Considerações acerca do Tempo: Contribuições de Bergson e Deleuze aos estudos da performance
Manolo Kottwitz
Florianópolis, v.1, n.43, p.1-26, abr. 2022
tensões e deslocamentos no corpo e, num contexto mais amplo, do corpo em
relação à memória, ao tempo, à matéria e aos agenciamentos maquinados neste
encontro. Ao longo da ainda recente história da arte da performance, encontramos
alguns artistas que experimentaram práticas em performance duracional como,
por exemplo, Tehchin Hsieh e suas Performances de um ano
e Marina Abramoviç,
que executou com Ulay a ação
Os Amantes: A caminhada da grande muralha
para
marcar o término de seu relacionamento amoroso. Estes exemplos se referem a
ações que apontam para um dos extremos de uma ideia de performance
duracional, ou seja, a máxima dilatação de uma ação no tempo e no espaço. Mas
há também outras manifestações de performance que apontam para a máxima
contração de uma ação no tempo e no espaço, como na performance
A Natureza
da Vida
, da artista brasileira Fernanda Magalhães, que em uma ação de poucos
minutos, em locais escolhidos, a artista adentra o espaço, despe-se, fotografa-se,
veste-se e sai.
Para contextualizarmos nossas incursões teóricas sobre a arte da
performance duracional e os conceitos de Bergson (1999; 2005a; 2005b) e Deleuze
(1988; 2002; 2006; 2012) como duração, devir, memória, tempo e espaço,
evocaremos o artista Francis Alÿs
e sua performance
Às vezes fazer alguma coisa
não leva a nada
, realizada em 1997 no México. Optamos por exercitar nossas
leituras a partir de Francis Alÿs e esta performance específica, pela questão
substancial do tempo, desse tempo da performance que produz uma trama de
muitos outros tempos, mas também pelo seu caráter comunitário eminentemente
Tehching Hsieh desenvolveu, entre 1978 a 1986, uma série de cinco performances de um ano. Em cada uma
delas o artista se comprometia, via termos assinados por ele, a cumprir determinada condição por um ano,
como na primeira performance da série, por exemplo, Hsieh construiu uma jaula em seu
apartamento/estúdio, dispondo apenas de uma cama, uma pia com espelho e um penico para as
necessidades. Durante um ano ele não poderia falar, escrever, ouvir música, ler, assistir televisão, etc. O
artista contratou um amigo para levar comida e periodicamente permitia visitações do público.
Em 1989, a artista sérvia Marina Abramoviç e seu então companheiro e também artista, Ulay, realizaram esta
performance para marcar o término de seu relacionamento amoroso. Cada um partindo de um extremo da
Grande Muralha, caminharam até encontrarem-se no meio para uma última despedida. Em 2010, o casal se
reencontra em outra performance de Marina, chamada
O Artista Está Presente
, que foi realizada no MoMA
em Nova Iorque, EUA, na qual ela e Ulay compartilharam um minuto de silêncio e olhares.
Francis Alÿs, nome artístico de Francis De Smedt, nasceu na província da Antuérpia, Bélgica, em 1959,
formado arquiteto por instituições de ensino superior na Bélgica e na Itália. Em 1986 vai para a capital do
México participar de um projeto do governo belga de auxílio às vitimas do terremoto que assolou o México
em 1985. Decide estabelecer-se no pais e naturaliza-se mexicano, passando a trabalhar como artista desde
então.