artistas durante a ditadura militar brasileira, contudo,
são reconhecíveis estruturas análogas na contemporaneidade” (Mizutani; Ferracini,
2020, p.64). O ensaio conta com análises políticas e afetivas da obra
Girl with
ballon
, de Banksy, e dos espetáculos Esparro do Coletivo Dz6,
Chicos, Chicos
da
Escuela Metropolitana, de Arte Dramática Isidro Casanova, e Internas, da
Universidad del Salvador. Espetáculos apresentados no FITUB – Festival
Internacional de Teatro Universitário de Blumenau em 2016. As reflexões aqui